Nota prévia:
Para ouvir os poemas de Sophia (os recitados e os cantados), há que aceder à página
http://nossaradio.blogspot.com/2014/07/celebrando-sophia-de-mello-breyner.html
e clicar nos respectivos “play áudio/vídeo”.
Celebrando Sophia de Mello Breyner Andresen
Sophia fotografada em 1940.
Capa do livro “Sophia de Mello Breyner Andresen: Uma Vida de Poeta” (Editorial Caminho, 2011), catálogo da exposição que esteve patente na Biblioteca Nacional, de 26 de Janeiro a 30 de Abril de 2011. «Na minha infância, antes de saber ler, ouvi recitar e aprendi de cor um antigo poema tradicional português, chamado Nau Catrineta. Tive assim a sorte de começar pela tradição oral, a sorte de conhecer o poema antes de conhecer a literatura. Eu era de facto tão nova que nem sabia que os poemas eram escritos por pessoas, mas julgava que eram consubstanciais ao universo, que eram a respiração das coisas, o nome deste mundo dito por ele próprio.»
Sophia de Mello Breyner Andresen (excerto inicial de “Arte Poética V”, in “Ilhas”, Lisboa: Texto Editora, 1989)
ASSASSINATO DE SIMONETTA VESPUCCI
Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen (in “Coral”, Porto: Livraria Simões Lopes, 1950; “Obra Poética I”, Lisboa: Editorial Caminho, 1990 – pág. 194)
Recitado pela autora (in EP “Sophia de Mello Breyner Andresen Diz Poemas de Sua Autoria”, col. A Voz e o Texto, Decca/VC, 1959)
Homens
No perfil agudo dos quartos
Nos ângulos mortais da sombra com a luz.
Vê como as espadas nascem evidentes
Sem que ninguém as erguesse — de repente.
Vê como os gestos se esculpem
Em geometrias exactas de destino.
Vê como os homens se tornam animais
E como os animais se tornam anjos
E um só irrompe e faz um lírio de si mesmo.
Vê como pairam longamente os olhos
Cheios de liquidez, cheios de mágoa
Duma mulher nos seus cabelos estrangulada.
E todo o quarto jaz abandonado
Cheio de horror e cheio de desordem.
E as portas ficam abertas,
Abertas para os caminhos
Por onde os homens fogem,
No silêncio agudo dos espaços,
Nos ângulos mortais da sombra com a luz.
Maria â