NESTE DIA… Em 8 de Setembro de 1938, nasceu José Torres, o «bom gigante»

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José Torres nasceu em 8 de Setembro de 1938 em Torres Novas (morreu em Lisboa no dia 3 de Setembro de 2010) foi um antigo jogador de futebol do Benfica e da selecção. Jogava na posição de avançado e ficou conhecido como O Bom Gigante. Quando da sua morte, João Machado publicou no blogue Estrolabio o texto Lembro-me do José Torres, que recuperamos e transcrevemos.

Lembro-me tão bem do José Torres. Dos golos que ele marcava de cabeça e com os pés. De como ele jogava no campo todo. Quando o Benfica tinha a bola ele metia-se sempre na área, para cabecear, para a baliza ou para servir um companheiro. Quando a equipa sofria um canto, metia-se sempre entre os defesas centrais, para saltar com os avançados adversários e afastar a bola. Depois arrancava e ia pelo campo fora, abrindo as pernas, com passadas enormes (abria o compasso, dizíamos nós os espectadores), perseguindo a bola, para lançar o ataque.

O José Torres ainda hoje é o jogador do Benfica (e de todo o campeonato português) com mais golos marcados de cabeça, mais do que o José Águas. 116 ao todo, vi no site oficial do Benfica. Preparava-se sempre muito cuidadosamente, para tirar partido das suas características físicas. Saltava muito bem, de tal modo que o Otto Glória dizia que ele chegava a cabecear a bola a mais de três metros de altura. E também jogava muito bem com os pés.

Na selecção lembro-me quando, em Inglaterra em 1966, o José Torres marcou à Rússia o golo que nos deu a vitória no jogo e o terceiro lugar no campeonato do mundo, mesmo no final do jogo. Foi com o pé, ao Iachine, que alguns dizem que foi o melhor guarda-redes de todos os tempos. E lembro-me de o ver a jogar com a Itália, no Jamor. Perdemos 2-1, e o Torres pouco jogou, apertado entre dois italianos da mesma estatura que ele, muito possantes. Um deles era o Facchetti, um dos melhores defesas centrais (e defesa esquerdo) de todos os tempos. Mas os dois também não avançaram no terreno ao longo de todo o jogo, para não lhe dar espaço. Os golos da Itália, que tinha acabado de ser vice-campeã do mundo, no campeonato de 1970 no México, foram marcados em contra-ataque.

Mas a melhor recordação que tenho do José Torres, foi quando ele já estava a jogar no Vitória de Setúbal. E num jogo com o Benfica, julgo que na Luz, que vi na televisão. A certa altura, o Manuel Bento, guarda-redes do Benfica (extraordinário guarda-redes, diga-se), sempre nervoso e exuberante, sai da baliza e vai a correr até meio campo, protestar com o árbitro, que estaria a prejudicar o Benfica (não me lembro como era a jogada). Pois o José Torres agarrou-o e levou-o de volta até à baliza, bem seguro. E era só ver o Manuel Bento (também infelizmente já falecido), agarrado por um jogador da equipa adversária, a ficar muito sossegado. Só lhe faltou dar um abraço ao José Torres. Choveram os aplausos do público para este lance futebolístico, injustificadamente esquecido pelos amantes do futebol.

Lembro-me também do caso Saltillo. Portugal tinha-se apurado para a final do campeonato do mundo de 1986 no México, após a vitória sobre a Alemanha em Estugarda (1-0, golo de Carlos Manuel). O José Torres era o seleccionador nacional, e foi sem dúvida um dos esteios desse apuramento. Em Saltillo, local do México onde estava alojada a selecção nacional, estoirou um conflito entre responsáveis da Federação e jogadores, ao que julgo saber, por causa dos dinheiros dos patrocínios. A bronca foi tal que o José Torres, que era sem dúvida o menos culpado, se demitiu. Pagou por todos os outros. Apesar dos anos que passaram, continua a ter interesse apurar a verdade, até para prevenir incidentes idênticos (ao que vemos, saiu o Scolari, e voltámos ao mesmo). E para fazer justiça ao José Torres, que bem merece.

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