“LISBOA MÍTICA E LITERÁRIA”, UM LIVRO ESSENCIAL SOBRE A CAPITAL por Clara Castilho

Lisboa Mítica e Literária, livro do escritor espanhol Angel Crespo, editado em 1990, pelos Livros Horizonte, é um livro que nos relata a história da cidade, desde os seus primórdios até aos dias de hoje.

Angel Crespo nasceu em Espanha, em 1926. Destacou-se como poeta, crítico literário e tradutor. Foi um estudioso da obra de Fernando Pessoa.  Faleceu em Barcelona em 1996.

 Lisboa Mítica e LiteráriaAngel Crespo

Ao longo deste livro, vamos sentindo os bairros da cidade de Lisboa e os seus labirintos. Vamos percorrendo os tempos históricos da cidade, desde as suas origens míticas, à sua conquista, a casa de Avis, os Braganças, o sebastianismo, a República e o Estado Novo. Vamos passeando pela cidade, pela Baixa, as colinas orientais, os bairros ocidentais, a zona ribeirinha. Vamos sentindo a presença do fado eda nossa forma de viver a saudade.

Apercebemo-nos como o autor conhece bem as obras dos escritores portugueses que falaram de Lisboa: Fialho de Almeida, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Luís de Camões, Eugénio de Andrade, Lima de Freitas, Oliveira Martins, Rui Aragão, Eduardo Lourenço, Teixeira de pascoais, Camilo Castelo Branco.

 

“Lisboa é, na realidade, “minha senhora velida”, minha Bela Senhora das Urbes. Não ando, pois, muito longe deste sentido, e neste sentir, de dois poetas portugueses, de Fernando Pessoa e de Gustavo de Matos Sequeira, o primeiro dos quais crê que todas as coisas têm alma, e demonstrou nos seus versos e na sua prosa conhecer bem a desta cidade, enquanto o segundo assegura que “as cidades são mulheres” e que “cada uma tem a sua maneira própria de agradar”[…. ] Curiosa e irrepetível mescla de mimos e atraentes rudezas a que se acrescenta, sem esgotar as suas componentes, o enigma do metafísico e do imaginário, pois a vida espiritual de Lisboa é, para os que chegam a conhecê-la e senti-la, o mais atraente e inquietante dos seus encantos.

[….] Lisboa não é cidade que se presuma de grande, de rica, de aristocrática, nem sequer – o que me parece um excesso de modéstia – de bela. Só que a sua beleza não é de modo algum vulgar. Já se sabe: desce até ao rio de degrau em degrau e vai descalça, mas os seus pés, como o das varinas, recordam-nos a melhor estatuária grega.

[… ]com semelhante clima, Lisboa convida o passeante como poucas cidades de entre as muitas que tenho vindo a conhecer. Não é, no entanto, uma cidade turística no sentido grosseiro e vulgar da palavra. A Lisboa, se se quiser conhecê-la, há que a explorar, palmo a palmo, há que ousar perder-se nas suas ruas e pracetas, há que ir descobrindo as suas sinuosidades, as suas asperezas e os seus inchaços, há que abordar de surpresa – para o caminhante e para a cidade – os seus recantos mais íntimos….”

 Um livro interessantíssimo que urge republicar.

Leave a Reply