AS PAREDES PODEM SER DESTRUÍDAS MAS HAVERÁ SEMPRE UMA FORMA DE MANIFESTAR OS PENSAMENTOS – A CENSURA À REVISTA “ANÁLISE SOCIAL” por clara castilho

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Desde que me lembro pessoa inquieta e curiosa, que a revista Análise Social faz parte da minha vida. Muitos artigos contribuíram para me formar enquanto cidadã. É importante a longevidade da revista, mantendo a mesma qualidade de análise e de intervenção a que se propôs.

Na semana passada o diretor do Instituto que a edita, o de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, José Luís Cardoso, suspendeu-a, depois de se encontrar disponível on-line. O que quer dizer que a ela podemos ter acesso… (http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/AS_212_EV.pdf ou http://www.esquerda.net/sites/default/files/as_212_ev.pdf).

Lembrando o tempo da inquisição, os exemplares já existentes foram destruídos.

Razão? Então não é que contêm “linguagem ofensiva”? E essa linguagem é a que cobre alguns muros da cidade de Lisboa! Será que os vão apagar? Como irão apagar as diversas formas em que as críticas ao governo, a políticos, a banqueiros são feitas?

Ricardo Campos escreveu o ensaio A luta voltou ao muro. O director da revista, João de Pina Cabral, considera que se tratou de um acto de censura. analise social 2

 As pessoas continuarão a manifestar o seu descontentamento nas paredes.

Já na antiga Roma o grafitti foi uma forma de expressão que era utilizada nas paredes de suas construções como cartazes e nelas escreviam com carvão palavras proféticas, manifestações de protesto e acontecimentos públicos. Nos anos 70, em Bronx (Nova Iorque, EUA), isto foi repescado pelos jovens, agora já com sprays, ficando as paredes mais coloridos e ricas visualmente.

Mas o movimento dá voltas e gera paradoxos. Por exemplo, artistas como Keith Haring transpuseram as suas obras clandestinas para galerias e colecções particulares dos Estados Unidos, colocando a questão da legitimação desta forma de arte.

Foi levado ao Parlamento, em Junho de 2013, uma proposta de lei que prevê sanções para quem pintar graffiti ou afixar cartazes sem autorização da autarquia, em que as multas podem ir dos 100 aos 25 mil euros. No entanto, teriam de ser as autarquias.a tomar a última palavra, pelo que teremos regras diferentes nos vários locais do país. Caso o decidam isso tornará obrigatória a requisição de uma licença à câmara municipal, a que competirá autorizar, ou não, o projecto. Depois disso, nada se tem dito sobre o assunto. Sabemos que os critérios são diferentes segundo as câmaras. Por exemplo, em Lisboa, existem espaços tutelados pela Galeria de Arte Urbana (GAU), afecta à Divisão do Património Cultural da CML criada em 2009, onde é impulsionada a actividade de graffitiwriters, com o objectivo de promover os “discursos plásticos presentes na cidade, dentro de um quadro autorizado”,

Há decisões políticas cuja burrice custa caro. Esta é uma delas. Veio de um membro da Academia Universitária que bajula quem detém o poder. Mas é um decisão sem efeitos práticos e cujo resultado se vira contra quem a praticou.

 

 

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