A ALEMANHA, O SEU PAPEL NOS DESEQUILÍBRIOS DA ECONOMIA REAL- O OUTRO LADO DA CRISE DE QUE NÃO SE FALA – UMA ANÁLISE ASSENTE NA DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO[1] – VI – A ALEMANHA E O INVESTIMENTO: UMA POTÊNCIA COM OS PÉS DE BARRO – por ONUBRE EINZ – 2

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Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

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A Alemanha, o seu papel nos desequilíbrios da economia real- o outro lado da crise de que não se fala

Uma análise assente na divisão internacional do trabalho[1]

Uma colecção de artigos de Onubre Einz.

VI – A Alemanha e o investimento: uma potência com os pés de barro

Onubre Einz, L’Allemagne et l’investissement: une puissance aux pieds d’argile

Criseusa.blog.lemonde.fr., 6 de Junho de 2013

(continuação)

A-1 –Lógicas gerais do investimento.

1) O investimento em valor

A formação bruta de capital fixo (FBCF) divide-se em dois sectores:

1º A formação bruta de capital fixo (FBCF) das administrações públicas (Governo) inclui a administração do Estado federal, sub-federal, (Lander’s ou Estados federados) e das administrações locais e Kreisfreie Städte ( cidades e distritos livres) também chamadas Stadtkreise (distritos urbanos) em certos Lander’s (Bade-Wurttemberg, Brême, Berlin et Hambourg).

2° A FBCF privada reagrupa o conjunto dos investimentos privados que incluem os investimentos produtivos, a formação dos stocks e os investimentos residenciais (habitação).

Onubreinvestimento - I

Primeira evidência, a FBCF privada aumentou muito pouco na Alemanha entre 1992 e 2002. Ela parou depois de 2000 e só recupera em 2005. Segunda prova, a formação bruta de capital fixo das administrações públicas estagnou entre 1992 e 2012 e ela teve mesmo uma tendência à queda entre 1992 e 2004, tendo sido retomada em 2005.

O ponto interessante é apenas o de poder encontrar um facto que nos interessa na nossa comparação da Alemanha com os Estados Unidos: o aumento da desigualdade de rendimentos sob Schröder coincide com a queda da FBCF privada depois de 2000 e com uma erosão da FBCF pública até 2005.

Os nossos dados confirmam-nos no entanto que podemos ir mais longe. Na verdade, a FBCF privada, combina elementos muito díspares e as evoluções da FBCF pública não permitem mostrar que a crescente desigualdade de rendimento conduziu à pressão sobre o investimento público. Esta queda de investimento dá-se desde 1992, ou seja, antes do aparecimento das desigualdades do início do século XXI.

Onubreinvestimento - II

A análise da Formação Líquida de Capital Fixo (FLCF) não resolve a questão que acabámos de levantar, mas esta coloca-nos perante uma pista interessante.

A FLCF, resultante da formação bruta de capital fixo menos a depreciação, parece muito clara na análise das duas curvas em que se mostra que a Alemanha acumulou cada vez menos capital fixo adicional desde há 20 anos. O capital fixo é adicional quando a diferença entre a FBCF e depreciação ou consumo de capital fixo produz uma FNCF positivo. O enfraquecimento da FLCF implica que o capital fixo acumulado ou capital social aumentou ligeiramente na Alemanha.

No caso da FLCF das administrações públicas (governo) esta acumulação tem tido a tendência de estar em queda continuamente. Sob Schroeder, houve mesmo destruição líquida de capital fixo público alemão –as infra-estruturas deixaram de ser renovadas, permaneceram as mesmas em volume e começaram a deteriorar-se por falta de uma simples renovação na mesma escala.

No caso da FLCF privada, a queda é significativa, esta diferença acontece sobre Schroeder e é moderadamente corrigida por Merkel.

Portanto, a acumulação de capital fixo caiu na Alemanha.

Esta queda no investimento revela dois fenómenos:

(a) uma acumulação de capital fixo – privado e público – baixa e, consequentemente, um stock de capital fixo a aumentar muito fracamente na Alemanha e

(b) um nível de investimento muito baixo para desenvolver uma elevada acumulação de capital.

Estes são os dois sinais característicos da influência de um aparecimento dos altos rendimentos sobre o investimento de um país. Este efeito não se contenta em limitar o crescimento do rendimento do resto da população, pois também afecta o investimento. O momento da subida vertiginosa do rendimento dos mais ricos sob Schröder e a evolução negativa do investimento em activos fixos da Alemanha traz água para o moinho da nossa tese. Mas os indicadores que aqui utilizámos a este nível de análise são demasiado toscos. Pode-se facilmente defender a tese de uma pressão de rendimentos elevados sobre a queda do investimento público, mas os dados de investimento privado devem ser analisados mais de perto para validar esta tese e, por outro lado, a queda do investimento público é de antes dos anos de Schroeder. Nós vamos voltar a este tema.

2) O investimento em taxa do PIB

O investimento medido em termos de taxa do PIB permite perceber a medida do esforço da Alemanha a favor do investimento.

2-a – As administrações públicas

Onubreinvestimento - III

Se considerarmos a formação bruta e líquida de capital fixo, então aparecem aqui dois resultados importantes.

1 ° é evidente que apesar da reunificação, a Alemanha consagrou sempre menor parte da sua riqueza ao seu investimento público. A taxa de FBCF cai ao longo de vinte anos

. 2 ° a taxa de formação líquida de capital fixo do governo em geral conhece o mesmo destino. A Alemanha negligenciou sempre nacionalmente os seus investimentos públicos adicionais, realidade esta que é cada vez mais evidente.

As taxas de acumulação de capital fixo brutas e líquidas, portanto, arrastaram consigo uma estagnação do stock de capital fixo pelas administrações públicas. Ou para o dizer de uma outra forma, uma baixa taxa de acumulação de capital líquido de governo resultou em 20 anos num baixo desenvolvimento do stock de capital fixo. Aqui encontramos um efeito da divisão desigual do rendimento produzindo taxas de acumulação de capital fixo e de um stock de capital insuficiente. Mas é claro que este fenómeno é anterior aos anos de Schroeder.

2 – b O sector privado

Onubreinvestimento - IV

A acumulação de capital privado permite-nos ter uma outra ideia da fraqueza do esforço nacional dos alemães para o investimento.

A FBCF continua a cair ao longo dos últimos 20 anos. Este declínio acelera-se com os anos de Schroeder; esta formação de capital fixo é corrigida marginalmente, no início do reinado de Merkel (2006-2008), e sofre depois de 2009 os caprichos da crise.

A queda da FLCF é ainda mais perturbadora. A taxa de acumulação privada conhece uma queda histórica, marcada por uma aceleração sob Schroeder e uma certa correcção sob Merkel. Mas no geral a fraqueza da FLCF leva a uma fraca progressão do stock de capital acumulado de capital fixo.

3-a A sub-acumulação de capital: taxa de acumulação e capital acumulado.

A queda das taxas de acumulação de capital e a falta de crescimento do capital acumulado permitem-nos dizer duas coisas:

1 ° na Alemanha há uma sub-acumulação crescente de capital tendo como corolário

2 ° um stock de capital fixo que cresce lentamente.

Se a relação entre a queda da taxa de FBCF e da FLCF das administrações públicas permite falar sobre uma possível influência de uma absorção excessiva de riqueza através de altos rendimentos influenciando negativamente as duas taxas, é difícil fazer o mesmo com o investimento privado, cuja diversidade requer uma análise mais detalhada nas suas componentes.

(continua)

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Para ler a Parte 1 de A Alemanha e o investimento: uma potência com os pés de barro, de Onubre Einz, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

A ALEMANHA, O SEU PAPEL NOS DESEQUILÍBRIOS DA ECONOMIA REAL- O OUTRO LADO DA CRISE DE QUE NÃO SE FALA – UMA ANÁLISE ASSENTE NA DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO[1] – VI – A ALEMANHA E O INVESTIMENTO: UMA POTÊNCIA COM OS PÉS DE BARRO – por ONUBRE EINZ – 1

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[1] O título dado à  colecção é da responsabilidade do tradutor.

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Ver o original em:

http://criseusa.blog.lemonde.fr/2013/06/06/iii-lallemagne-et-linvestissement-une-puissance-aux-pieds-dargiles/

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