A ECONOMIA DA FINLÂNDIA SOFRE DE ESTAGNAÇÃO SECULAR? – por EDWARD HUGH – I

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Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

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A economia da Finlândia sofre de estagnação secular?

Edward Hugh, Is Finland’s Economy Suffering From Secular Stagnation?

 A Fistful of Euros, 27 de Março de 2015

“Depois da Grande Depressão, a estagnação secular parecia ser uma invenção da imaginação dos economistas… é ainda muito cedo para dizer se este será também o caso depois da actual Grande Recessão. No entanto, os riscos de estagnação secular são muito maiores nas economias deprimidas da zona euro do que nos Estados Unidos, devido a sua demografia ser menos favorável, de haver menor crescimento da produtividade, devido ao facto de que o fardo da consolidação orçamental e de o BCE estar apenas preocupado com a baixa inflação.”

A economia da Finlândia tem atraído muito interesse ultimamente. E não pelas boas razões, infelizmente. A economia de um país anteriormente conhecida por ser a de país altamente colocado no “Ease of Doing Business Index” do Banco Mundial tem estado sujeita pelo terceiro ano consecutivo a uma contracção da sua produção. Um país famoso por ser um símbolo da ” ultra-competitividade ” (vem colocado em 4º lugar na última edição do índice de competitividade Global WEF) está agora a tornar-se no exemplo emblemático de um outro menos louvável fenómeno: o fenómeno da estagnação secular. As origens da teoria da estagnação secular encontram-se no economista americano Alvin Hansen (ver aqui) que foi quem primeiro utilizou a expressão na década de 1930. A marca da estagnação secular, disse ele, é uma série de doentias “retomas da economia que morrem quase à nascença e de depressões que se alimentam a si-mesmas e deixam um núcleo forte e aparentemente rígido de desemprego.” Isto parece encaixar –se com a situação actual da Finlândia e na perfeição.

Depois da crise global, a economia parecia estar a recuperar, mas depois da segunda recessão da zona Euro, a economia do país nunca mais foi capaz de voltar a levantar a cabeça.

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Na verdade o PIB definha ainda em cerca de 5% abaixo do pico de 2008.

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O desemprego, por outro lado, manteve-se teimosamente alto e – em 9,1% – recentemente passou e ultrapassou o valor de pico verificado com a crise.

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Hansen considerou que o grande impulsionador do crescimento económico dos Estados Unidos antes da década de 1930 tinha sido o crescimento da população. Dado o facto de que ele esperava que a população dos EUA caísse, não irrealisticamente, chegou à conclusão de que “nós então iremos rapidamente assim entrar num mundo em que precisaremos de ter um avanço mais rápido da tecnologia do que no passado se procuramos encontrar oportunidades adequadas de investimento privado para manter o pleno emprego….”

Hansen pensou que o avanço tecnológico poderia estimular o investimento para preencher a lacuna deixada pela falta de crescimento natural do investimento. Na sequência de Adam Smith, ele reconheceu que a “taxa de investimento” é condicionada pela extensão do mercado (ou antes sobre a taxa de expansão da “extensão do mercado”), mas se a população estava a descer, ao invés de aumentar, o incentivo para investir como antes se fazia deixa de existir, dado que o mercado não está a aumentar em “extensão”. Assim, a tecnologia e a inovação tornaram-se mais, e não menos importantes, tal como com a situação que enfrentamos agora.

Hansen estava errado acerca da dinâmica demográfica – ele não previu o baby boom do pós guerra, como também não o previram os demógrafos em que se baseou. (Para mais informações sobre este ver Richard Easterlin, “The American Baby Boomin Historical Perspectiv”, 1962). Mas se olharmos para a situação com que nos confrontamos hoje, há muito menos incerteza sobre as perspectivas da população nos próximos 10 a 20 anos, especialmente quando se trata de trabalhar a dinâmica do envelhecimento da população. A partir da experiência no Japão parece que o importante é que o mais relevante em termos de efeitos macroeconómicos é a população em idade activa e não é o total da população que mais importa. O declínio da inflação/deflação correlaciona-se muito mais fortemente com a dinâmica da população em idade activa do que com a política monetária. (Ver do antigo governador do Banco do Japão Masaaki Shirakawa, http://www.boj.or.jp/en/announcements/press/koen_2012/data/ko120530a1.pdf )

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Na verdade, a população da Finlândia em idade activa atingiu o seu valor de pico em 2010, e desde então tem estado a diminuir rapidamente. Então aqui encaixa admiravelmente a imagem descrita por Hansen:

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E de facto a economia finlandesa está agora a começar a aproximar e em muito da deflação.

edwardhugh - VI (continua)

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Ver o original em:

Edward Hugh,  Is Finland’s Economy Suffering From Secular Stagnation?. Texto editado por  A Fistful Of Euros – European Opinion    e disponível em:

http://fistfulofeuros.net/afoe/is-finlands-economy-suffering-from-secular-stagnation/

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