UMA CARTA DO PORTO – Por José Fernando Magalhães (84)

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UMA NOVA RUA NA CIDADE
MAIS UMA OPORTUNIDADE PARA FAZER BEM

Já aqui falei na Fonte das Ratas e na Flecha dos Mortos. Mais uma vez, e por causa da rua que estão a construir, venho falar delas.
A Fonte das Ratas era uma fonte que existia na Ribeira da Granja e se situava onde hoje está um tanque nas traseiras do Parque de Serralves. Com a colação de tubos subterrâneos na Ribeira, desapareceu.
A Flecha dos Mortos ficava mais ou menos no final das traseiras de Serralves, perto da Fonte das Ratas. A estrada que agora estão a construir, e que unirá os bairros de Pinheiro Torres e da Pasteleira, passa por lá.
Se o povo ainda chama Viela dos Mortos àquele espaço, do local da Flecha, já não há rasto.
Na altura, estávamos em pleno Cerco do Porto (1832 – 1833), tinha o nome de Vale do Mata-Sete, não sabendo este escriba a razão de tal nome. Aqui, junto às matas da Pasteleira e às trincheiras de Marechal Gomes da Costa e ao forte de Serralves, era o local do reduto da Flecha dos Mortos, afecto aos Liberais, onde ficou imortalizado José Estêvão, que se notabilizou no papel de soldado, orador parlamentar, político, jornalista, professor e advogado. Nas lutas entre Liberais e Absolutistas, e em especial em 4 de Março de 1833, quando as tropas Realistas atacaram em força as posições do Pinhal e do Pasteleiro, toda a zona ficou pejada de cadáveres, mas os soldados do Marechal Saldanha saíram vencedores. As águas límpidas da Fonte das Ratas serviram para lavar feridas e matar a sede aos combatentes.
Com o projecto da Câmara Municipal do Porto, teme-se (temem alguns Portuenses, entre os quais me incluo) que a memória destes dois lugares, desapareça por completo, a exemplo do que aconteceu com a calçada da Flecha dos Mortos, com o Farol das Três Orelhas, ou com a Capela de São Francisco Xavier (que hoje já ninguém sabe o que foram, onde estavam, ou para que serviam), para só falar em casos que dizem respeito à Freguesia de Lordelo do Ouro. Quantos outros casos não teremos nós espalhados pelo Porto.

Viela dos Mortos
Viela dos Mortos

Desloquei-me ao local, e fui informado pelo Engenheiro da obra, muito simpática e pormenorizadamente, que durante as obras de construção da nova estrada não será tocado o muro da Casa Agrícola de Serralves, nem o seu portão Sul, sendo que por isso, o tanque que ainda existirá e que está no antigo local da fonte das Ratas não será destruído. Acredito que a informação que me foi fornecida não tenha sido unicamente para desviar a atenção que manifestei pelo assunto. Estarei, como é evidente, atento!

Planta da zona intervencionada onde a "escuro" se vê a rua que se está a construir e também a Norte desta, o muro de Serralves que não será tocado. Portão Sul de Serralves. Muro de Serralves
Planta da zona intervencionada onde a “escuro” se vê a rua que se está a construir e também a Norte desta, o muro de Serralves que não será tocado.
Portão Sul de Serralves.
Muro de Serralves

Mas, mesmo que o muro não vá ser tocado, destruído ou danificado, a essência da História da cidade do Porto vai por certo ser mais uma vez mutilada se não se aproveitar esta oportunidade soberana para reabilitar a memória deste local.
Será de difícil entendimento que a Câmara Municipal do Porto, através do seu Presidente e do seu vereador da Cultura, para além da abertura do novo arruamento, que inclui um projecto para a requalificação do espaço envolvente, com modelação do terreno, plantação de árvores e arbustos, sementeira de relvados e implantação de um sistema de regas, para além de novas redes de águas e de iluminação pública, não coloque ali, placas alusivas à Fonte das Ratas, e em especial à Flecha dos Mortos, a acompanhar eventuais e desejáveis (diria mesmo, indispensáveis) monumentos, onde estejam descritas as Histórias dos locais, e as razões que levaram a serem conhecidos pelos nomes que tiveram.
Se assim o fizerem, passa a área a ser considerado (apesar de nunca o ter deixado de ser) de grande importância Histórica para a cidade, e passa também a ter interesse Turístico, provocando uma movimentação de gentes e um desanuviamento das condições de vida daquela zona, aumentando a segurança.
A obra, prevista para ter a sua conclusão em Outubro, irá, como disse anteriormente, ter a minha inteira atenção.

 

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8 Comments

  1. Interessante crónica.Apontando para as placas históricas e de referência à Flecha dos Mortos.Estaremos atentos…um abraço

  2. meu caro J.M (que não tenho o prazer de conhecer), numa reunião com o vereador do Pelouro do Urbanismo, para ser demonstrado o nosso desacordo perante este (antigo) projeto , no minimo , perante a nossa insistência contra tal projeto, foi-nos ” adoçada” a boca, com o desejo de se fazer um pequeno jardim com placa alusiva ao local e ao ato.
    Será feito ? …. Honestamente, não sei o que farão os homens que têm um animal dentro deles a devora-los.
    Abraç
    ZM

  3. O ideal seria esse jardim ( ou equivalente ) ficar perto da casa de Rebordão Navarro…sei lá, talvez onde se encontra a Portugália. Sempre tinha o Rio e as gaivotas que ele tão bem descreveu e cantou.
    Um abraço.

    JM.

  4. A água da fonte das Ratas era/é muito boa. Não era raro ver-se bichas de pessoas a aguardar a sua vez para recolher a água. Uma conhecida empresa de águas abastecia-se nessa fonte. Os moradores das redondezas assistiram a camionetas, com o marca da empresa, a transportar a dita água. Fizeram queixas e as autoridades taparam a fonte com tijolos. A fonte actualmente não se vê.

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