CARTA DO RIO – 48 por Rachel Gutiérrez

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Fiz uma tradução livre do trecho de um velho livro, Monsieur Ouine, escrito no Brasil e publicado na França em 1943, de Georges Bernanos, que se refugiou entre nós durante a Segunda Guerra Mundial e aqui fez grandes amigos como Alceu Amoroso Lima, Augusto Frederico Schmidt e Jorge de Lima, todos católicos, como ele.

 (…) Je n’ai jamais aimé que les routes. La route, elle, sait ce qu’elle veut… La belle route! la chère route! Vertigineuse amie, promesse immense! L’homme qui l’a faite de ses mains, pouce à pouce, fouille jusqu’au coeur, jusqu’à son coeur de pierre, puis enfin polie, caressée, ne la reconnaît plus, croit en elle. La grande chance, la chance suprême, la chance unique de sa vie est là, sous ses yeux, sous ses pas, brêche fabuleuse, déroulement sans fin, miracle de solitude et d’évasion, arche sublime lancée vers l’azur.  Il l’a faite, il s’est donné à lui-même ce jouet magnifique, et sitôt qu’il a foulé la piste couleur d’ambre, il oublie que son propre calcul en a tracé d’avance l’itinéraire inflexible…Qui n’a pas vue la route à l’aube, entre ses deux rangées d’arbres, toute fraîche, toute vivante, ne sait pas ce que c’est que l’espérance.

O que sempre amei foram as estradas. A estrada, essa, sabe o que quer… A bela estrada! a estrada querida! Vertiginosa amiga, promessa imensa! O homem que a fez com suas mãos, pedaço por pedaço, cavada até o coração, até seu coração de pedra, enfim depois polida, acariciada, não mais a reconhece, apenas acredita nela. A grande chance, a chance suprema, a única chance da sua vida está ali, diante de seus olhos, sob seus pés, brecha fabulosa, desdobramento sem fim, milagre de solidão e de evasão, arco sublime lançado no azul. Ele a fez, deu a si mesmo esse brinquedo magnífico, e assim que pisa a pista cor de âmbar, esquece que seu próprio cálculo havia traçado de antemão o itinerário inflexível…Quem nunca viu a estrada à luz da aurora, entre suas duas fileiras de árvores, puro frescor cheio de  vida, não sabe o que é a esperança.

 bernanos

Nota:

Georges Bernanos (1988- 1948) foi um escritor e jornalista francês. Tendo participado empenhadamente na vida política francesa, primeiro como soldado de trincheira na I Guerra Mundial e depois como repórter na Guerra Civil espanhola, após a derrota da França para os alemães, em 1940, e exilado no Brail, decidiu apoiar a ação da França Livre através de uma série de artigos de jornal, onde tomou posição contra o regime de Vichy, ao serviço da Resistência francesa.

Os seus livros Sob o Sol de Satã, de 1926, e Diário de um Pároco de Aldeia, de 1938, obtiveram êxito literário. Nelas explora a batalha espiritual do bem contra o mal.

Recusou por três vezes, a Legião de Honra e uma cadeira na Academia Francesa.

No Brasil, Bernanos escreveu Les enfants humiliésLettre aux AnglaisLe Chemin de la Croix-des-Ames e La France contre les Robots e terminou sua obra Monsieur Ouine, que publicou na França, em 1946.

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