Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Reino Unido: David, Ed, Nigel e os outros
O nº 10 Downing Street decidir-se-á sobre a Escócia ou sobre a Europa ?
Gil Mihaely, Royaume-Uni: David, Ed, Nigel et les autres – Le 10 Downing Street se jouera-t-il sur l’Ecosse ou l’Europe?
Revista Causeur.fr, 30 de Abril de 2015
A 7 de maio, os cidadãos britânicos vão às urnas. Vão eleger directamente os seus representantes para a Câmara dos Comuns em 650 círculos eleitorais e, portanto, indirectamente vão nomear o partido que vai liderar a coligação governamental e o próximo inquilino do nº 10 de Downing Street. De acordo com as sondagens, a uma semana das eleições, os dois maiores partidos – trabalhistas e os conservadores – e os seus respectivos líderes – Ed Miliband e David Cameron – estão ombro a ombro. No geral, as relações de forças para o próximo Parlamento são difíceis de prever. A principal razão para uma tal incerteza é a transformação do bipartidarismo tradicional britânico num sistema pluripartidário. Certamente, a partir de 2010, os liberais-democratas Nick Clegg, com a força dos seus 22% dos votos, consentiram em fazer com os conservadores liderados por David Cameron um governo de coligação. Mas desta vez, nada menos que três outras formações – os separatistas do UKIP, o Partido Nacional escocês (SNP) e os verdes – são susceptíveis de eleger alguns deputados (uma façanha num sistema maioritário comparável ao da França), ou de pelo menos poder fortemente perturbar a batalha entre os trabalhistas e os conservadores em dezenas de círculos eleitorais, inclusive em algumas fortalezas de um ou de outro partido.
Os liberais-democratas, agora aliados dos conservadores, poderiam trocar de parceiros no caso – provável – em que Nick Clegg perca o seu lugar, deixando a direcção do partido para o muito crente e mais à esquerda Tim Titus. O UKIP e o seu líder Nigel Farage poderiam seduzir os eurocépticos enquanto o SNP – que reúne 4% das intenções de voto, se concentra naturalmente nos 59 círculos eleitorais da Escócia – são susceptíveis de infligir um golpe muito duro para o Partido Trabalhista, tradicionalmente bem estabelecido nesta região . Se se acrescenta a esta imagem, os verdes e a singularidade da Irlanda do Norte, quase que se deixa de ver claro nestas eleições. No entanto, para muitos, o desafio das eleições é reduzido à sua dimensão pessoal: Miliband ou Cameron. No entanto, quando nas sondagens se pergunta aos britânicos sobre as respectivas competências destes dois líderes para governar o país, o actual primeiro-ministro fica a ganhar. Ed Miliband sofre em contraste com a sua imagem de um homem um pouco distante, que tem dificuldade em comunicar com os outros.
Uma vez que é necessário uma guerra mundial para formar um governo de unidade nacional com sangue, com dor lágrimas e suor, não se pode excluir a repetição do cenário de 1974. Há quarenta anos atrás, depois de que a indecisão dos eleitores tinha produzido uma Câmara não encontrável em Fevereiro , o trabalhista de Harold Wilson dirigiu durante alguns meses um governo de minoria… até que as eleições antecipadas em Outubro lhe deram uma estreita maioria.
E adivinhem qual era o grande debate na época, do outro lado do Canal da Mancha? A realização de um referendo sobre a integração do Reino Unido na CEE, ou seja o problema da entrada na Inglaterra no processo de integração que levou depois à União Europeia. Quem disse que a história não voltava a lavar os pratos?
Gil Mihaely, Revista Causeur, Royaume-Uni : David, Ed, Nigel et les autres – Le 10 Downing Street se jouera-t-il sur l’Ecosse ou l’Europe?, Texto disponível em :
http://www.causeur.fr/david-cameron-miliband-farag-32600.html
*Photo : wikicommons.