Eles estão muito preocupados com a liberdade de informar! Ou nos estão a manipular, ou a natureza não é o que é. O leão só está preocupado com a sua liberdade para caçar gazelas. Não está preocupado em favorecer a liberdade das gazelas em lhe escapar. Os patrões (aqueles de quem se conhece o rosto) da comunicação social portuguesa – Plataforma dos Media Privados – foram em manife, tipo visita pascal, aos órgãos de soberania e partidos políticos manifestar a sua mais profunda e genuína preocupação com a liberdade de informação gravemente ameaçada por umas toscas regras enunciadas na Assembleia da República para a cobertura das próximas eleições! Aqui del rei que nos querem controlar, nos querem ameaçar, há um político que até já mandou um sms com veneno a um jornalista! Os Diretores e Chefes de Redação, disciplinadamente, também se manifestaram muito preocupados com as restrições ao tratamento jornalístico das campanhas.
Como cidadãos devíamos estar muito gratos por este acrisolado amor à liberdade por parte dos patrões dos media e dos seus directores. Bem-vindos ao grupo dos defensores da liberdade! Infelizmente nem tudo o que luz é ouro. Os dealers da droga também defendem o direito à felicidade, mas não é boa ideia acreditar na sua promessa nem na sua bondade.
A campanha dos patrões dos media é claramente manipuladora e quer inverter os dados do problema: eles são os paladinos da liberdade de informação – até investem os seus bens e capitais nessa generosa e patriótica tarefa de esclarecer os cidadãos, em vez de jogarem na bolsa ou colocarem as suas contas nos offshores! – e os políticos eleitos, que bem ou mal elegemos e podemos destituir, são os malandros que nos querem sonegar a boa informação, isenta e produzida com critérios jornalísticos (seja lá o que for que isto queira significar)! Mesmo que fosse com boas intenções e que os representantes eleitos fossem, ou sejam uns trastes, não deixava de ser uma inversão de funções. Elegemos representantes para o parlamento com a finalidade de regularem os nossos direitos em nosso nome. Não elegemos patrões de imprensa nem jornalistas. Os patrões dos media e os jornalistas devem sujeitar-se à lei e não substituí-la. A lei deve corresponder aos interesses dos cidadãos e não aos interesses dos patrões de jornais, rádios e televisões e aos seus directores.
Noam Chomsky, o cientista norte-americano, pai da linguística moderna, que ainda na semana passada participou num congresso na Gulbenkian sobre o papel das ciências sociais e humanas na sociedade e no conhecimento, alinhou 10 estratégias da comunicação social para manipular as massas, entre eles o da distracção, que pretende desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites. Outra das técnicas de manipulação consiste em criar problemas e depois oferecer soluções, um método também chamado “problema-reação-solução”. Também faz parte do cardápio da manipulação tratar o público como crianças, utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão. Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e limitar o sentido crítico.
A ideia que os patrões da comunicação social quiseram transmitir foi a de que os cidadãos estavam a ser roubados de um direito que é, na realidade, a obrigação de comerem a informação decidida pelos patrões dos media.
É evidente e incontestável que a liberdade de informação, uma imprensa livre é condição indispensável à democracia. Mas são vários os direitos que estão em causa: o direito a ser informado, o direito à expressão, à fala, o direito a ser escutado, a ter uma audiência, o direito à diversidade, o direito ao respeito pela autodeterminação, pela capacidade de avaliar e de decidir. Deve, ou devia ser esta conjugação de direitos dos cidadãos que os patrões dos media e os directores se referem como “critérios jornalísticos”. Mas esta Plataforma de Media Privados e os directores e chefes de redacção inclui os patrões e os directores produzem, segundo os seus critérios os programas de deliberada imbecilização a que assistimos, são os que, no dizer de Noam Chomsky tratam os cidadãos – que tanto agora dizem respeitar – como idiotas, como crianças, como um rebanho nos seus programas de grande audiência, nas suas telenovelas, nos seus concursos, nos seus espectáculos. Tudo a bem do lucro e acima de tudo do lucro, das sacrossantas audiências.
Liberdade é a palavra talismã de todos os manipuladores de opinião em democracia. Esta plataforma de defensores dos critérios jornalísticos para a cobertura das campanhas defende a liberdade dos jornalistas seus empregados definirem o que os cidadãos devem saber, ou ignorar sobre as propostas dos seus futuros governantes. São os mesmos que defendem, como liberdade alguns dos seus concidadãos serem expostos numa gaiola à curiosidade da turba, que defendem a liberdade de exibir (e ganhar dinheiro com isso) os comportamentos humanos mais próximos dos instintos básicos da animalidade, da reprodução, da alimentação e da luta pelo poder entre machos dominantes num dado grupo de primatas. São os mesmos que vivem à custa de rifas feitas através de telefonemas de valor acrescentado. São os mesmos que vivem de crimes e facadas, da sordidez mais abjeta nas primeiras páginas. São que utilizam como comentadores políticos correligionários partidários e cartomantes, videntes como salvadores dos aflitos, doentes dos amores ou da penúria. São os mesmos que desrespeitam direitos elementares de cidadania, como o direito ao bom nome, à presunção de inocência. São os que fazem campanhas ad hominem, que calam ilícitos de amigos ou de influentes e poderosos, o que permitiu escândalos de proporções assombrosas como os do BPN e do BES, por exemplo.
Celebra-se agora o centenário de Orson Welles, o realizador de Citizen Kane, inspirado na influência do grande patrão da imprensa americana William Randolph Hearst na definição de políticas e comportamentos nos Estados Unidos nos anos 30. Citizen Kane foi traduzido para português com o título: O Mundo a seus pés, na realidade deveria ser A liberdade a seus pés. Ou nos seus bolsos. Orson Welles pagou caro a ousadia de desmontar a manipulação dos patrões da comunicação social. Mesmo sendo considerado um génio, após Citizen Kane, nunca mais conseguiu ser contratado por um grande estúdio de Hollywood. Coincidências.
Por fim, para quem está tão preocupado com a nossa liberdade de informação, porque não divulga a dita Plataforma dos Media Privados a lista dos accionistas de cada um dos seus órgãos? Ficaríamos a ter a oportunidade de saber a quem agradecer tão denodada defesa da liberdade de informação!
O PCP emitiu muito recentemente um comunicado sobre o alvoroço detonado pela tentativa legislante do bloco central e seu penduricalho mais direitinha, cujo ele visa, antes de mais, a eliminação da lei eleitoral vigente, por demais incómoda, pois comete o pecado anti-(neo)liberal – que não anti-democrático – de impor aos “media”, ao menos nos períodos de campanha eleitoral, o acatamento de um dos princípios mais elementares da Democracia: o da igualdade de todos os que se submetem à escolha dos cidadãos e, nomeadamente, das condições de difusão pública das suas ideias e propostas, desde que não violem a Constituição. Este rebuliço acolheu, de imediato, o suspeitíssimo apoio do velho de Belém, que decretou o “anacronismo” de legislação em vigor, do alto da inteligência, cultura e antecedentes de “luta pela Democracia” que bem conhecemos e incluem a concessão a dois inspectores da PIDE de uma pensão, “por serviços excepcionais e relevantes”, que recusou a Salgueiro Maia…
Em quantos órgãos de comunicação social tal comunicado do PCP teve algum destaque? Que tenha notado, só no jornal “Público” e no “sítio” da TVI24 (não juro que na emissão televisiva, mesmo no recato do “cabo”)… Suspeito que a sua divulgação e, até, análise e debate – por apresentar a novidade de uma argumentação à revelia do espalhafato maioritário – não cabe nas “opções editoriais” dos acérrimos “defensores da liberdade de expressão” que CMG tão bem descreve. O que acrescenta às certeiras considerações do seu artigo uma exuberante prova dos exíguos limites do conceito de liberdade de expressão que estas tão subitamente açodadas criaturas, na realidade, transportam nas pétreas mentes.
Este movimento de falsas virgens ofendidas defende reiteradamente uma coisa chamada “critérios jornalísticos”, que pretendem que presida a todas as “escolhas editoriais” de suas excelências, os directores e chefes de redacção, tudo gente preclara, isenta e sumamente esclarecida, jamais vendida ou submissa aos desejos e interesses dos patrões, ou até simplesmente incapaz de perceber que está a ser manipulada pela insídia do “pensamento dominante”, recheado da palha podre de inúmeras e “indiscutíveis” falsas “evidências”, que quase todas estas criaturas degustam com o prazer e a plácida inconsciência de um burro esfomeado devorando cenouras de primeira. Sobre os “critérios jornalísticos”, que seriam o Santo Graal da “liberdade de expressão” demandada por tais democratas, escreveu Oscar Mascarenhas, o grande mestre do jornalismo há pouco desaparecido tão prematuramente, na sua coluna de provedor do leitor do DN, não fazer ideia do que fosse, definindo, a seguir o que, de facto, significava: a arbitrariedade circunstancial e infundamentada de um qualquer responsável editorial de turno, acreditando-se ungido de um qualquer discernimento transcendente e alado (não se trata de uma citação “sic”, mas de uma adaptação minha).
Daí a importância deste tão esclarecedor artigo de CMG e da atenção que deve merecer, por parte de todos os que não se deixam confundir com arraiais desta laia.
O PCP emitiu muito recentemente um comunicado sobre o alvoroço detonado pela tentativa legislante do bloco central e seu penduricalho mais direitinha, cujo ele visa, antes de mais, a eliminação da lei eleitoral vigente, por demais incómoda, pois comete o pecado anti-(neo)liberal – que não anti-democrático – de impor aos “media”, ao menos nos períodos de campanha eleitoral, o acatamento de um dos princípios mais elementares da Democracia: o da igualdade de todos os que se submetem à escolha dos cidadãos e, nomeadamente, das condições de difusão pública das suas ideias e propostas, desde que não violem a Constituição. Este rebuliço acolheu, de imediato, o suspeitíssimo apoio do velho de Belém, que decretou o “anacronismo” de legislação em vigor, do alto da inteligência, cultura e antecedentes de “luta pela Democracia” que bem conhecemos e incluem a concessão a dois inspectores da PIDE de uma pensão, “por serviços excepcionais e relevantes”, que recusou a Salgueiro Maia…
Em quantos órgãos de comunicação social tal comunicado do PCP teve algum destaque? Que tenha notado, só no jornal “Público” e no “sítio” da TVI24 (não juro que na emissão televisiva, mesmo no recato do “cabo”)… Suspeito que a sua divulgação e, até, análise e debate – por apresentar a novidade de uma argumentação à revelia do espalhafato maioritário – não cabe nas “opções editoriais” dos acérrimos “defensores da liberdade de expressão” que CMG tão bem descreve. O que acrescenta às certeiras considerações do seu artigo uma exuberante prova dos exíguos limites do conceito de liberdade de expressão que estas tão subitamente açodadas criaturas, na realidade, transportam nas pétreas mentes.
Este movimento de falsas virgens ofendidas defende reiteradamente uma coisa chamada “critérios jornalísticos”, que pretendem que presida a todas as “escolhas editoriais” de suas excelências, os directores e chefes de redacção, tudo gente preclara, isenta e sumamente esclarecida, jamais vendida ou submissa aos desejos e interesses dos patrões, ou até simplesmente incapaz de perceber que está a ser manipulada pela insídia do “pensamento dominante”, recheado da palha podre de inúmeras e “indiscutíveis” falsas “evidências”, que quase todas estas criaturas degustam com o prazer e a plácida inconsciência de um burro esfomeado devorando cenouras de primeira. Sobre os “critérios jornalísticos”, que seriam o Santo Graal da “liberdade de expressão” demandada por tais democratas, escreveu Oscar Mascarenhas, o grande mestre do jornalismo há pouco desaparecido tão prematuramente, na sua coluna de provedor do leitor do DN, não fazer ideia do que fosse, definindo, a seguir o que, de facto, significava: a arbitrariedade circunstancial e infundamentada de um qualquer responsável editorial de turno, acreditando-se ungido de um qualquer discernimento transcendente e alado (não se trata de uma citação “sic”, mas de uma adaptação minha).
Daí a importância deste tão esclarecedor artigo de CMG e da atenção que deve merecer, por parte de todos os que não se deixam confundir com arraiais desta laia.