Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
AINDA A ROTATIVA A IMPRIMIR PAPEL-MOEDA
A tirania das castas de mercadores
Auran Derien, ENCORE LA PLANCHE A BILLETS! – La tyrannie des castes marchandes,
Revista Metamag.fr, 27 de Março de 2015
A oligarquia ocidental está a ficar sem projectos, ou melhor, está a ficar sem ideias. Não há nenhum projecto para a Europa, apenas as ideias portadoras de destruição prosperam.
A última ideia da oligarquia retoma a metodologia “do maná celeste”, a criação monetária. Mario Draghi, o presidente do Banco central europeu (BCE) depois de 1º de Novembro de 2011, seguiu a prática do Japão, que por seu lado estava ligado às ordens de Wall Street obnubilado pelo culto do ídolo dólar. Ele esperará até lançar um novo Quantitativo Easing em 2017. A ditadura das castas de mercadores leva-nos sempre ao nada de civilização.
Duas ou três coisas que se sabem
Quando por fim se compreendeu que os economistas “lyssenkistas” mentem, e que as suas ideias não têm mais interesse do que os discursos da era leninista, ficam-nos duas ou três coisas que se devem levar a sério:
1. A guerra das moedas deita muito fumo. Numerosos bancos centrais aceleraram a emissão monetária, assim como o observa o relatório trimestral do BRI. Por exemplo, a Dinamarca, a Suíça, a Suécia, a Índia (4 de Março), Singapura (28 de Janeiro), a China (4 de Fevereiro), etc. O Banco Central Europeu começou este mês a inundar de liquidez os bancos da zona euro comprando os títulos públicos que estes detêm.
Os efeitos previsíveis são dois: a desvalorização da divisa cuja produção se acelera e a baixa das taxas de juros, tornadas negativas em diversos países. Ora, “a pilhagem” das populações pelos oligarcas ocidentais reduz por toda a parte os rendimentos do trabalho. As exportações europeias não poderão aumentar apesar da baixa da taxa de câmbio do euro dado que a procura externa está estagnada. Quando aos produtos importados, serão mais caros. A livre-troca obscurantista que os membros da Comissão de Bruxelas impuseram à Europa já terá destruído o essencial da indústria na Europa. Poucos produtos se poderão exportar, muitos se importam. O resultado global não será positivo para as populações.
2. O sistema bancário, cujos balanços são totalmente artificiais, vive apenas da especulação. A actividade principal consiste em obter lucros para os accionistas do banco sem estar a criar nenhum valor para a sociedade. As figuras prognatas da oligarquia que descrevia Thorstein Veblen antes da guerra de 1914 estão pois de regresso. Os predadores estão na posse da economia ocidental e esperam bem convencer os asiáticos para que os imitem a viver assim durante séculos. O paraíso na terra, para os agiotas, não é precisamente esta barbárie tranquilamente afirmada?
3. A política de resgate dos títulos existentes por uma instituição privada, quando esta detém o monopólio da criação monetária, não relança nenhuma economia. A actividade produtiva assenta sobre o financiamento de investimentos novos, o que se designaria – retomando uma expressão apreciada pelo economista Jacques Bichot – a distribuição de verdadeiros direitos. O início de toda a criação de riqueza bem fundada encontra-se na qualidade dos projectos financiados a crédito. Os organismos que beneficiam do direito de distribuir do crédito a partir de nada devem apoiar-se sobre o estudo de rentabilidade esperada dos investimentos que pensam apoiar, e esperam que o beneficiário os reembolsará. A sequência positiva e correcta sempre foi esta. O crédito financia o investidor que paga aos seus empregados e os seus consumos intermédios, vende o produto acabado e reembolsa o crédito que lhe foi concedido. Mario Draghi e outros mandantes não têm de modo algum a intenção de relançar a actividade que, em todo caso, supõe um nível de protecção pautal para evitar os dumping estrangeiros bem como uma justa remuneração dos assalariados e da colectividade, o que os políticos bloqueiam ou mesmo negam dado que estão ao serviço do poder financeiro.
O maná celeste é necessário à globalização totalitária
O mais importante contudo é compreender que o maná da criação monetária ao serviço de uma oligarquia se justifica através do projecto totalitário de dominação do planeta “pelo soviete da finança”. A moeda emitida enriquece os bancos, os fundos financeiros e aumenta a desigualdade em detrimento dos assalariados que não vêem a mais menor migalha. Estas instituições financeiras – e os accionistas que as detêm – podem comprar todas as empresas que desejam, seguidamente deslocalizar o que mais lhes apetecer.
O maná celestial em proveito dos oligarcas financeiros favorece o terror do Império que reforça sempre mais o seu poder tanto directamente quanto indirectamente enquanto a população se tem de endividar para sobreviver*. Os financeiros não se preocupam com o bem-estar geral. Procuram compradores de créditos podres, de produtos derivados. Os Estados sobre-endividados, apoiados pelas práticas de Q.E., reencontram novos meios para continuar a política de precariedade das suas populações. Mais dinheiro ao Estado francês hoje, é mais dinheiro para “o genocídio” das populações europeias, para o embrutecimento mediático, para a crueldade escolar. É mais dinheiro para a barbárie.
Auran Derien, Revista Metamag, ENCORE LA PLANCHE A BILLETS!
La tyrannie des castes marchandes. Março de 2015. Texto disponível em :
http://metamag.fr/metamag-2784-ENCORE-LA-PLANCHE-A-BILLETS-.html
*sabe-se que, a partir do estudo do Institut Polytechnique de Zurich publicado em 2011, que em 2007, quando começava uma nova crise, 18 entidades financeiras controlavam a economia global, a saber: Prudential Financial ; Morgan Stanley ; Citigroup ; Bank of America ; State Street Corp. ; Goldman Sachs ; Bear Stearns ; Lehman Brothers ; T. Rowe Price ; UBS AG ; Deutsche Bank ; Credit Swiss ; Commerzbank ; Franklin Resource ; Barclays PLC ; JP Morgan Chase &Co.; Merril Lynch ; Axa. (com a crise de 2007, Bear Stearns e Lehman Brothers desapareceram, comprados por entidades deste grupo).