NÃO DEIXAMOS DE CAMINHAR* – por Soares Novais

A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela afasta-se dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” 

A frase é de Eduardo Galeano, jornalista, escritor e humanista uruguaio, que faleceu no passado dia 13 de Abril. (Galeano tinha 74 anos e deixou-nos sem aviso prévio. Como sempre, ou quase sempre, acontece aos melhores de nós.)

Imagem1A frase, esta frase, do autor de “O Teatro do Bem e do Mal”, – – titulo deste seu livro que reúne as suas reflexões sobre o estado mundo no final do século XX e início do século XXI – aplica-se por inteiro a todos os amantes do Teatro que participaram na realização deste 31º Festival de Teatro Amador de Valbom.

 Aqueles que o organizaram – a Escola Dramática e Musical Valboense; e os autores, actrizes, actores, encenadores, cenógrafos, assistentes de palco, sonoplastas, caracterizadores e técnicos de iluminação que tornaram possível a sua realização num país, e num mundo!, dominado por banqueiros sem alma, servidos por atentos, venerados e zelosos cumpridores das suas ordens.

 Entre o dia 11 de Abril e hoje, dia 6 de Junho, esta bela sala da “Escola Dramática” voltou a ser umImagem2 Teatro recheado de público que riu, reflectiu e sempre aplaudiu as peças apresentadas pelo Grupo de Teatro Renascer; “Os Plebeus Avintenses”; Teatro Experimental de Mortágua; Teatro Passagem de Nível; insKené, jovem grupo de Gondomar; Teatro Olimpo; Grupo Dramático e Recreativo de Retorta; Companhia Teatral de Ramalde; e, hoje, a Companhia de Teatro Água Corrente, de Ovar, que nos ofereceu este “Cousas de Deus e do Diabo” – o título genérico que atribuíram a “O Auto da Índia” e a “Farsa do Velho da Horta” de Gil Vicente, o pai do Teatro Português, e cujo nome ali está, em cima, nesta sala maior desta nossa Escola.

Agradecemos a todos eles a sua participação e pedimos-lhe que, apesar de todas os cortes, farsas e vilania continuem a fazer Teatro, pois só assim continuaremos:

 – a ser educados e a divertir-nos pelo humor;

– a expor-nos e a libertar-nos pelo amor;

– a dar nota das tragicomédias do mundo;

– a dizer que a política é a cidade tomada pelos cidadãos.

 Como agradecemos, também, a Monteiro de Meireles, Adelino Cardoso, Leandro Vale, (actor e encenador que aqui trabalhou e que, tal como Galeano também partiu em Abril sem aviso prévio) e a Domingos Castro o terem feito desta Escola Dramática e Musical Valboense um palco de sonhos, que nos faz caminhar.

“Pelo sonho é que vamos”, alerta-nos o grande poeta Sebastião da Gama.

 E é! É pelo sonho que juntos, Escola Dramática e público, já caminhamos para a realização do 32º FETAV.

Viva a Escola Dramática.

VIVA O TEATRO!

 

Soares Novais – Texto escrito para assinalar o encerramento do 31º FETAV – Festival de Teatro Amador de Valbom.

 

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