EDITORIAL – No Dia de Portugal

Imagem2Hoje é o festivo Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. Já foi o Dia da Raça – mas nós agora já não somos racistas… pois ser racista é politicamente incorrecto. É mesmo humanamente inaceitável. O racismo é uma aberração.  Mas há outras incorrecções igualmente condenáveis, como por exemplo, acumular fortunas através de actos de corrupção… Mas falemos um pouco sobre o poema nacional, aquele que o actual chefe de Estado ignorava quantos cantos tinha – o livro, isso ele sabia, tem sempre quatro cantos, o superior esquerdo, o superior direito…

É no Canto IV que Camões percorre a História de Portugal desde o interregno e a crise de 1383.1385, detendo-se no «sonho profético» de D. Manuel I, no qual lhe é revelado o caminho marítimo para a Índia, segredo que transmite a Vasco da Gama. É um exemplo do «politicamente correcto» naquele último quarto do século XVI em que um rei bipolar preparava uma aventura que iria pôr em causa tudo o que de acertado se fizera antes e até mesmo a independência nacional. O Velho do Restelo, não será o pessimismo personificado, mas a voz da razão apresentada de forma a que a loucura passasse por audácia.  O «politicamente correcto», com outros nomes, sempre existiu, pois significa politicamente conveniente,  ajustado à conveniência do poder dominante. Hoje em dia o conceito é um instrumento de repressão ao serviço da globalização e do pensamento único, conceito onde princípios como o da justa condenação da xenofobia e do racismo, do machismo e da homofobia, misturam a defesa dos direitos do Homem com o lixo do sistema e à cabeça a «tolerância». E temos de tolerar coisas intoleráveis, tolerando inclusivamente o racismo, a xenofobia, a pedofilia e a corrupção… porque neonazis, violadores, pedófilos e ladrões, sendo criminosos, são doentes e temos de ser tolerantes e carinhosos com os enfermos.  O politicamente correcto é um vade-mécum para conviver com o iníquo.

D. Manuel não foi um sonhador, mas sim um político pragmático que, sem preconceitos, soube aproveitar a obra do seu antecessor, D. João II, seu cunhado, e assassino de seu irmão. D. João II também não sonhou – organizou, investiu, concretizou. Foi talvez o melhor governante que Portugal teve nos seus 900 anos de existência como Estado. Mas Camões não podia elogiar um rei que, recebendo o apodo de Príncipe perfeito, era designado por o Tirano por uma nobreza que o rei, despótico, mas muito hábil e inteligente, metera na ordem, recorrendo ao cutelo, à forca e ao punhal. Afinal, D. Diogo, o duque de Viseu, que conspirava contra o rei, seu primo e cunhado e por este foi apunhalado, era antepassado directo  de D. Sebastião.  Camões, grande poeta, precisava de comer e a tença real não viria com elogios a uma figura que a nobreza amaldiçoara.

1 Comment

  1. Republicou isto em A Viagem dos Argonautas and commented:

    Hoje republicamos um editorial que o Carlos Loures escreveu há 4 anos, que continua muito actual. Goste-se ou não do que lá se diz, dá-nos matéria para pensar, não só na nossa história, mas também nos problemas que enfrentamos hoje em dia.

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