A IDEIA – MANUEL DE CASTRO ENTREVISTA D’ASSUMPÇÃO- pesquisa, transcrição e nota de Ruy Ventura

ideia1

D’ Assumpção é um artista cujo nome alcançou uma repercussão que em muito excede as fronteiras do nosso país. Os seus quadros participam de reputados museus e galerias (dentre os mais importantes, podem-se citar: “Galeria Muratore”, “Galeria Marcelle Dupuis”, “Museu Nacional de Arte Contemporânea”, “Soares dos Reis”, etc.) e são procurados por experimentados coleccionadores e organizadores de exposições, como constituindo uma das mais notáveis representações da pintura portuguesa contemporânea.

Tendo regressado há pouco de Paris, onde residiu durante largo tempo, para uma breve estada em Portugal, e encontrando-se actualmente patente na capital uma exposição sua organizada pela “Galeria Marcelle Dupuis”, é de evidente oportunidade registar algumas opiniões de D’ Assumpção, sem dúvida um pintor que ocupa excepcional posição na produção artística do momento.

Que pensa da actual pintura portuguesa?

Num país de heróis, todos se mantêm tímidos. A força existente em potencial não se revela. Quero com isto dizer que, embora válida e resultante dum esforço admirável, a pintura portuguesa permanece ignorada em virtude de circunstâncias alheias à própria arte.

Como situa o seu processo em relação aos diversos movimentos nas artes plásticas?

Os movimentos nascem e morrem e deles ficam apenas as obras mais sólidas, mais resistentes ao tempo. O que se expressa em pintura ou anti-pintura dá-me a medida do tempo próprio. Procurando tomar conhecimento das descobertas da minha época, não me considero no entanto comprometido com qualquer escola, mas sim com o homem – o HOMEM.

A anti-pintura. Qual o significado que lhe atribui?

Uma reinvenção do homem, liberto de pressões, independente de condicionamentos de qualquer ordem. A pintura é unicamente uma das múltiplas formas de realização da integridade humana.

Dos pintores?

Verifiquemos a distância entre um Atlan, que Claude Rivière considerava grotesco, entre um Raimond Hains, que generosamente não abandonou o Faubourg Saint Germain, e um Jacques Villon a 300 N.F. por mês, irmão de Marcel Duchamp, jogador de xadrez em Nova Iorque. Que pode significar a pintura em presença da anti-pintura?

E com esta pergunta, D’ Assumpção terminou as suas declarações.

 NOTA – Título: “D’ Assumpção (pintor português em paris): a anti-pintura é uma reinvenção do homem”, in Diário Ilustrado, Lisboa, 24/5/1962. Esta entrevista é antecedida por outro texto publicado no mesmo periódico, assinado por José-Luís Ferreira: “D’ ASSUMPÇÃO – No S.N.I., inaugurou-se, este mês, uma importante mostra de 9 quadros de Manuel D’ Assumpção (que, neste número de Diálogo, responde a uma entrevista de Manuel de Castro). A sua pintura, de uma luminosidade polícroma, sugestiva de um elemento vizinho (na mística de alcances espaciais-cósmicos, na ânsia de alturas, no dimensionismo, na base geométrica das parabólicas e tantas curvas cónicas, que se encontram nas infraestruturas de desenho dos seus quadros e na linha ogival, glosada por distorção) de um neogótico, de espírito arquitectónico. D’ Assumpção é um caso extremamente complexo da Pintura Portuguesa Contemporânea, ao lado de Bual, Pomar, Siqueira, Azevedo, Vespeira e outros, por demais mal estudados, confundidos nas escalas críticas. Indubitavelmente, vê-se nos seus quadros uma afirmação em ordem ao estilo e das persuasões conceituais de beleza estética. Se, porém, certos e indeterminados sectores lhe deram uma aceitação, limitada é certo, Paris ter-lhe-á reconhecido, como Nice e toda uma série tempestuosa de públicos, o valor que nós próprios lhe outorgamos – ele é uma das promessas da Pintura Portuguesa de hoje.

Imagem2

 

 

Leave a Reply