O FT desilude novamente: Francesco Giavazzi sobre a Grécia – por Karl Whelan I

Falareconomia1

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

 

O FT desilude novamente: Francesco Giavazzi sobre a Grécia

É a resposta italiana a Hans-Werner Sinn?

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Francesco diz que a Grécia deve ir embora

Com textos de opinião regularmente ao gosto de Hans-Werner Sinn e Niall Ferguson, o Financial Times na página de artigo de opinião está a ganhar uma reputação infeliz ao publicar verdadeiro lixo em matéria económica. Este novo artigo sobre a Grécia do professor italiano, Francesco Giavazzi, (“Greeks chose poverty, let them have their way”) (“os gregos escolheram a pobreza, deixemo-los sair à vontade”) talvez complete o lote com a sua combinação de imprecisão e de infelizes estereótipos nacionais .

Giavazzi reconhece que depois de “cinco anos de negociações que não conseguiram virtualmente nada” a UE estaria em bem melhor situação sem a Grécia. Este autor argumenta que o foco da EU sobre a Grécia levou a EU a não dar a devida atenção a outros problemas e conclui:

“Mas o euro não pode ser um substituto para uma maior integração política. Com efeito, sem uma tal integração, o euro não pode sobreviver — e hoje, a Grécia é um obstáculo a essa mesma integração. “

Quero aqui apresentar alguns comentários sobre a peça de Giavazzi, começando com a sua pretensão de que poucas reformas terão sido alcançados nos últimos cinco anos.

 

Não houve progressos em cinco anos ? Emprego público

A análise de Giavazzi sobre os últimos cinco anos na Grécia é como se segue:

They worry too little about an economy ruined by patronage.”

“Cinco anos de negociações em que praticamente nada se alcançou (as poucas reformas que tinham sido adoptadas, como por exemplo uma pequena redução no número de empregados do sector público, foi depois invertida pela coligação dirigida por Syriza ). É muito claro que os gregos não têm nenhuma vontade de modernizar a sua sociedade. Preocupam-se muito pouco sobre uma economia arruinada pelo clientelismo . “

 

Vamos primeiramente analisar um ponto bem especifico defendido pelo autor italiano, o de que a redução de funcionários do sector público foi pequena e que esta tendência se inverteu recentemente com Syriza.   O Relatório da Comissão Europeia sobre a Grécia do ano passado contém a tabela a seguir sobre o emprego público grego.

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O emprego total no sector público diminuiu de 907.351 em 2009 para 651.717 funcionários em 2014, uma descida de mais de 255.000 funcionários. Isso é uma queda de mais de 25%. Pode isto alguma vez ser considerada uma “pequena redução”?

E a inversão operada sob a coligação de Syriza? Os relatórios sobre o novo plano de recolocação do governo dizem-nos que este pode contratar trabalhadores “até 15.000”, um valor minúsculo em relação às anteriores reduções. Ou Giavazzi não conhece os números ou ele está simplesmente a jogar e a perder com eles.

Não houve progressos nestes cinco anos? Vejam-se os défices orçamentais

Um tema que percorre o texto de Giavazzi é o de que os gregos não têm estômago para tomar decisões difíceis e duras. Devemo-nos interrogar se as pessoas que pensam assim estão mesmo conscientes dos factos básicos sobre a dimensão do ajustamento orçamental a que os gregos foram sujeitos. Olhe-se para uma tabela abaixo publicada pela OCDE com os défices verificados à escala mundial. A Grécia reduziu o seu défice orçamental de 15,6 por cento do PIB em 2009 a 2,5 por cento em 2014, uma escala da redução de défice até hoje nunca vista em nenhum outro país .

Esta redução envolveu cortes maciços nas despesas públicas e estes cortes foram aplicados com o conhecimento de que a economia iria entrar em forte contracção do PIB. O professor Giavazzi é um dos que está agarrado à ideia de que as contracções orçamentais severas podem ser expansionistas. Porém, s experiências da Grécia e de outros países desacreditaram firmemente essa ideia. O povo grego teve que sofrer durante vários anos muito difíceis e os seus governos tomaram muitas decisões corajosas. Eles merecem bem mais do que serem tratados desta maneira nas páginas do Financial Times.

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Não houve progressos nestes cinco anos? As reformas estruturais

Ah sim, mas o que há sobre “as reformas estruturais da mais alta importância” tão amadas por cada um dos eurocratas? A Grécia é famosa pela sua burocracia que não favorece a actividade económica e que é dominada pelos interesses estabelecidos . Nada foi feito presumivelmente sobre esta matéria. Bem, o prof. Giavazzi pode acreditar que quase nada aconteceu mas há a evidência concreta que o governo grego empreendeu reformas nesta área que ajudarão a promover o crescimento. O relatório Doing Business 2010 classifica   a Grécia como o 109th melhor país no mundo em termos de desenvolver actividades económicas – uma baixa classificação. O relatório de 2015 classificou Grécia em 61º, uma subida de 48 lugares.

Isto ainda deixa a Grécia atrás do último no conjunto dos países europeus e há muitas áreas onde há umas oportunidades para a melhoria. Mas dizer que não houve nenhuma melhoria de todo, é simplesmente uma afirmação falsa.

Não houve progressos nestes cinco anos? As pensões de reforma

O quê sobre pensões? As histórias sobre as pensões de reforma desde muito cedo que parecem ter tido um grande impacto na atitude duríssima da população alemã face à Grécia, ao longo destes últimos anos. As pensões de reforma estão ainda em foco nas negociações em curso entre a Grécia e os seus credores mas esta é uma outra área onde a percepção difundida de que não houve nenhuma reforma é uma mentira .

Os governos gregos têm introduzido um número de reformas a longo prazo no seu sistema da pensões ao longo destes últimos anos. Vejam-se as páginas 39 e 40 do relatório 2015 Ageing Report da Comissão Europeia para uma descrição destas reformas.

O relatório também explica o impacto a longo prazo das mudanças no sistema de pensões que foram legisladas através da UE. O gráfico abaixo é retirado desse relatório. A linha azul mostra a idade média de passagem à reforma em 2060 se não houvesse nenhumas reformas no sistema de pensões e a linha vermelha mostra que a idade média de passagem à reforma sob os sistemas actualmente em vigor. A Grécia (indicada com as letras EL) passa de ter uma das mais baixas idades de passagem à reforma para ter uma das mais altas idades de passagem à reforma. Neste sentido, a Grécia assumiu a mais significativa reforma do seu sistema de pensões na   Europa ( e não foi rejeitado nos Tribunais como aconteceu em Itália com a reforma sob o sistema de pensões aprovado sob o governo de Monti.

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2015 Ageing Report De novo, esta é uma área onde as reformas são quase certamente de muito interesse . O que quer que aconteça sobre o longo prazo, as actuais taxas de actividade actual entre os grupos de mais idade na Grécia são muito baixas e precisam de serem tomadas medidas de ajustamento para enfrentar e resolver esta questão . Mas a ideia que até aqui não houve nenhuma reforma significativa é pura e simplesmente falsa.

Sem dúvida, globalmente, pode-se argumentar e de forma credível que os governos de Grécia têm conseguido uma reforma bem mais substantiva nos últimos anos do que os governos que pós Berlusconi geriram a Itália ou Mariano Rajoy em Espanha.

(continua)

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