CARTA DE LISBOA – E a Catalunha, senhores? – por Pedro Godinho

lisboa

 

Dia 11 de Setembro é a Diada, o dia nacional da Catalunha. Dia 27 de Setembro há eleições autonómicas na Catalunha.

As eleições antecipadas têm lugar no contexto das movimentações catalãs para a realização duma consulta sobre a independência que lhes tem sido negada, por todos os meios, inclusive a ameaça de intervenção militar, pelas forças espanholas.

As próximas eleições catalãs ganharam um carácter plebiscitário em favor do direito a decidir, com as forças nacionalistas catalãs a candidatarem-se em torno do processo a favor dum referendo democrático pela independência. Um resultado maioritário para essas candidaturas corresponderá a uma manifestação de desejo favorável à autodeterminação da Catalunha.

Os tradicionais partidos espanhóis, claro, são contra, embora o PS, agora, para tentar suster a queda na região, fale numa hipótese de autonomia federalista. O novo Podemos diz reconhecer o direito a uma consulta mas afirma favorecer a manutenção da autonomia catalã numa nova Espanha.

Um eventual processo independentista da Catalunha, por processo democrático e pacífico, poderá ser um dos acontecimentos contemporâneos de maior significado, nomeadamente na Europa. Mormente, para Portugal para quem não deveria ser indiferente o que possa contrariar a velha tentação expansionista de Castela.

Mas, parece, as forças políticas portuguesas, paroquialmente, mostram-se cegas, surdas e mudas face à questão. Todas pró-espanholas? A autodeterminação só é legítima se for ultramarina e não europeia?

3 Comments

  1. Invocar o que podem pensar os partidos portugueses é perda pura de tempo. Ao fim de tantos anos continuam numa atitude de reverência face ao colonialismo castelhano. Que podem merecer-nos? CLV

    1. Tens toda a razão, Pedro. Os partidos portugueses, da direita à esquerda, evitam a questão. O Estado espanhol roubou-nos o território de Olivença há mais de dois séculos – governos dos diversos partidos monárquicos, partidos republicanos, o Estado Novo, que mobilizou cerca de um milhão de homens para defender a «integridade territorial» em África, os governos pós-25 de Abril, todos têm manifestado a atitude cobarde de não colocar Olivença como condição sine qua non para a manutenção das relações diplomáticas com o Reino de Espanha. dir-se-á que não merece a pena criar um conflito por causa de um território insignificante. POis bem, esse território insignificante é 16 vezes maior do que Gibraltar e os governos monárquicos, franquistas, republicanos, democráticos de Espanha, nunca deixaram de o exigir à Grã-Bretanha. Se não exigimos a devolução do que nos foi roubado e é nosso à luz do direito internacional, como pomos esperar que haja uma atitude face à Catalunha, à Galiza ou ao País Basco? Não sei o que pensa a maioria dos oliventinos. Mesmo que os que querem ser espanhóis sejam uma maioria, nada impede que um território português seja povoado por uma maioria de estrangeiros. A grande maioria dos gibraltinos quer permanecer britânica. Quanto às independências e á fragmentação do Reino, foi José Sócrates que defendeu a estúpida ideia de que Portugal tem vantagem em estar ao lado de um Estado grande – ou seja, aplicou o princípio das «lojas âncora» – num centro comercial, a pequena sapataria tem vantagem de estar ao lado do Pingo Doce. Em suma, os catalães só podem contar com a sua força. E entre eles há gente «pragmática» que prefere ser espanhola. E destas cobardias, pragmatismos e «patriotrismos», vai sobrevivendo um reino de castanholas, touradas e pandeiretas. Olé!

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