MUNDO CÃO – NATO MOBILIZA-SE EM DEFESA DO ESTADO ISLÂMICO – por José Goulão

Mundo Cão

A seita terrorista e sanguinária conhecida por “Estado Islâmico”, que também poderá designar-se Al-Qaida, Al-Nusra e Exército Livre da Síria – tiradas a limpo as consequências da existência deste – deixou de estar impune. Praticamente incólume desde que há um ano o todo-poderoso Pentágono anunciou que ia fazer-lhe guerra, bastaram-lhe agora uns dias sob fogo cerrado russo para entrar em pânico. Ou a aviação e a marinha da Rússia têm mais pontaria que as suas congéneres dos Estados Unidos da América e da NATO, o que é bastante improvável tendo em conta que não existem discrepâncias de fundo entre as tecnologias de ponta ao serviço destas potências, ou a diferença está simplesmente entre o que uns anunciam e os outros fazem. Diferença simples, mas de fundo, entre ser contra o terrorismo ou ser seu cúmplice.

De acordo com dados divulgados por fontes moscovitas, a Aviação e os mísseis de cruzeiro disparados de navios da Armada da Rússia destruíram já 112 alvos do Estado Islâmico instalados em território sírio ocupado, danos que incluem centros de comando, centrais de comunicação, bases de operações antiaéreas, além de estarem a provocar deserções em massa e um ambiente de pânico entre os terroristas. Propaganda de Moscovo, dirão muitos, mas sem razão. A desorientação entre os mercenários recrutados através do mundo e infiltrados na Síria a partir do Iraque, da Jordânia e, sobretudo, da Turquia está à vista de quem tem olhos para ver, principalmente os espiões atlantistas, bastando-lhe acompanhar a guerra em directo transmitida pelos satélites.

Esta realidade parece ser tão crua que, para surpresa de tantos que ainda acreditam em histórias da carochinha, induz os dirigentes norte-americanos, incluindo Obama himself, a esquecer-se das aparências e a deixarem escapar uma sentida indignação com tanta eficácia russa, capaz de numa simples semana ter mais êxito que os seus exércitos num ano inteiro.

Será mesmo isto que os preocupa? Talvez não. O que os responsáveis políticos e militares dos Estados Unidos alegam é que os russos, ao fazerem uma guerra tão certeira contra o terrorismo, estão a “ajudar o regime de Assad”. De onde pode deduzir-se que eles tratam o terrorismo com meiguice para não ajudar Assad, se possível para conseguir até que os bandos de assassinos a soldo derrubem Assad. Não é novidade, aliás, porque Julien Assange e Edward Snowden o revelaram através do WikiLeaks, que os Estados Unidos e os seus parceiros da NATO decretaram em 2006 o derrube do presidente sírio. Pelo que, imagine-se o atrevimento, os russos não estão a combater criminosos sanguinários mas sim a desobedecer a um decreto emanado há nove anos pelos que se olham como senhores do mundo – e dos mercados, claro está.

Quando seria de supor, levando a sério o discurso antiterrorista que se ouve de Washington a Paris, de Londres a Bruxelas, que a NATO iria conjugar esforços com Moscovo para liquidar de vez o Estado Islâmico tanto na Síria como no Iraque, o que acontece? A aviação norte-americana provoca um banho de sangue num hospital dos Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão, certamente um albergue dos mais fanáticos islamitas; as forças especiais de operações do Pentágono para a Síria (CJSOTF-S), que têm estado no Qatar, receberam ordem de transferência para a base da NATO de Incirlik, na Turquia, de modo a acompanhar de perto o treino de terroristas a infiltrar na Síria, terroristas “moderados”, claro, assim definidos depois de uma exaustiva avaliação pelos profilers de serviço; análise essa tão exaustiva e competente que todo o grupo de assassinos cujo treino acabou em 12 de Julho se transferiu logo depois, com bagagens e armas, para a Al-Qaida, percebendo-se agora a irritação de Washington com a eficácia russa: lá se foi o investimento em tão acarinhados terroristas, sem dúvida uns “moderados” acima de qualquer suspeita. Como se não bastasse, a NATO prepara-se para reforçar o contingente de agressão na Turquia a pretexto de supostas violações do espaço aéreo turco por aviões russos, apesar de não se lhe ouvir um pio quando caças turcos fazem operações quase diárias na Síria há vários anos. Fica assim claro que a mobilização da NATO em território turco é em defesa do terrorismo islâmico, e não para o combater.

Ao mesmo tempo, a Arábia Saudita e o Qatar, aliados preferenciais da NATO, praticamente ao mesmo nível que Israel, perdem o amor a mais uns milhões de petrodólares para tentar rearmar o Estado Islâmico e outros do mesmo jaez, agora tornados vulneráveis pela ofensiva russa. Têm boas razões para isso, além de muitas cumplicidades: os grupos de mercenários activos na Síria e no Iraque gerem um mercado negro de petróleo através do qual se financiam e de que tiram chorudos lucros, como exportadores, não apenas as ditaduras do Golfo mas também Israel e a Turquia.

A ofensiva russa não acabou apenas com a impunidade do Estado Islâmico e outros bandos de mercenários; põe em causa a hipocrisia da guerra oficial “contra o terrorismo” proclamada pelos Estados Unidos e a NATO – que tem como exemplos mais trágicos as situações no Iraque, na Líbia e na Síria.

11 Comments

  1. E ainda acreditam no pai Natal… podiam estar um pedacinho mais informados… e no meio disto tudo talvez a Rússia ganhe um confronto direto… e descubra muitas coisas novas… senão anexam a siria em breve e o irão e Portugal…

  2. O terrorismo – promovido por interpostos grupos islâmicos fanatizados, e organizados, financiados, armados e treinados pela CIA – passou a ser desde os tempos de Bush, um instrumento e um argumento da política externa dos EUA, que assim se auto promoveu à categoria de Estado Terrorista. E esta estratégia iniciou-se com o atentado às Torres Gémeas, que serviu de pretexto para desendear a invasão do Iraque e matar Sadam Hussein..

    1. Pareces bruxo. E o pior disto tudo foram os cerca de 4000 americanos que morreram por acção da Al-Qaida, que por sua vez tinham sido recrutados, instruídos e armados pela CIA . Lamento tanto as suas mortes como a passividade dos americanos ao crime praticado pelo seu governo contra o seu próprio povo.
      Claro que o governo americano, assim como o português ou o europeu, mantém o povo na imbecilidade obscurantista da desinformação e com uns discursos e umas medalhas a título póstumo lá foram invadir, saquear e destruir os países árabes para beneficio de meia dúzia de banqueiros gananciosos. Ainda o que mais me espanta é o facto de em pleno século XXI os jovens se voluntariarem ou deixarem recrutar para morrerem e matarem por causas que não os beneficia e não são só jovens com a instrução primária, casos houve e certamente ainda existem em que os jovens se voluntariaram só para irem ganhar para poderem prosseguir os estudos.

  3. Já agora digam-me se souberem, qual a razão de não termos estes Jornalistas/Comentadores na nossa TV ; porque é que só temos que aturar toda a chafurdice de rauis vaz que abundam por aí a comerem à nossa conta?

    1. Porque mais cedo que tarde se veriam dispensados de sua carreira profissional já que, através dos Centros de Notícias toda a informação emitida na Europa é obrigatoriamente filtrada através destas desde os EUA controlado pelos “seus” Oligarcas, via Londres (sua Colónia ou vice-versa que dá no mesmo se atendermos que esses Oligarcas detêm a posse de ilhas privadas britânicas) e por arrastamento a toda a toda UE, onde felizes se passeiam sem impedimentos nem entraves. Enfim, trata-se de uma ditadura mascarada de pretensas liberdades mas não isenta de crime, traição e perjúrio, a que actualmente vivemos.
      Surge então uma última questão: -Qual a identidade desses Oligarcas supranacionais e o que procuram alcançar?

  4. Coisas de “democratas” que, em Portugal e ajudados pela CIA e a “Europa Connosco”, em nome de ideais nobres como o socialismo, se governam a si próprios e aos do clã cuja origem remonta a 1974/1975 tendo como principal timoneiro esse expoente máximo da “democracia” burguesa a que foram denominando de “socialismo em liberdade” e “social-democracia”, escondendo o verdadeiro nome do sistema – CAPITALISMO. Costuma-se dizer que o capitalismo é um estado natural da humanidade. Assim, se o capitalismo tem suas catástrofes, essas são igualmente catástrofes naturais, sem rosto, sem responsável. Afinal, como responsabilizar o índice Dow Jones? Como odiar uma instituição como o FMI? O LIVRO NEGRO DO CAPITALISMO é uma obra atual, séria e documentada sobre aspectos essenciais de um modelo econômico, de uma ideologia e de uma política que, na sua prática, têm — ao longo da história e em todo o mundo — produzido escravidão, repressão, tortura, violência, roubo de terras e recursos naturais, criação e divisão artificial de países, imposição de ditaduras, embargos económicos, destruição dos modos de vida dos povos e das culturais tradicionais, devastação ambiental, desastres ecológicos, fome e miséria, enfim, em síntese, injustiça, discriminação, desigualdade e exclusão social.
    Mas que adversário real ainda pode existir para o capitalismo, depois de ele ter vencido todas as batalhas? Para Gilles Perrault, em “O Livro Negro do Capitalismo”, o adversário é a multidão civil envolvida no processo. «O fantasma daquela multidão deportada da África para as Américas, daqueles sacrificados nas trincheiras de uma guerra absurda, daqueles queimados vivos pelo napalm, torturados até a morte nas celas dos cães de guarda do capitalismo, os fuzilados na Espanha, os fuzilados na Argélia, as centenas de milhares de massacrados na Indonésia, os que foram quase erradicados, como os índios das Américas, os que foram sistematicamente assassinados na China para garantir a livre circulação do ópio. De todos aqueles, as mãos dos sobreviventes receberam a chama da revolta do homem a quem a dignidade foi negada. As mãos quase inertes das crianças do Terceiro Mundo diariamente mortas aos milhares pela subnutrição, as mãos descarnadas dos povos condenados a pagar os juros de uma dívida que serviu apenas para enriquecer seus dirigentes, as mãos trémulas dos que mendigam ao lado da opulência. Mãos que ainda irão se unir.»
    E, sendo assim, parafraseando o saudoso Zeca: «o que faz falta é dar poder à malta» e acelerar o movimento imparável da História Humana que tem por objectivo primeiro vencer esse hediondo sistema que é o capitalismo e passarmos à fase seguinte.

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