EDITORIAL – OUTUBRO EM NOVEMBRO

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Hoje passam 98 anos sobre a Revolução de Outubro – o facto de naquele ano de 1917, 24 de Outubro ser em 7 de Novembro, tem a ver com a mudança do calendário juliano para o gregoriano, tendo a Rússia mantido o primeiro. Os conflitos sociais e políticos, a tensão criada pelas derrotas russas na guerra com a Alemanha, vinham desde que o Partido Bolchevista, de Lenine, derrotara o regime autocrático do czar Nicolau II, colocando, em Março (Fevereiro no calendário juliano, no poder um governo mais democrático, mas que mantinha as injustiças sociais. A Revolução de Outubro, conduziu ao primeiro governo comunista do mundo e manteve-se até 1991.

A história dos 74 anos de Comunismo tem sido por demais evocada. Quanto a alguns historiadores a sua falência deve-se ao facto de não ter «revolucionado» verdadeiramente as relações económicas, mantendo os mecanismos do sistema capitalista, embora com a acumulação do capital a ser feita pelo Estado. A erradicação do capital e da exploração da força de trabalho, para ser uma verdadeira revolução, teria de ter partido da mudança de paradigma, eliminando o papel moeda, o conceito de lucro e todo o arsenal de procedimentos que caracterizam a economia de mercado.

Ao procurar «humanizar» o capitalismo, fazendo reverter o lucro em benefício dos trabalhadores, manteve o pior da mentalidade capitalista e deu lugar à instalação de uma tirania (inspirada sobretudo por Estaline), à corrupção e a uma agonia que terminou com a queda de um comunismo formal, que mais não foi do que um capitalismo de Estado, que durante a “guerra fria” consumiu no esforço de obter uma hegemonia militar recursos que debilitaram o pouco que ia restando dos ideais de Outubro de 1917 e degradando as condições de vida das populações, sensibilizadas pela lepra consumista que lhe chegava do «mundo livre».

O estabelecimento de relações «comunistas», ou seja, a evolução para uma estrutura social que não fosse um simples molde negativo do capitalismo, a passagem para um clima comportamental e para uma moral em que o saber se sobrepusesse ao ter, fugindo aos princípios cristãos que parecem enformar a ideologia marxista, eliminando não só os vendilhões, mas, principalmente, pondo termo ao sistema mercantil.

Em suma: acabando com os templos onde os vendilhões instalavam as suas bancas e também com os templos e com as bancas, com o conceito de compra e venda, substituindo-a por um sistema de produção que respondesse às necessidades da Humanidade no seu conjunto, tendo em conta especificidades étnicas, mas eliminando as injustiças tradicionais por elas consagradas, teríamos uma Revolução. Por este ou por outro sistema que eliminasse o regime de trocas que caracteriza o mercantilismo que os Descobrimentos possibilitaram, mas nunca pelo «cristianismo justo» proposto pelo marxismo, teremos uma sociedade Humana. Cristo e Marx foram grandes homens, mas precisamos de uma Revolução e não de uma «amenização». O tal novo paradigma é essencial à transformação. O negativo de qualquer objecto acaba por ser uma cópia fiel do que pretende negar.

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