Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Revisão Flávio Nunes
Caderno de Notas de um etnólogo na Grécia – Uma análise social diária da crise grega
Uma série de Panagiotis Grigoriou
23. Caderno de Notas de um etnólogo na Grécia – O NÃO
Sete dias que abalaram o seu mundo. A larga vitória do nosso NÃO, à volta de 60%, já é oferecida aos outros povos da Europa e bem para além deles. Em Atenas, os partidos sistémicos, forçamento europeístas, procuram-se e perdem-se nos estúdios das televisões… salvo que conspiram como o podem fazer antes como depois. Para nós, em contrapartida, uma grande batalha é ganha e a guerra será longa. “As gerações futuras não terão vergonha de nós”, ouve-se falar na rádio SYRIZA.
“Venceremos”, cantava esta noite sobre a rádio 105.5 (SYRIZA) o vice-ministro da defesa Kóstas Isichos (SYRIZA), nascido em Buenos Aires. No centro da cidade de Atenas, é já a festa popular. Alegria, dignidade e orgulho. “É ao mesmo tempo uma vitória popular, social e nacional, a da dignidade e a justiça, a Grécia não será a sua colónia”, precisou Kóstas Isichos.
Para Panagiótis Lafazánis, líder da Corrente de esquerda no SYRIZA e ministro da Reestruturação da produção e a Energia, “é um novo ponto de partida que deve ser iniciado, com mais radicalização nas nossas posições e na nossa acção governamental. Como o sugere o nosso povo , e este precede mesmo a Esquerda, porque é necessário dizê-lo, é necessário reiniciar, é necessário mesmo partir de zero. E é necessário também terminar com o esmagador e vergonhoso espaço mediático que ocupam os partidos do antigo sistema e sobretudo os seus meios de comunicação social. E é igualmente necessário corrigir tudo isto e assim reforçar o espaço público democrático. O nosso povo exprimiu-se e isto é como um detonador”, rádio 105.5, na noite de 5 de Julho (cidade de memória).
O marionete Antonis Samaras acaba de se demitir do seu posto no domingo à noite, a sua Nova Democracia… avariada, deve encontrar rapidamente outro lider. É uma bem esmagadora derrota que sofrem os meios de comunicação social do poder dominante, ou seja o conjunto das televisões e rádios privadas, escapando como se sabe aos impostos, aos direitos autorais, às taxas … desde sempre, e isso sob o reino incontestável do nepotismo do velho bipartidarismo grego, que o europeísmo e os fundos estruturais da UE de resto prioritariamente sustentaram. Estes meios de comunicação social, esta noite, ficaram atónitos, jogaram o jogo da propaganda, da mentira e dos terrores contra a população, contra qualquer deontologia e contra a democracia em perfeita coordenação com os putschistas antidemocratas de Bruxelas, com Martin Schulz à cabeça. A sua última cartada?
Sábado, 4 de Julho, tinha observado uma manifestação espontânea (não iniciada pelos partidos), em frente da sede da cadeia de televisão MÉGA, o tempo da tolerância… da mentira por conseguinte teria assim chegado ao fim. Uma parte já da população não está claramente disposta à manipulação dos media . Sabe-se que na Grécia, os jornalistas… vedetas da Troika, deixaram de ser muito bem recebidos nos lugares públicos…
Domingo 5 de Julho ao longo do dia, não vejo muita gente a manifestar-se em nome do “ SIM”, em redor e em frente das mesas de voto, contrariamente aos “de NÃO”. Isto foi já um sinal. Na realidade, o voto silencioso e o empenho profundo mas não forçosamente expresso, estavam do lado “do não” e da dignidade.
Mais de cem mil muito jovens pela primeira vez eleitores, ilegalmente privados do exercício do seu direito de voto em Janeiro de 2015 pelo governo Samaras, votaram pela primeira vez este Domingo, e recusaram maciçamente as forças do memorando e o SIM.
Tudo está pois por fazer. Ou seja , resistir e defender . Alexis Tsípras, insistiu esta noite sobre a vitória da democracia contra o medo. “A chantagem, não pode exercer-se sobre a Democracia” recordou. Os bancos gregos fechados por Bruxelas e por Frankfurt , certos produtos alimentares a faltarem já nos expositores das lojas e aí está que apesar de tudo isto não se alterou a resposta dos Gregos.
Para Alexis Tsípras e para SYRIZA (visível), é o fim da austeridade e, por fim, a possibilidade de governar, na sequência de um futuro acordo “equitativo e que deixará definitivamente de continuar a estrangular a sociedade grega, no euro certamente, mas sem estar a fazer deste último, a prisão dos povos” (declarações de Yanis Varoufákis, a 5 de Julho).
A UE depois da passagem de certa classe política Alemã. “Diário dos Editores” de 4 de Julho
Pessoalmente, não acredito que a camarilha europeísta vá realmente mudar . O euro é uma arma de destruição massiva, contra os povos, contra as soberanias e contra a democracia. Os cenários deste Julho estão por conseguinte abertos… às hostilidades!
Em antecipação, o nosso tão belo mundo dos sem nada festeja a sua vitória por estes sete dias, que abalaram o outro mundo, o mundo dos com tudo. A Europa do avesso e a Europa de frente. “Venceremos”!
A Europa vista do avesso verso Europa vista de frente !