Selecção, tradução e nota introdutória de Júlio Marques Mota
Alain Chouet : « Nós estamos aliados com aqueles que financiam desde há trinta anos o fenómeno djihadista »
Fonte Marc de Miramon, Alain Chouet: « Nous sommes alliés avec ceux qui sponsorisent depuis trente ans le phénomène djihadiste »
L’Humanité, 3 Julho de 2015.
Para Alain Chouet, antigo chefe do serviço de informações de segurança na DGSE, “a guerra de civilização” e a guerra contra “o terrorismo” brandidas pelo governo assim como pela oposição de direita constituem um engodo que mascara outra coisa, a da aliança militar entre os países ocidentais e os padrinhos financeiros do Djihad.
HD (Humanité Dimanche). Como analisa o perfil de Yassin Salhi? Corresponde ele ao “de lobo solitário” ou ao de um terrorista que age por conta de uma organização estruturada?
ALAIN CHOUET. Não se trata de um lobo solitário mas sim de um cretino solitário! As reacções mediáticas são no seu conjunto patéticas. A imprensa manteve durante três dias que ele era um perigoso terrorista e recusei dar qualquer entrevista sobre este assunto porque parecia efectivamente que se tratava de um acto pessoal sem relação com o movimento terrorista. Este tipo borra-se de medo, mata o seu patrão antes de tentar racionalizar o seu acto como o fazem todos os psicopatas e os sociopatas. Então urra “Allahou Akbar”, e envia uma fotografia ao amigo que conhece e que se encontra na Síria, talvez na esperança que “o Estado islâmico” reivindique a sua acção.
HD. É possível estabelecer uma relação entre a chacina de Sousse e o atentado cometido no Kuwait contra a minoria chiita?
A.C. Estamos a falar de duas coisas diferentes. Na Tunísia, assiste-se à continuação do que eu denuncio desde há um ano e desde a queda do partido islamista Ennahdha: antes de deixarem o poder, organizaram uma reforma fiscal que arruína a classe média laicizada, e esta constitui o pior inimigo para os Irmãos muçulmanos. Depois, numerosos atentados têm manchado de sangue a Tunísia e com estes se visa destruir a sua economia, arruinar o sector turístico, os sindicatos, as associações, de forma a regressaram ao poder. É a estratégia sistemática dos Irmãos muçulmanos. No Kuwait, o atentado inscreve-se mais no contexto da guerra efectuada pela Arábia Saudita contra as minorias chiitas.
HD. Neste quadro, será correcto, como o fez o primeiro ministro, evocar “uma guerra de civilização”?
A.C. Não, está-se em vias de redescobrir a água tépida de George W. Bush e de se lançar numa guerra contra o terror. Viu-se os resultados desastrosos desta política nos Estados Unidos.
HD. Outros responsáveis políticos apoiaram-se sobre o drama de Isère para evocar a urgência de se adoptar a lei sobre o serviço de informações.
A.C. Em primeiro lugar, esta lei constitui um pouco uma lista à Prévert. Há coisas que me parecem úteis de um ponto de vista profissional, em especial a legalização das infiltrações. No que respeita às escutas electrónicas, já disse o que pensava sobre o assunto. “ A dragagem maciça ” de dados nunca produziu resultados convincentes.
HD. Ninguém evoca a relação entre a ideologia destas organizações terroristas e as difundidas pela Arábia Saudita e o Catar…
A.C. Certamente, no entanto não é por falta de o andarmos a repetir: o que chamamos “salafismo”, em árabe, chama-se “wahhabisme”. E aí nós estamos em contradição de forma sistemática e em todas as situações de confrontação militar, dado que no Médio Oriente, no Sahel, na Somália, na Nigéria, etc., nós temos como aliados exactamente aqueles que patrocinam desde há trinta anos o fenómeno terrorista.
HD. Desde o 11 de Setembro de 2001, somas colossais foram investidas na luta contra o terrorismo, leis liberticidas não cessam de ser votadas, e nunca no entanto “a ameaça” terrorista nos pareceu estar tão presente como agora.
A.C. Esgotamo-nos a atacar os executantes, ou seja aos efeitos do salafismo, mas não atacamos as suas causas. Sobre 1,5 mil milhões de muçulmanos, se 1 sobre 1 milhão se borra de medo e se desorienta mentalmente isto faz já um reservatório de 1.500 terroristas. Isto nunca se poderá impedir a menos que se coloque um chui atrás de cada cidadão. Tudo isto é uma grande brincadeira: não se está a fazer uma guerra contra o terror mas contra criminosos. Então tudo se limita às técnicas da polícia e da justiça.
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