45. A crise grega – um olhar sobre a série

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Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

 

45 A crise grega : um olhar sobre a série

1ª Parte: A economia a afundar-se no terceiro trimestre

A economia a afundar-se no terceiro trimestre

Romaric Godin, La tribune

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A economia grega contraiu-se 0,9 no terceiro trimestre . (Crédits : Reuters)

O número revisto do PIB grego entre Julho e Setembro representa uma contracção de 0,9%, em vez dos 0,5% primeiramente anunciados. Todos os sinais estão a vermelho, nomeadamente o turismo e o consumo.
Há duas semanas, a publicação “flash” da evolução do PIB grego para o terceiro trimestre tinha surpreendido os observadores. A baixa anunciada, -0,5% sobre um trimestre, parecia particularmente fraca tendo em conta os acontecimentos deste trimestre. Recordemos que um controlo dos capitais foi posto em prática a 28 de Junho com uma restrição nos levantamentos de d9inheiro nas Caixas de multibanco. Os bancos foram igualmente encerrados durante três semanas e, durante o mês de Julho, as transferências financeiras entre a Grécia e o resto do mundo foram praticamente bloqueadas.
Na realidade, a contracção da riqueza grega era evidentemente mais marcada. O serviço das Estatísticas gregas, Elstat, esta sexta-feira 27 de Novembro, reviu à baixa “tomando em conta os dados desconhecidos aquando da primeira estimativa.” Ora, desta vez, sobre um número próximo das estimativas dos economistas (- 1%). O quadro da situação económica do país é, por conseguinte, extremamente inquietante. Tanto quanto o crescimento do segundo trimestre foi revisto igualmente à baixa de 0,4% à 0,3%.

Todos os sinais ao vermelho

Para reencontrar uma contracção superior a estes 0,9%, é necessário recuar ao primeiro trimestre de 2013 (- 1,8%). O nível de PIB do terceiro trimestre 2015 é inferior de 1,1% ao do terceiro trimestre 2014. Em euros de 2010, o PIB deste terceiro trimestre é o valor mais fraco registado desde segundo o trimestre 2014. Devemos referir que todos os indicadores da economia grega estão no vermelho. O consumo das famílias apresenta um retrocesso de 0,8% sobre um trimestre que parece quase moderado à vista das condições nas quais os Gregos estiveram viver em Julho.
O investimento recua de 9,5%, o investimento produtivo de 7%. E se o comércio externo trouxe uma contribuição positiva para o crescimento, é sobretudo porque a paragem a que a economia grega esteve sujeita fez de desmoronar as importações (- 16,9% sobre o trimestre). Mas as exportações estão também elas em forte baixa (- 7,1%), particularmente as exportações de serviços que recuaram de 16,1%. Isto é muito preocupante, porque sublinha o impacto da crise em plena estação sobre o sector turístico que pesa para quase 18% do PIB grego.

São raros os elementos positivos.

No entanto, existem ainda alguns (raros) elementos positivos. Primeiro, apesar do controlo dos capitais, a baixa dos investimentos reduziu o seu ritmo no terceiro trimestre em cerca de metade. Entre Março e Junho, o retrocesso dos investimentos tinha atingido 18,8% sobre um trimestre. Este foi, desde Julho até Setembro, de 9,5%. Isto é igualmente verdadeiro no domínio dos investimentos produtivos que recuaram de 7% contra 8,9% no segundo trimestre. Evidentemente, é uma muito fraca tanto as baixas são fortes. Outro elemento positivo: as exportações de bens continuaram a progredir, apesar das condições, de 1,5% no terceiro trimestre. Mas este posto permanece demasiado pouco significativo para pesar sobre a conjuntura.

Que responsabilidade  ?

Resta, por fim, a questão da responsabilidade deste desastre. A versão oficial e largamente admitida actualmente pelos observadores é a de fazer incidir esta responsabilidade ao governo grego culpado “de uma louca teimosia ” face aos credores. Este cenário permite poupar à qualquer crítica qualquer culpabilidade aos Estados credores e ao BCE. A realidade pode contudo ser ligeiramente mais matizada. O governo grego procurou construir durante meses um compromisso que levasse em conta os elementos do seu programa eleitoral. Este compromisso foi rejeitado sistematicamente. Os credores jogaram sobre a fraqueza do sistema bancário grego para fazerem vergar as autoridades deste país. Qualquer que seja o preço para a economia grega. É também esta estratégia que conduziu ao desastre descrito por Elstat. Porque, não somente este enfraquecimento do sistema bancário conduziu ao controlo dos capitais, mas a capitulação do governo grego a 13 de Julho deixou prever com razão uma nova vaga de severa austeridade que não é realmente de nature a favorecer o investimento.

Estabilidade sobre três meses

E agora? Se acumularmos o PIB dos três primeiros trimestre do ano, tendo em conta um segundo trimestre bem melhor em 2015 que em 2014 (+ 0,3% contra -0,3%), o PIB grego ainda apresenta em volume um ligeiro crescimento de 0,07%. É possível esperar que a contracção seja inferior às previsões da Comissão europeia (- 1,4%) e do memorando (- 2,3%). O último trimestre será determinante deste ponto de vista. Jogará sobre um efeito de base sobretudo positivo, porque o último trimestre de 2014 tinha sido fraco (- 0,5% sobre um trimestre), mas a severidade das medidas postas em prática pelo governo em Outubro e Novembro deixa prever um mau trimestre.

Programa pesado para Alexis Tsipras

Alexis Tsipras, o primeiro ministro grego, pode contudo esperar que a recapitalização dos bancos que terá lugar nas semanas próximas, conduza à uma estabilização da situação. Tanto mais que , uma vez esta medida tomada, o BCE poderia atribuir à Grécia uma derrogação para deixar que esta entre no seu programa de resgate de activos públicos (“QE”), dois elementos que poderiam permitir um levantamento das restrições quanto ao levantamento de fundos e de circulação dos capitais. Mas o peso “das reformas” arrisca-se a ser considerável, nomeadamente o das pensões de reformas.
Porque os credores ficam muito exigentes. Esta sexta-feira 27 de Setembro, o Euro workinggroup, o grupo de trabalho do Eurogrupo publicou 13 medidas a tomar antes de 11 de Dezembro para que a Grécia receba a última parcela da primeira parte do empréstimo MEE, ou seja, mil milhões de euros. Encontramos aí uma forte vontade de fazer aprovar uma nova grelha salarial no sector privado e o lançamento das primeiras novas privatizações para começar a alimentar o famoso fundo de privatizações de 50 mil milhões de euros. Virá, depois , em Dezembro, a reforma, certamente muito dolorosa, do sistema de pensões de reforma. A economia grega por conseguinte ainda será posta a uma dura prova nos próximos meses.

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