UMA CARTA DO PORTO – Por José Magalhães (115)

carta-do-porto

A PRAIA DOS INSURRECTOS

No rio Douro, do lado da cidade do Porto, havia praias. Já aqui falei da que existia onde hoje é a Alfândega. Hoje falo da que havia onde hoje fica o Cais das Pedras.

Situada junto ao Cais das Pedras e por promessa dos navegantes que tinham escapado a um naufrágio quando vinham de Londres, foi, em 1394 construída a Capela do Corpo Santo.
Nessa capela nasceu, pouco depois, a Confraria do Corpo Santo, que desempenhava funções muito importantes, desde a defesa da costa dos ataques dos piratas argelinos até seguros marítimos. A Confraria tinha barcos próprios, comprados com os seus rendimentos, e recebia grandes proventos dos seus negócios e doações.

PONTE DA ARRÁBIDA CAIS DAS PEDRAS VIADUTO DO CAIS DAS PEDRAS PRAIA DA PAIXÃO PRAIA DOS INSURRECTOS
PONTE DA ARRÁBIDA
CAIS DAS PEDRAS
VIADUTO DO CAIS DAS PEDRAS
PRAIA DA PAIXÃO
PRAIA DOS INSURRECTOS

Corriam os anos do domínio espanhol quando, em 1588, Filipe II organizou a Invencível Armada (contra Inglaterra). Resolveu, para fazer parte dessa Armada, confiscar, entre outros, os dois melhores barcos da Confraria, os brigues Senhora da Conceição e Esmeralda. Esses brigues tinham sido oferecidos por um dos Irmão da Confraria, em promessa que havia feito, no Brasil, a S. Telmo. Essa doação implicava a obrigação de os rendimentos líquidos serem, parte para obras de aumento da capela, e outra parte para a compra anual de doze lençóis para sepultar os cadáveres dos naufrágios.
Os tripulantes acabados de chegar de uma das suas viagens, foram confrontados com a intimação imposta pelo rei espanhol e, juntamente com os Irmãos das Almas, não aceitaram bem esse confisco e resolveram queimar as velas e rasgar e queimar a bandeira espanhola.
A partir daí, o cais e a praia que se chamava da Paixão, passaram a ser chamados “dos Insurrectos”, por expressa determinação do rei opressor.

CAIS E VIADUTO DAS PEDRAS
CAIS E VIADUTO DAS PEDRAS

Hoje, já nada existe. Nem a praia, desaparecida com a alargamento do cais, nem o cais, enquanto tal, já que, em 1997, na vigência de Fernando Gomes, lá se colocou um viaduto, na verdade bem desenhado e bem integrado no tecido urbano, a que chamaram “Viaduto do Cais das Pedras”, mas que bem deveria ser chamado de “Viaduto dos Insurrectos” para que a História se não apague.
A Praia e o Cais dos Insurrectos, como tal deveriam ser chamados, pois que, a par de outros epítetos com que nos brindam, também este, só nos honra.

 

 

http://www.porto24.pt/cidade/rui-moreira-garante-obras-bolhao-mesmo-sem-verbas-europeias/

 

http://www.noticiasaominuto.com/economia/519614/tap-com-voos-de-hora-a-hora-entre-lisboa-e-porto-a-preco-de-comboio

 

 

 

3 Comments

  1. Obrigado por nos dar a conhecer momentos tão importantes para a vida de quem ama o Porto. Mais um belo apontamento sobre uma das desaparecidas praias da cidade antiga. Admiro imenso o seu estilo. Continue a divulgar as Suas Cartas. Votos de um excelente 2016.

Leave a Reply