A COMISSÃO EUROPEIA A PREPARAR UMA NOVA CRISE – 10. COMPREENDER A FINANÇA – DE QUE MERCADOS FINANCEIROS TEMOS NÓS NECESSIDADE? – por FINANCE WATCH – III

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Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

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10. Compreender a finança – De que mercados financeiros temos nós necessidade?

 Finance Watch, Dezembro de 2014

(CONTINUAÇÃO)

Que  funções é que  os mercados financeiros deve preencher?

O objectivo principal dos mercados financeiros é o de  canalizar a poupança e o capital para as actividades económicas mais produtivas.

Mais precisamente, os mercados financeiros preenchem três funções económicas fundamentais:

– Afectar o capital, remunerar a poupança, favorecer o investimento: os mercados primários são os espaços onde os activos financeiros (acções, obrigações, produtos derivados) são criados e distribuídos. É aqui que as empresas e os governos acedem ao capital “fresco”, vendendo aos  investidores acções ou obrigações novamente emitidas sobre o mercado. No caso de uma emissão de acções, uma empresa pode decidir fazer  o que se chama   uma introdução em bolsa (IPO em inglês, Initial Public Offering;  mais explicações no  vídeo de Euronews “financiar-se através de uma  introdução em Bolsa”).  Pode proceder seguidamente à outras emissões de títulos, de acordo co as suas necessidades. Os compradores são e grande parte investidores institucionais, coo os fundos de investimento.

compreender finança - III

– Troca dos activos existentes e formação dos preços: Os investidores devem ser em condições da revenderem os títulos negociáveis nos quais investiram se desejarem. É por esta razão que, uma vez os títulos vendidos uma primeira vez sobre o mercado primário, são depois negociados sobre o que se chama   o mercado secundário. Os mercados secundários são muito mais importantes que os mercados primários. Economicamente, não editam novos títulos, mas permitem aos investidores  negociarem  títulos existentes entre eles, de entrar e sair do mercado, e estabelecerem  os preços dos títulos trocados. Estas funções permitem indirectamente um bom funcionamento do mercado primário.

Teoricamente, os preços deveriam reflectir o valor fundamental dos títulos e flutuar em função dos  sucessos (e dos malogros) do emissor (micro-economia, ou factores endógenos) e da economia e geral (macro-economia, ou factores exógenos). São estes sinais que contribuem para dirigir o capital para um uso economicamente útil, por exemplo incentivando o investimento nas empresas que funcionam bem, e vice-versa. Mas os mercados secundários podem também tornar-se um paraíso para os especuladores, e os preços estão às vezes  muito longe do valor fundamental dos títulos. A possibilidade de formação de uma bolha pode estar por conseguinte sempre presente.

–  Gestão dos riscos: A terceira função dos mercados financeiros é contribuir para gerir os riscos que ocorre na economia real e na esfera financeira. Por exemplo, uma empresa de construção pode desejar cobrir-se contra um  aumento potencial do preço do aço; ou um fundo de pensão pode querer cobrir-se contra uma baixa potencial das taxas de juro. Há para isso  instrumentos específicos (a que  principalmente se chama  os produtos derivados) que permite aos actores do mercado transferir diversos riscos (risco de crédito, risco de taxas de juro …) para outros  actores do mercado que estejam mais dispostos a toar estes mesmos riscos. Isto  pode permitir a certas empresas lançarem-se em actividades que de outro modo não teriam podido fazer.

Mas o que não se deve  esquecer, é que a transferência do risco não o elimina. A crise financeira foi uma demonstração dramática. Além disso, o facto que numerosos produtos derivados possam ser emitidos e trocados em muito maiores quantidades que os riscos que são supostos cobrir – ou que os activos aos quais estão ligados – fazem destes instrumentos o ideal para a  especulação. E de facto – e isto  é um desenvolvimento particularmente recente, há muitos mais  produtos derivados do que activos que é suposto eles estarem a cobrir  nos  mercados. Resultado, o montante nocional dos produtos derivados e circulação é de cerca de nove  vezes a dimensão do PIB do mundo inteiro, ou seja cerca de 100.000 USD por pessoa, seja adulto ou criança sobre o planeta.

John Bogle, o fundador do gestor de activos Vanguard, explicou numa entrevista recente (Time, no dia  27 de Julho de 2015; Slate publicou um artigo baseado na entrevista em francês) porque é que  os mercados financeiros beneficiam principalmente os intermediários: “O papel da finança é levar o capital  às empresas. Fazemo-lo   com  250 mil milhões de dólares por ano sob forma de introduções em bolsa e de  aumentos de capital. Que fazemos nós mais? Levamos os investidores a trocarem   cerca de 32.000 mil milhões de dólares de títulos por ano. Por conseguinte se calcularmos bem, 99% do que fazemos nesta indústria consiste em trocas de uma pessoa para com  uma outra pessoa e apenas na base do interesse  do intermediário. Trata-se de um enorme desperdício  de recursos.[1]

A fim de preencher a sua função de maneira eficaz, um mercado financeiro deveria ser:

Justo: o acesso ao mercado deveria ser igual para todos os participantes, e protegido dos comportamentos abusivos.

Ordenado: a oferta e a procura de activos deveriam ser mais ou menos iguais, e a volatilidade fraca.

Transparência: a informação sobre as ofertas de compra ou de venda (antes da troca) bem como sobre as operações executadas (após a troca), inclusive o volume e o preço, deveria  ser pública.

Fiável: as estruturas e os mecanismos do mercado deveria assegurar as transacções e  cada etapa da cadeia: negociação, compensação e pagamento.

(continua)

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[1] Nota de tradução. Veja-se Time, Jack Bogle Explains How the Index Fund Won With Investors no endereço  http://time.com/money/3956351/jack-bogle-index-fund/

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Leia a Parte II deste texto da ONG Finance Watch, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, acedendo ao link seguinte:

A COMISSÃO EUROPEIA A PREPARAR UMA NOVA CRISE – 10. COMPREENDER A FINANÇA – DE QUE MERCADOS FINANCEIROS TEMOS NÓS NECESSIDADE? – por FINANCE WATCH – II

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Ver o original em:

http://www.finance-watch.org/informer/comprendre-la-finance/1142-comprendre-finance-3?lang=fr

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