Syriza, ano I – por Olivier Delorme III

Falareconomia1

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

(conclusão)

A gravidade desta afirmação levou a procurar confirmação . Ei-la:

Communiqué de presse du Dispensaire Social Metropolitain d’Elliniko

Source : http://www.mkiellinikou.org/blog/2016/01/12/kalixronia

Traduction : Palili

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Atenas, 12 Janeiro de 2016

Os nossos desejos a todos para este novo ano são relativos a saúde para todas as pessoas. Desejos ainda mais essenciais que nunca, porque durante todo o mês de Dezembro e os primeiros dias do novo ano uma vaga de cidadãos – com Segurança Social ou sem ela – (!) foi reenviada dos hospitais públicos – em que o pessoal dos cuidados médicos por compaixão os encaminhavam para os Dispensários Sociais – de modo que a possa obter os medicamentos necessários à sua saúde que eles mesmos não lhes podiam dar. Não é a primeira vez que este fenómeno se produz desde o início dos nossos 4 anos de actividade. Sublinhamos contudo que desta vez este fenómeno se amplificou de maneira desproporcionada.

Temos de tratar doentes inscritos na Segurança Social que nos chegam em mão com a prescrição informatizado sobre a qual a farmácia do Hospital inscreveu o seguinte: “MEDICAMENTO em FALTA” –pacientes do cancro, como o caso da Sra. M que foi relatado largamente num grande jornal, de diabetes, etc. – que significa que estas pessoas devem ter que fazer um percurso do combatente de hospital em hospital para tentar obtê-los. Às vezes já apresentaram o seu pedido a dois ou três hospitais sem resultado, geralmente, vêm, enviados pelas farmácias dos hospitais públicos de modo que lhes procuremos conseguir obter os medicamentos de que precisam.

O ponto culminante deste “fenómeno dramático” de falta de medicamentos nos hospitais públicos foi atingido em 11/01/16 quando dezenas de doentes do cancro foram reenviados do Hospital Geral de Atenas “Laïko” sem estarem a receber a sua quimioterapia, necessária e programada.

Como imaginar a angústia, a cólera e o desespero destas pessoas e das suas famílias?

Quem por conseguinte os toma a seu cuidado e o custo como avaliar psicológico – além certamente das despesas de contribuições já gastas? E tudo isto no momento em que estatísticas oficiais fazem o recenseamento dos falecimentos dos nossos concidadãos sem Segurança Social na doença, o aumento da mortalidade infantil e tantas outras consequências trágicas das políticas postas em prática durante estes últimos cincos anos.

Não podemos continuar a justificar o injustificável, não podemos não ver e não entender, não podemos permanecer espectadores destes fenómenos e destas estatísticas.

Além disso, acabamos de saber que nos próximos dias vai entrar em serviço policlínico de cuidados médicos primários em Atenas (depois de uma primeira experiência aberta em Salónica) com a colaboração de uma companhia de seguros conhecida, activa no domínio das prestações médicas, e com antigos quadros dirigentes da saúde pública nos seus postos importantes.

Ou seja, é dizer que depois de tudo queimado no sistema público de saúde, sobre os seus escombros erigem-se cuidados privados em saúde primária no momento mesmo em que uma maioria de cidadãos já não pode participar nas despesas de cuidados e de farmácia.

É evidente que as responsabilidades das políticas que foram postas em prática são esmagadoras, as que conduziram à degradação do sistema público de saúde, hoje praticamente sobre um fio. Para isso, os governantes actuais, no poder desde há um ano assumem hoje também uma parte de responsabilidade. Infelizmente, a insuficiência do financiamento do sistema nacional de saúde contínua.

Apesar dos anúncios, das decisões ministeriais e de todas as leis votadas no Parlamento, os que não têm Segurança Social são sempre excluídos, enquanto que o problema se está a levantar muito rapidamente também para os que são assegurados.

Cada um pode compreender a importância do problema, quando chegam ao nosso Dispensário doentes inscritos na Segurança Social com prescrições informatizadas que indicam o medicamento que falta no Hospital público, e isto mesmo para medicamentos baratos que custam menos de um euro e metade.

As palavras e as promessas já não chegam …

Texto disponível em http://unitepopulaire-fr.org/2016/01/20/quelle-bonne-annee-sannonce-pour-la-sante-publique/

Fonte original: : http://www.mkiellinikou.org/blog/2016/01/12/kalixronia

Na realidade, o governo Tsipras II tornou-se patético. O pior é que, durante a nossa estada, não deixámos de ouvir as pessoas bem diferentes, nem de direita, nem de extrema esquerda, incluindo eleitores que ainda votaram Syriza em Setembro, por ausência de opção, como a maior parte, dizerem que este governo é também totalmente incompetente, que não há nenhuma direcção na Administração, que não se tomam decisões, que as instruções são uma confusão e muitas vezes contraditórias a todos os níveis e que os Tsipriotas andam envolvidos num clientelismo de que tinha sido privados durante muitíssimo tempo, e isto de maneira aparentemente inédita desde a grande época do PASOK dos anos 1980… Mas pelo menos o PASOK dos anos 1980 realizou, num Estado onde dominava a direita desde os anos 1930, algumas conquistas sociais significativas… Mulher, cunhado, primos, tio, instalam-se, ligam-se, … e, para ocupar o lugar, as demissões forçadas ou os despedimentos multiplicam-se. Enquanto se reciclam agora nos mercados públicos as mesmas empresas clientes do PASOK ou Nova Democracia… nas mesmas condições mas com os proveitos para novos beneficiários.

Pelo menos, no naufrágio, podia-se ao menos esperar que, sobre a questão moral, Syriza se iria mostrar menos glutão, mais exigente. Parece que não é nada assim.

Depois do momento da sideração no qual a traição descarada de Julho mergulhou o povo, e da qual o povo grego ainda não saiu completamente, a sua cólera será sem dúvida difícil de controlar.

Já as manifestações se sucedem às manifestações, os agricultores bloqueiam nestes dias as estradas, impediram durante doze horas o ministro da Agricultura que deixasse Komotini e as instalações oficiais onde tinha vindo fazer uma conferenciar, os barcos permanecem no cais do Pireu, os pescadores paralisam o tráfego do porto de Volos, os farmacêuticos ou os advogados descem à rua e penduram as suas gravatas nas árvores em frente do Parlamento – por escárnio dos homens sem gravata de Syriza -, em Chania (o Canée) onde, como por toda a parte em Creta, se tem alguma lembrança do que foi a ocupação alemã ( diz-se na Grécia que o ministro Schäuble teria, outrora, uma brutal experiência da inflexível Resistência dos cretenses, e que seria uma das explicações do seu ódio em relação aos Gregos, para não falar do seu racismo), os empregados cretenses do aeroporto cujo governo de ocupação validou a sua venda em saldo a uma sociedade alemã acolheram os novos ocupantes vindos inspeccionar a sua nova conquista ao grito “de Raus! ”, uma nova greve geral está prevista para o dia 4 de Fevereiro, a quarta desde as eleições de Setembro. O mesmo é dizer que o governo se enterra dia a dia e cada vez na impopularidade.

Daí se compreende a imperativa necessidade de realizar novas eleições antes que os efeitos do terceiro Memorando se fizessem sentir. Mas por quanto tempo ainda se aguentarão ainda os três lugares que fazem a maioria do governo de ocupação no Parlamento? Mistério.

De outro lado está um dos rebentos Mitsotakis que ganhou as eleições internas à direita. Recordemos que o papá tinha sido o artesão da traição dos deputados do Centro, financiada em francos suíços pelo Palácio Real grego e pela rainha (alemã, e que Alemã!) Frédérika, que tinha provocado a queda do avô Papandréou em 1965 e lançou a Grécia numa crise institucional que terá levado ao golpe de Estado dos Coronéis. Seguidamente o papá tinha entrado em A Nova Democracia depois de 1974 e, apesar do ódio que lhe dedicava Karamanlis (o Grande, o tio), e tornou-se Primeiro ministro ( nas terceiras eleições legislativas num ano) até que, em 1993, um jovem lobo de dentes afiados, Samaras, lhe aplicou o mesmo golpe que ele tinha feito a Papandréou em 1965. Seguidamente, entrado em A Nova Democracia, Samaras, de que se apropriou depois da derrota de Karamanlis (o gordo, o sobrinho)… contra a filha de Mitsotakis (2009), Dora Bakoyanni, fez com que fosse expulsa no ano seguinte… que veio a reintegrar em 2012 ( esta tinha levado consigo bastante votos do clã para enfraquecer a Nova Democracia em Maio de 2012 que era necessário fazer regressar ao curral a fim de poder bater Syriza nas eleições de Junho). Mas desta vez, é o irmão, Kyriakos Mitsotakis-Montaigu que assaltou o partido… reclamando-se do Centro… mas fazendo aliança com a extrema direita, com Samaras-Capuleto, … o assassino do seu papá! Tudo isto a gerar uma grande raiva em Karamanlis (o gordo, o sobrinho), que odeia tanto os Mitsotakis como odeia Samaras, e cujo candidato foi batido por esta coligação contranatura… Tudo isto para dizer que ao lado da direita grega, os malditos Atrides da mitologia grega eram pessoas de excelente companhia!

Quanto à palavra política, entre as traições de Syriza e as fanfarronices hipócritas desta direita em pedaços, é a palavra política que está atingida por um descrédito total – venha de onde vier e diga ela o que disser. Porque, de onde quer que ela venha e diga o que disser, os Gregos sabem que estas palavras não são pronunciadas pela voz do povo mas pela voz do seu dono – a de Schäuble que, sobre o tom da graçola, acaba de tratar publicamente Tsipras, em Davos, como sendo um imbecil e isto em face de toda a nata politico-financeiro do planeta.

E outro encaixou, uma vez mais. Há um ano, fazia-se eleger sobre a palavra de ordem da dignidade reencontrada…

Até onde pode levar uma tal situação? Na minha opinião, isto não levanta praticamente nenhuma dúvida: levará a uma catástrofe total, na qual Tsipras e Syriza terão uma esmagadora responsabilidade porque mataram a esperança e desacreditaram a ideia de alternativa ao desastre germano- europeu. TINA ou a prova feita por Tsipras.

Qual será a forma que irá assumir esta catástrofe? De momento, ninguém o consegue prever.

Olivier Delorme, Syriza, année 1. Texto publicado em : http://www.olivier-delorme.com/odblog/index.php?2016/01
Syriza, ano I – por Olivier Delorme II

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