CLARICE LISPECTOR TEM ESTÁTUA NO RIO DE JANEIRO

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Foi a partir do dia 15 de Maio que o Rio de Janeiro apresentou aos seus habitantes e turistas a sua primeira estátua de uma artista mulher: a da escritora Clarice Lispector (1920-1977).

Foi uma ideia da professora de literatura Teresa Monteiro, biógrafa de Clarice. Com apoio da atriz Beth Goulart, que representou a escritora no teatro, organizaram um abaixo-assinado para que a estátua de Clarice, juntamente com o cachorro Ulisses, fosse erguida. “Foi um conjunto de forças, união de várias pessoas”, contou Teresa à agência Brasil.

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A estátua é de autoria do escultor Edgar Duvivier. E está localizada no Leme, perto ao Posto 1, local onde a escritora morou durante 12 anos.

Para financiar a escultura, foram vendidas miniaturas de Clarice com o cachorro, também produzidas por Edgard. Ele e seu filho Gregorio desembolsaram R$ 90 mil do próprio bolso.

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“Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. (…) Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. (…) Pretendia apenas lhe contar o meu novo carácter, ou falta de carácter. (…) Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim fiquei eu… em que pese a dura comparação… Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões – cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. (…) Uma amiga, um dia desses, encheu-se de coragem, como ela disse, e me perguntou: você era muito diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou essa calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com lassidão de mulher de cinquenta anos. (…) o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Ouça: respeite a você mais do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você – respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você – pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita – não copie uma pessoa ideal, copie você mesma – é esse o único meio de viver”.


Clarice Lispector, in ‘Carta a Tânia [irmã de Cla rice] (1947)’

 

A propósito, ler o texto de Rachel Gutiérrez:

CARTA DO RIO – 65 por Rachel Gutiérrez

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