ENQUANTO SE ACENTUA A MUDANÇA TECNOLÓGICA – NÃO SE ENCONTRA EXPLICAÇÃO PARA A DESCIDA DA PRODUTIVIDADE EM TODO O MUNDO – por IGNACIO MURO BENAYAS

Falareconomia1

Selecção de Júlio Marques Mota. Texto remetido por Francisco Tavares.

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Enquanto se acentua a mudança tecnológica

Não se encontra explicação para a descida da produtividade em todo o mundo

Ignacio Muro Benayas(*), Mientras se acentúa el cambio tecnológico – Sin explicaciones al descenso de la productividad en todo el mundo

Em http://www.bez.es/, 13 de Abril de 2016

Benayas - II
Um trabalhador numa fábrica de automóveis nos Estados Unidos

Economia digital, robots, inovações colaborativas, implantação de tecnologias desintegradoras em numerosos campos sociais. E então porquê, desde meados dos anos setenta, os aumentos da produtividade do trabalho são cada vez menores? Porquê, países com perfis tão diferentes como os EUA, o Japão, a Alemanha, o México ou a Turquía convergem em crescimentos anuais da produtividade em torno de 1%, seis vezes menores que os ocorridos nos anos sessenta?

A primeira dúvida que surge a The Economist [Doing less with more, 19 de Março de 2016] quando aborda esta questão é se os gráficos e as estatísticas refletem a totalidade da realidade. O problema não existe realmente, é tão só uma questão de mensuração, dizem alguns. O progresso tecnológico na economia dos intangíveis aumenta a produtividade em espaços e formas que os organismos de estatística não são capazes de detectar: ambientes velozes [wiki], serviços colaborativos, intangíveis financeiros…representam novos serviços com valores de uso reconhecidos pelo grande publico, como as redes sociais, que, todavia, não são facilmente monetarizáveis, ou seja, não encontram o seu valor de troca.

A ser assim, os defeitos na medição seriam somente parciais, limitados a alguns serviços dos sectores de vanguarda dos países mais avançados. E seriam também transitórios, porque deveriam solucionar-se quando essas tecnologias atingissem um certo grau de maturidade comercial. Mas esses defeitos de medição não poderiam explicar uma desaceleração tão persistente no tempo, e tão generalizada em países muito diferentes e tão pronunciada. E também não explica por quê compartilham o mesmo fenómeno os EUA – com nações industriais especialmente competitivas em bens industriais de alto valor- como a Alemanha, ou países emergentes como a Turquia ou o México que, ao não estarem na fronteira dos últimos progressos, lhes deveria bastar replicar tecnologias já comprovadas para aumentar a sua produtividade.

Por outro lado, as estatísticas sim, detectaram as melhorias de produtividade ocorridas no Japão (entre 1985 e 1995, coincidindo com o desenvolvimento informático) ou na Alemanha na década dos 90, coincidindo com a reunificação, ou nos EUA, entre 1995 e 2005, coincidindo com o início das ponto com. E detectaram também que em cada um desses momentos de pico o aumento da produtividade situava-se a um nível mais baixo em relação aos anteriores aumentos. Confrontamo-nos, portanto, com um problema de base real.

Benayas - III

                            Crescimento da produtividade laboral, por hora trabalhada

Inovações limitadas, oligopólios tecnológicos e financeirização, outras causas

Portanto, ou aos progressos que tanto festejamos lhes falta a capacidade de arrastamento sobre o conjunto da economia – como tiveram a eletricidade ou o automóvel no século XX, (tese de Robert Gordon, economista da Universidade de Northwestern)-, ou estamos a criar uma economia dualista, com setores muito dinâmicos que convivem com atividades de muito baixa produtividade (vendedores retalhistas, empregados de comércio e trabalhadores dos serviços) que compensariam o efeito dos primeiros. E com grandes empresas altamente tecnológicas rodeadas de micro e pequenas empresas pouco produtivas (no Japão as pequenas e médio empresas representam 99,7% dos 4,2 milhões de empresas existentes, um problema parecido com o de Espanha).

Os defensores da desregulamentação defendem que a pouca flexibilidade de muitas economias ricas as leva a conservar os negócios mais obsoletos e com isso favorecem a deslocalização das iniciativas mais produtivas para países emergentes sem espartilhos sociais, considerados mais dinâmicos. Os dados apontados no quadro anexo, que incluem o México e a Turquia, não corroboram esta tese mas serve como argumento ideológico.

Outros acrescentam novos dados estruturais respeitantes aos setores tecnológicos: somente umas poucas empresas, de todos conhecidas, as Google, Amazon y companhia, concentram a maior parte da atividade no sector privado enquanto que um grande número de novas empresas [start-up] não conseguem tornar-se grandes. Por conseguinte, dizem Jorge Guzmán e Scott Stern, do MIT, a criação de grandes oligopólios tecnológicos poderá estar a travar a concorrência e começar a tornar-se um factor de atraso. E acrescentam um novo dado: as grandes tecnológicas estão a começar a aumentar a sua propensão a colocar os seus ganhos nos mercados financeiros, preferindo isso a reinvestir novamente no negócio tecnológico. Se assim fosse, a economia produtiva não estaria a alimentar-se adequadamente com novos investimentos que potenciassem mudanças na produtividade.

Os baixos salários alimentam a baixa produtividade

Alguns outros economistas centram-se na relação bidirecional viciada entre baixa produtividade e baixos salários. Se os baixos salários se justificam porque há uma baixa produtividade, o contrário também acontece: que a precariedade do trabalho desincentiva o investimento em novas máquinas que os substituam. O investimento em caixas automáticas nos supermercados são menos atrativos quando há um excedente de desempregados disponíveis com salários precários. Para quê investir em novos sistemas se obrigando a trabalhar mais horas ou reduzindo o salário hora aumento os lucros?

Sobre isto sabemos de sobra em Espanha. As políticas do Governo escolheram essa opção: eliminar almofadas sociais, liberalizar o despedimento, incentivar a contratação a tempo parcial, tudo isso para favorecer o emprego barato que sacraliza as piores rotinas empresariais e um modelo low cost baseado na baixa produtividade. Mas isso não se passa apenas em Espanha. João Paulo Pessoa e John Van Reenen da Escola de Economia de Londres, argumentam no mesmo sentido para explicar os contornos da recuperação do emprego com baixa produtividade na Grã Bretanha e nos EUA nos últimos anos.

Economia colaborativa e outras inovações para a subsistência

Os baixos salários não só desincentivam, do lado da oferta, a substituição de homens por máquinas, como também enfraquecem a procura de consumo. E na medida em que esta não pode ser alimentada por créditos, porque o impede o excesso de endividamento global, as empresas têm de ajustar a sua produção agregada a um futuro caracterizado por uma procura decrescente.

Neste contexto, o espaço da produtividade fica reduzido a como produzir o mesmo (ou menos) com muito menos recursos. E não a produzir mais com a mesma gente. O que explica que boa parte das inovações estão voltadas para soluções adaptadas a uma economia da precariedade, típica do capitalismo que condena à subsistência amplas camadas sociais. Sem ir mais longe, a chamada economia colaborativa dirige o seu principal campo de inovação para produzir receitas suplementares para chegar ao fim do mês para esses grupos marginalizados através de soluções que resolvem com a máxima eficiência o como partilhar os seus ativos (automóveis, casas, equipamentos) subutilizados. De modo que, tanto a oferta como a procura desses serviços alimenta-se daqueles que estão por baixo do salário médio, como assinala James Parrott, do Instituto de Política Fiscal de Nova Yorque.

Com isso mais se estreita o campo económico para a inovação e se travam os aumentos de produtividade associados à satisfação daquelas novas exigências, cada vez mais sofisticadas, que acompanhariam o aumento do nível de vida das pessoas. Sem dúvida essa situação foi o que favoreceu a explosão extraordinária da produtividade até aos anos 80 do século passado, precisamente durante o desenvolvimento do Estado de bem-estar. Uma realidade que, ao que parece, dá muito trabalho reconhecer.

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(*) Economista, analista social e especialista em novas tecnologias e o mundo da informação. Forma parte do grupo impulsor de Economistas frente a la Crisis, é professor de jornalismo na Universidade Carlos III e diretor do Instituto para la Innovación Periodística. Preside Asinyco (Asociación Información y Conocimiento) e edita o blog coletivo Poli-TIC.net.

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Ler o original em:

http://www.bez.es/551393305/Sin-explicaciones-al-descenso-de-la-productividad-en-todo-el-mundo.html

 

2 Comments

  1. A inevitável decadência do Ocidente não é minimamente comtemplada. Todas as civilizações têm tido um ocaso e a Ocidental não tem o privilégio de fugir à regra. Todos os Estados citados no texto, em última análise, mada mais são que uns subsidiários dos ianques. Desde a derrota não Vietname que as coisas mudaram de rumo! CLV

  2. A constatação dos factos e teorias aqui descritos leva-me a equacionar que devemos estar a aproximar-nos rapidamente do esgotamento do modelo de produção e funcionamento económico tão incensado pelos adeptos do neoliberalismo. Assim como os mercados não se podem expandir infinitamente, a produtividade tb não. O horário de trabalho não é extensível para lá de certos limites e os cortes de vencimento tb não. Todos esses factores associados ainda à corrida para a concentração de oligopólios, à destruição acelerada do ambiente e da estabilidade climática, fazem com que o modelo dê claros sinais de esgotamento e até de cair na sua própria inversão ou regressão.
    Se este já não serve, então temos de criar outro melhor.

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