EDITORIAL – A história pode ajudar?

 

logo editorialNo Brasil comemora-se hoje o Dia do Historiador. Nós não gostamos dos «dias» que a UNESCO inventa por isso não lamentamos que em Portugal não se institua tal comemoração. Damos um grande destaque aos temas históricos e até temos uma rubrica que afirma poder a História dar alguma ajuda – o seu autor, Carlos Leça da Veiga, defende o princípio de que a «história se repete», havendo quem não concorde com este axioma e seja da opinião de que o que é relativamente imutável é a natureza humana que, indiferente aos avanços do conhecimento, continua a basear as estruturas sociais na exploração dos mais fracos e vulneráveis – mas não vamos tomar partido – o nosso blogue caracteriza-se por  ser apenas um modesto caixote a que os argonautas sobem para expor as suas ideias.

A ciência histórica só merece o estatuto de ciência se estiver ao serviço da verdade e não esteja o historiador empenhado em provar aquilo que entende como objectivamente correcto. Deve, tanto quanto possível, basear-se nas fontes primárias, não ignorando que a água que delas jorra nem sempre é límpida – o cronista terá tido a liberdade de exibir verdades que sejam desfavoráveis a quem lhe paga? Um exemplo: Os Lusíadas concedem a D. Manuel o sonho da epopeia marítima. Bem sabemos que o «o sonho do Infante» foi tornado realidade pela tenacidade do Príncipe Perfeito, que entre a nobreza era apodado de O Tirano. Diga-se que D. Manuel controlou o ódio por quem lhe assassinara o irmão e manteve a política do antecessor. De qualquer dos modos, o poeta sabia que a exaltação da figura de D. João II limitaria a possibilidade da tença. Fernando Pessoa coloca as coisas no devido lugar.

A «ciência» histórica serve muitas vezes objectivos políticos, não passando de propaganda ou de incentivador do patriotismo. A batalha de São Mamede pode não ter passado de uma rixa e o Grito do Ipiranga não terá sido tão epopeico como isso.

Será que os meninos à volta da fogueira já descobriram que as estrelas não são do povo?

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