Dorindo Carvalho: «O Sentido Trágico dos Limites» – 7. Dos limites e das sombras: entre o realismo ideológico e o expressionismo abstracto. – por José Fernando Tavares

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Como conclusão do presente estudo, podemos dizer que há na obra de Dorindo um efeito considerável, não apenas do limite, mas também da sombra desse limite. Porque, para além desse limite, existe uma verdade que não pode ser negada.

A função da arte começa, justamente, a delinear-se a partir da orla de todos os limites possíveis.Não se nos afigura despiciendo considerar que o trabalho pictórico de Dorindo Carvalho se situa e se define entre duas balizas essenciais que sempre o marcaram: aquele a que chamamos o «realismo ideológico» e aquele a que chamámos um «expressionismo abstracto». Note-se, uma vez mais, que a palavra ideologia não possui uma conotação política directa. Esse realismo só é ideológico na medida em que transporta em si o legado de uma concepção estética que procura restituir ao homem aquilo que, nele, é verdadeiro e genuíno. É ideológico porque possui uma concepção pragmática da verdade quotidiana, aquela verdade que assiste ao senso comum, manifestando essa cândida simplicidade que se opõe à metafísica. Dorindo nunca abandonou essa expressão do realismo que aborda os tipos humanos em consonância com o seu meio envolvente, como o demonstram as exposições que dedica ao homem português, respectivamente em Caracas, na exposição intitulada Figuras Portuguesas (1985), na qual retomaa temática do camponês, do pescador, da peixeira, a par de uma admirável representação, a óleo, de uma soberba mulher algarvia, e já em Portugal, no espaço da Igreja de Santiago de Monsaraz, na exposição intitulada Olhares Além Tejo (1998), na qual podemos ver a representação dos campaniços alentejanos com as suas características culturais específicas. É de notar um aspecto curioso nesta representação, aparentemente realista, do homem alentejano: há rostos que não possuem boca; apenas o olhar irrompe em força e em determinação.

É nesse mesmo olhar, poderoso e sereno ao mesmo tempo, que podemos reconhecer o olhar do próprio pintor. Um olhar aberto a todos os desafios, para além da inquietação… e de todos os limites.

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