CONTOS & CRÓNICAS – CARLOS REIS – OS ARTIGOS IMPUBLICÁVEIS – FICÇÃO CIENTÍFICA

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Às vezes penso no Trump – infelizmente mais do que devia, para meu recatado sossego e bem estar.

Tenho lido e constatado montes de opiniões e descrições sobre essa figura de banda desenhada americana, espécie de mistura de um “Joker” de Gotham City, um Sheriff racista, mau e renegado de um qualquer Western “B” ou um Lex Luthor, de New York. Para lá de outros imaginários com outros vilões de pacotilha, como os atrás enunciados. Todos eles são personagens “maus” e próprios daquele estranho e inculto povo americano, que sempre se deliciou com imbecilidades de género.

E que não tendo (como nas tais imbecilidades do género) nenhum dos heróis que admira e em que no fundo acredita, ali à mão – nem Batman, nem John Wayne nem Super Homem – não tem agora outro remédio senão aturá-lo. Ao Trump.

Que ainda cima é íntimo do Putin, simpatiza com o Farage e com o Duterte, entre outros novos monstros.

Mas creio que o mais interessante desta minha efabulação é que foram os próprios (americanos imensamente médios) que o criaram, ao monstro. Que o aplaudiram, desejaram e lamberam, que nele votaram – e nele possivelmente se revêem.

Que se vão violentamente lixar e lixar também uma data de outra gente no resto do mundo que dele depende e o teme, aqueles equinodermes.

Ah, mas acorrem-me já os eruditos de Esquerda e da política, a explicarem-me que a Hillary teve mais 300.000 votos, tázaver, carlos, apesar de ela também não interessar a ninguém – no que estamos de acordo, eu e alguns eruditos, com esta interessante contradiçãozinha.

Portanto, segundo todos nós – eles e eu – é o estranho e incompreensível sistema de eleições americanas que permite estas enormidades políticas, com as primárias, as convenções e os delegados, uns estados mais importantes que outros e coisas no género. Os europeus perplexam-se com aquela palhaçada folclórica que são as americanas eleições, do mesmo modo que se perplexam com o seu entusiasmo pelo baseball, um seu nacional desporto que ninguém por cá entende nem consegue perceber o entusiasmo e paixões que suscita.

Sou um anti-americano primário, é verdade – tirando a música da Jazz e o Cinema. E não consigo, portanto, ir tão longe como as exaustivas análises dos connaisseurs, experts e reputados politólogos desta nossa aldeia, que sempre explicam tudo –  todas as eleições que há no mundo e respectivos resultados, à luz da História e de uma realidade sócio económica débil e complexa, expondo o que imensamente sabem sobre o pensamento de cada eleitor, o porquê do seu voto, a razão da sua decisão, os seus traumas, os seus problemas de infância, etc.

Como gosto de Ficção Científica, adoraria a possibilidade um recuo no tempo com resultados diversos – ou seja, a Clinton ganhava – e então lá teríamos os mesmos e encantados e esclarecidos técnicos destas coisas a explicar, como sempre, tudo muito bem explicado.

Que o povo americano afinal retrocedeu, que as mentiras e sacanices do Trump não poderiam nunca sobreviver ao eleitorado, táva-se mesmo a ver, evidentemente, oh, oh, ah, ah,  a democracia salva-se, o mundo respira de alívio e toda a mesma série de sentenças e lugares comuns com que adoram espairecer, mas ao contrário.

Será que não percebem, porra, que tanto faz, que tanto fazia? Ganhasse um ou outra, kéke interessa, houve (há, porra!) uns milhões de gajos, uma metade de um país que gosta do Trump, que é realmente o preocupante.

E da Le Pen. E do Orban.

E do Duterte. E do Erdogan.

E do Hofer. E da Merkel.

E do Portas. E do Passos Coelho.

E do Salazar. E do Hitler.

carlos

1 Comment

  1. Os EUA, o glorioso ‘farol’ da humanidade, que apregoa ‘urbi et orbi’ a primazia dos direitos humanos (será que realmente os pratica no seu próprio território?), que tenta impingir aos outros, com violência e guerra, as suas ideias sobre ‘democracia’, revela-se de corpo inteiro, a meu ver, por exemplo, nestas duas pequenas notícias: ‘Um quarto dos americanos ignora que a Terra gira em torno do Sol’ (AFP, in jornal ‘Público’); ‘Sonho americano? Conheça 10 factos chocantes sobre os EUA’, (in blog ‘Reda(c)ção Pragmatismo Editor(a)). Não será caso para dizer ‘bem prega Frei Tomás?’

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