A CRISE DA FINANÇA – O CASO ITALIANO – 31. . O GRANDE BOOM DA MAÇONARIA – ASSIM MUDA A MAÇONARIA, de GIANFRANCESCO TURANO

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Selecção, tradução e montagem por Júlio Marques Mota. Revisão de Francisco Tavares.

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 O grande boom da maçonaria – assim muda a Maçonaria

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Gianfrancesco Turano, l grande boom dei Fratelli – Così cambia la Massoneria

L’Espresso, 10 de Março de 2014

Fotografia de Luca Ferrari

Os maçons elegeram o novo grão-mestre. Este é a cúpula de 802 lojas maçónicas com um total de 22 mil membros. “L’Espresso” entrou na Nuova Casa. Entre mistérios, poderosos sob investigação, jovens adeptos, opulentos escritórios que não pagam o imposto municipal (Imu). E as denúncias sobre uma casta fechada.

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Sábado, dia 1 de Março, um pouco antes das dez da manhã, os fantasmas que vagueiam pela Itália, pela Europa, pelo planeta, materializam-se em frente ao antigo cinema Belsito, nas encostas do Monte Mario, Roma. Abrigados de uma chuva gelada, os devotos do Gadu (grande arquiteto do universo) trocarão entre si o tfa (triplo fraternal abraço) esperando que o GM (Grão Mestre ) cessante do GOI (Grande Oriente da Itália) Gustavo Raffi inaugure a nova casa maçónica “Ernesto Nathan”.

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A maçonaria usa e abusa das siglas tal como os editores de cartas comerciais. E, de facto, na pequena multidão que aguarda a inauguração de Nathan existe um certo ar de contabilistas em excursão. Idade média avançada. Poucas mulheres, na sua maioria, as esposas, mães e filhas porque o GOI continua a ser de obediência reservada para os homens. Os raros jovens orgulhosamente empunham as bandeiras das RRLL (respeitáveis lojas) e desfraldam-nas dentro da estrutura que já abrigou reuniões das gentes de Craxi, enquanto que a partir desta semana, acolherá as reuniões da loja romana nos sete novos templos construídos no subsolo do Belsito.

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Apesar das luzes brilhantes e paredes caiadas de branco fresco, a trama mítica da Maçonaria universal apresenta um ar modesto. O jornalista à procura de gente VIP deve limitar-se ao antigo deputado do partido radical, Massimo Teodori, ao jornalista da Rai Gabriele La Porta e a Valerio Zanone, ex-secretário do Partido Liberal, durante a primeira República.

As aparências podem enganar. Iniciados e profanos atentos ao fenómeno secular concordam que a Maçonaria nunca esteve tão saudável como agora. Demasiado saudável por vezes. Desde o alto funcionário do Estado ao jornalista, do político ao miliar de carreira, do juiz ao crime organizado, não há quem não possa ser suspeito de empunhar a colher de pedreiro numa das 187 lojas, como eles chamam às associações maçónicas espalhadas por todo o país e muitas vezes em guerra entre eles ao ponto de que a história da unificação da Itália é em grande parte resultado de disputas entre irmãos: Agostino Depretis contra Francesco Crispi, Enrico Cuccia contra Michele Sindona e o acidental Pduista Silvio Berlusconi contra o tecnocrata Mario Monti, presumível braço armado de lojas internacionais.

Mas dado que a Maçonaria postula o secretismo para proteção das personalidades de topo, desta manhã romana do início de Março não é de esperar grandes nomes nem qualquer acontecimento de relevo.

Mesmo os órgãos institucionais convidados ao ex-cinema Belsito, desde o Presidente da Câmara ao Presidente da República, Giorgio Napolitano, que alguns indicam até mesmo como um suposto elo de ligação entre os irmãos americanos e os aventais europeus, limitaram-se a enviar uma mensagem de saudações.

O Grão-Mestre Raffi justifica. “Decidimos esta cerimónia de abertura num tempo muito curto. Por outro lado, eu estava pessoalmente muito empenhado em fazê-la”, admite o advogado Gustavo Raffi, cujo trajeto político passa pelo Partido Republicano. Os inimigos chamavam-lhe o Raffinger italiano, muito imprudentemente. Bento XVI renunciou muito antes do papa maçónico que fez e desfez estatutos a fim de prolongar em níveis recordes a sua permanência no cargo. Depois de quinze anos à frente do GOI, Raffi não pôde candidatar-se às eleições de 2 de março. A inauguração da Casa maçónica chamada Nathan, nome de um velho presidente da Câmara de Roma e Grão-Mestre do GOI até ao advento do maçonofóbico Benito Mussolini, não é, contudo, o último ato da carreira de Raffi e o seu futuro de Grande Velho está assegurado.

Sob a sua orientação de Grande Mestre os profanos vieram em massa bater às portas de GOI que passou de 9 000 membros para mais de 22 mil membros nas 802 lojas nacionais. Muitos têm torcido o nariz face à viragem modernista e aos movimentos dentro do GOI. A Grande Loja, reunião anual que se realiza em Rimini, no mês de Abril, tornou-se um acontecimento esotérico-espetacular a meio caminho entre Sanremo (com concerto de Ornella Vanoni) e a reunião de Comunhão e Libertação. «Só a estrutura Central», critica o notário Silverio Magno, um dos três candidatos às eleições de 2 de março, “custa 6 milhões por ano”. Uma fatia fina mas nada subtil das receitas vai para o bolso do Grã-Mestre: pelo menos 400 mil euros entre remuneração, notas de despesa e benefícios.

Ao contrário da gestão anterior, quando Armandino Corona pensava acima de tudo em salvar o GOI do contragolpe do escândalo P2, com Raffi os irmãos foram obrigados a uma presença regular na loja e ao pagamento pontual da taxa anual (400 euros), sob pena de exclusão de membro da associação. Apenas em contribuições ordinárias, o GOI encaixa cerca de 10 milhões por ano, excluindo doações e contribuições extraordinárias. E se a conta de resultados está a prosperar, a situação patrimonial não o está menos. As principais caixas fortes societárias (Urbs e Augusta 2002) têm dezenas de propriedades imobiliárias registadas no seu balaço num valor estimado em 20 milhões. Mas o valor real é de pelo menos quatro vezes esta cifra. E apesar das manifestações de Raffi contra a igreja que não paga o IMI, o GOI aproveita as isenções sempre que um município lho permite. Quando não o permite é então posto em causa. Aconteceu assim, por exemplo, com a Villa del Vascello, a magnífica residência do Grande Oriente no sopé da colina Janículo para o qual o Capitólio não reconheceu a isenção de pagamento.

O inquilino da Villa del Vascello para os próximos cinco anos, o jornalista de Siena Stefano Bisi, confirmou os prognósticos ao ganhar à primeira volta, com mais de 40 por cento, evitando assim uma segunda volta. No sábado, dia 8 de março o seu mandato será validado pela Comissão Eleitoral salvo se houver contestação. Formalmente, Raffi não apoiou nem Bisi, nem os outros dois candidatos, (Magno e Massimo Bianchi), mas o próprio Bisi declara querer dirigir com a maior obediência maçónica em continuidade com a linha do grão-mestre agora cessante.

«Raffi mostrou o caminho da abertura para o exterior», disse Bisi, 57 anos de idade. “Quando me filiei numa loja da via Montanini em Siena, estávamos em 1982, um ano após o escândalo P2. Íamos para as reuniões às escondidas e os irmãos diziam-me para ter cuidado e não deixar que me reconhecessem quando eu ia a caminho da reunião. Hoje, nós paramos à porta para conversar. Especialmente entre os jovens, ainda existem muitos maçons que não sabem disso, e espero que os possa inscrever. Com a crise de valores e da política, com a desertificação das almas, para onde mais deveriam ir os jovens?»

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Pode-se argumentar que mesmo o poder maçónico em Siena (170 inscritos no GOI ) não está totalmente livre de uma certa desertificação. As desventuras do Monte dei Paschi e do seu antigo nº 1, Giuseppe Mussari, oficialmente um profano mas certamente bem ligado aos ambientes da maçonaria de Siena e Toscana, não enfraqueceram a candidatura de Bisi, um amigo de Mussari. De facto.

Com o vice-diretor do “Corriere di Siena” destacaram-se as lojas da Calábria, com 2000 eleitores mestres. Os rivais de Bisi não gostaram do apoio unânime de uma região que durante a gestão Raffi adquiriu um peso eleitoral e político idêntico ao da Toscana e Piemonte, muito mais populosa e de longa tradição maçónica, e muito superior a regiões muito maiores como a Sicília ou a Lombardia.

Um dos mais críticos foi precisamente o irmão calabrês Amerigo Minnicelli, que denunciou a fraude nas eleições anteriores e foi arrastado perante o tribunal, primeiro ao maçónico e depois ao tribunal comum. “Raffi decidiu ampliar a base”, diz Minnicelli “, e isso certamente não é um crime. Mas a explosão de inscritos na minha região faz refletir, isto é anómalo ao nível local, o consenso quase unânime sobre um único candidato, o advogado do município de Vibo Valentia Marcello Colloca. E a operação “Decollo money ” que levou à prisão em 2011 o empresário Domenico Macri, natural da Calábria e de residência na Umbria bem relacionado com a banca em San Marino, um amigo pessoal de Raffi, envolve a direção da Maçonaria no tempo de Raffi.”

Raffi respondeu à sua própria maneira. Suspendeu Macri, mas expulsou Minicelli. “E quanto a Colloca ponho as mãos no fogo”, acrescenta mesmo que o nome do advogado seja mencionado na nota de informação que há poucos dias, levou à prisão do chefe e do sub-chefe da Brigada Móvel de Vibo Valentia, numa das páginas mais negras na luta contra a ‘Ndrangheta. De acordo com os juízes, a loja de Colloca (“Michele Morelli”) seria a mesma que tinha inscrito alguns juízes locais e Pantaleone “Luni” Mancuso, chefe supremo (mammasantissima) do crime na Calábria, foi quem defendeu a convergência da máfia (‘ndrangheta) com a Maçonaria.

Em setembro passado outra suspensão atingiu “Rocco Verduci”, loja do Grande Oriente de Itália na localidade de Gerace na Locrida por infiltração da máfia. “É verdade que suspendi a loja Verduci”, diz Raffi, “mas até agora não chegou um traço sequer de prova concreta sobre a infiltração. De qualquer forma, quando cheguei ao cargo de Grão-Mestre, os criminosos tinham quarenta anos e já estavam todos dentro. Sobre a infiltração também desafiei monsenhor Giovanni Bregantini, ao tempo bispo de Locri, para um confronto público, seja na loja seja na paróquia ou mesmo na rua, para falarmos também dos podres da Igreja. Mas ele não aceitou.”

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A linha de defesa oficial é reafirmada por Aldo Alessandro Mola, “profano” e histórico da Maçonaria. “A infiltração da máfia atingiu todas as organizações associativas e todas as categorias: partidos políticos, clero, finanças, justiça. É muito pouco generoso marcar com o selo da infâmia somente a Maçonaria que, pelo contrário, é a rede de segurança do Estado quando os partidos e as instituições começam a estalar “.

E certamente as instituições não estalam só na Calábria. Além dos sarilhos de cariz maçónico que têm destruído o Monte dei Paschi di Siena e o processo do aeroporto de Siena, que envolveu o raffiano Enzo Viani, diretor do Urbs Immobiliare, a Toscana do avental que ela está envolvido desde o colapso do Bf segurando Roberto Bartolomei e Riccardo Fusi, construtor muito perto de Denis Verdini, um banqueiro em Florença, o ex-nacional do PDL e homem que sussurra no ouvido de coordenador-ministro Matteo Renzi em nome forzista oposição.

Numa linha da investigação sobre o colapso de Bf surgiram amizades entre alguns juízes que tinham de ocupar-se da empresa do construtor Fusi, o administrador delegado da Fiorentina Sandro Mencucci e dois profissionais, um dentista e um advogado que ficaram sob investigação nos termos da lei 17, de 1982, a pouco aplicada lei Anselmi sobre as associações secretas aprovada dez meses antes da descoberta da loja maçónica Propaganda 2 de Licio Gelli (Março de 1981).

Entretanto como a deputada da Democracia-Cristã Tina Anselmi é uma das figuras mais odiadas na maçonaria juntamente com os antigos procuradores Agostino Cordova e Luigi De Magistris, a questão é então de nos interrogarmos se os princípios das trevas maçónicas vêm de um advogado e de um dentista em Prato. A mesma questão, no entanto, já circulava nos tempos de Gelli, um ex-executivo da Fábrica de Colchões Permaflex de Frosinone.

Mas a questão sobre as lojas secretas, se as há, e de quão são influentes, está destinada a continuar sem resposta. No interior das lojas, governantes e opositores estão unidos em dizer não quando se lhes pergunta se ainda existem iniciações “sobre a espada” ou ao “ouvido do Grão-Mestre”, o que seria reservado aos maçons de maior influência, como não se sabe se os pesos pesados preferem inscrever-se nas lojas estrangeiras, em Monte Carlo, em Ticino, em Malta ou em Londres, para manter a máxima discrição. Mas é um não obrigado. As atualizações das lojas P2 – P3, P4 e P5 do sketch de Corrado Guzzanti, essas, estão todas em versão oral.

Veja alguns vídeos de Corrado Guzzanti:

https://www.youtube.com/watch?v=DJDNzhadcvM

https://www.youtube.com/watch?v=Lkr3jfZielc

https://www.youtube.com/watch?v=DJDNzhadcvM&t=8s

https://www.youtube.com/watch?v=exq7rBkNEFc

https://www.youtube.com/watch?v=GdkafqCh-_o

https://www.youtube.com/watch?v=Lkr3jfZielc&t=48s

e sobre a crise europeia veja:

https://www.youtube.com/watch?v=LsnX7rBf4y0

Imagens:

Gustavo Raffi

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Referência:

Gianfrancesco Turano, L?Espresso, l grande boom dei Fratelli – Così cambia la Massoneria. Texto disponível em:

: http://espresso.repubblica.it/attualita/2014/03/10/news/come-cambia-la-massoneria-con-il-nuovo-gran-maestro-del-grande-oriente-d-italia-1.156511

 

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