FRATERNIZAR – Mais três novos livros que vêm pôr tudo a nu – O MONSTRO SAGRADO ‘SENHORA DE FÁTIMA’ – por MÁRIO DE OLIVEIRA

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O ingénuo teatrinho das “aparições” da senhora de fátima, concebido e levado à cena, uma vez por mês, entre maio e outubro de 1917, por três crianças da paróquia de Fátima, nefandamente instrumentalizadas por clérigos de Ourém, secretamente tocados-dirigidos pelo seu mentor-mor, o Cónego Formigão, do Seminário de Santarém, ali tão perto, veio a tornar-se, cem anos depois, naquele monstro sagrado que hoje lá se vê e que movimenta muitos milhões. De euro-dólares e de pessoas. Mais euro-dólares do que pessoas, sublinhe-se. Que os monstros sagrados têm este terrível e demoníaco condão.

Felizmente, depois dos meus dois irrefutáveis livros jornalístico-teológicos, a desmontar tudo aquilo, concretamente, o livro Fátima Nunca mais, Campo das Letras 1999, e o livro FÁTIMA $. A., Seda Publicações 2015, eis que acabam de aparecer, no início deste ano centenário, mais três novos livros da responsabilidade de jornalistas-escritores, que nos fornecem novos dados, fruto de profunda e criteriosa investigação sobre como tudo aquilo foi montado e consumado.

São já cem anos de crescente e refinada exploração financeira. E, bem pior do que isso, são cem anos a matraquear-impor às multidões sedentas de sinais do céu, porque de todo avessas aos sinais dos tempos, um tipo de fé e de espiritualidade religiosa com tudo de lixo e de sal que perdeu a força de salgar, que envenena mortalmente as mentes-consciências das multidões. Cujas, nos seus ancestrais medos, continuam a ser criminosamente atraídas-arrastadas para lá. Que os monstros sagrados são insaciáveis. Devoram tudo e todos, graças aos muitos sacerdotes clérigos e laicos de proa que s servem, depois de se lhes terem vendido e à própria alma.

Ninguém pode ocupar cargos de proa na pirâmide do Poder religioso, político, financeiro sem, antes se lhe ter vendido e à própria alma. Todos aqueles farrapos de luxo com que institucionalmente se vestem perante os demais; todos aqueles gongóricos títulos com que fazem questão de serem tratados; e todos aqueles grandes e luxuosos palácios em que fazem questão de viver escondidos, revelam bem os farrapos humanos em que todos eles se tornaram. Têm-se na conta de os maiores e os melhores sobre a terra. São os mais infelizes e os mais desgraçados entre os nascidos de mulher.

“A Senhora de Maio. Todas as perguntas sobre Fátima”, Temas e Debates-Círculo de Leitores 2017, da responsabilidade de António Marujo e Rui Paulo da Cruz, é o primeiro, por ordem cronológica, dos três livros. Trata-se de uma obra que começou por ser um filme-documentário de alta qualidade, com o mesmo título, editado em Maio de 2000. No qual se dá voz e vez a um variado e significativo leque de pessoas, de diferentes sensibilidades, entre as quais eu próprio acabei também incluído, com grande surpresa minha. Juntamente com Bento Domingues, D. Januário Torgal Ferreira, António Matos Ferreira, D. José Saraiva Martins, João Marto, Luciano Cristino, Luciano Guerra, Luís Kondor, Maria Belo, Moisés Espírito Santo e outras mais.

O Documentário, elaborado a partir de entrevistas videogravadas, mais ou menos extensas, aproveita umas quantas afirmações de cada entrevistado, mas deixa compreensivelmente de fora a maior parte do conteúdo das gravações. Felizmente, chega agora o Livro que reproduz praticamente tudo o que cada pessoa entrevistada diz na altura sobre as “aparições” de Fátima. E não só. Traz novas entrevistas e reproduz em grafia minúscula muitos textos que lhe dão um valor documental importante. Quem vier a aceder a este Livro poderá perceber quanto o meu depoimento destoa da quase totalidade dos demais. Mesmo as vozes mais críticas, como as de Frei Bento Domingues e do Bispo Januário T. Ferreira, acabam por reproduzir um discurso redondo, eclesiasticamente correcto. Por isso, inverdadeiro. Porque ninguém pode justificar teologicamente o monstro sagrado “Senhora de Fátima”. Insinuar que há completa identidade entre este monstro sagrado e Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, é a aberração das aberrações. Teologicamente, um vómito! E se os papas e os bispos dão cobertura a este vómito, só podem ser vomitados pelo Deus de Jesus, o mesmo do Apocalipse. Não são carne nem peixe. Não são frios nem quentes.

“FÁTIMA, Milagre, Ilusão ou Fraude”, de Len Port, Clube do Livro, Guerra e Paz 2017, é outro dos três livros. Trata-se de um escritor nascido e crescido na Irlanda do Norte e que há vários anos reside em Portugal, concretamente, no Algarve. Como se percebe pelo título, em forma de pergunta, a grande conclusão a que se chega é que Fátima é uma ilusão e uma fraude. Como de resto, são todas as “aparições” de deusas e de deuses, ou de mortos que se passeiam por aí e se divertem a aterrorizar certas pessoas altamente sugestionáveis e vítimas de microscópicas lesões cerebrais que as levam a ver e a ouvir o que está gravado no seu inconsciente, ou no inconsciente de outras pessoas crédulas que, porventura, as procuram.

O último dos três livros apresenta-se também sob a forma de pergunta. “FÁTIMA: Milagre ou Construção? A investigação que explica como tudo aconteceu”, Ideias de Ler 2017. Trata-se de um livro da autoria de Patrícia Carvalho, conhecida e prestigiada jornalista do PÚBLICO. Como sugere a própria pergunta do título, a autora chega à conclusão, depois de rigorosíssima e minuciosa investigação sobre a Documentação disponibilizada pelo próprio santuário que ela pôde consultar, nomeadamente, a correspondência trocada entre os principais criadores das “aparições”, bem como do papel determinante do primeiro bispo da restaurada diocese de Leiria, D. José Alves Correia, e de múltiplas outras pessoas leigas e clérigos. É um manancial praticamente desconhecido até à saída deste Livro. Um dado curioso a reter: Na muita bibliografia consultada pela Autora, figuram também os meus dois livros sobre o tema, o primeiro dos quais, ela cita com bastante destaque, no capítulo sobre “Vozes críticas” dentro da própria igreja católica.

São três livros a não perder e que valem só por si. Se bem que a hierarquia da igreja católica, porque, nesta matéria, age de má-fé ou de fé religiosa infantil, infelizmente não queira saber deles para nada. O monstro sagrado, “senhora de fátima” é hoje de tal modo poderoso, que nem que Lúcia e os seus dois primitos se erguessem dos túmulos e testemunhassem que tudo não passou de um teatrinho, ninguém tomaria a sério o seu testemunho. São assim os monstros sagrados criados pelo sinistro Religioso e seus sacerdotes. Até que as multidões deixem, finalmente, de procurar fora delas a solução para os seus múltiplos problemas. Porque em boa verdade a solução para os seus múltiplos problemas encontra-se dentro delas e só dentro delas. Só que esta é via política porta estreita e poucos são os que aceitam praticá-la. Felizes, entretanto, quantas, quantos de nós a praticamos. Porque então crescemos de dentro para fora em humano, por isso, em liberdade e em dignidade. E não há monstro sagrado por maior que seja que nos desvie desta via política. A única que Jesus Nazaré pratica e nos propõe.

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