FRATERNIZAR – Você disse, QUARESMA?! – por MÁRIO DE OLIVEIRA

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Se as igrejas paroquiais saírem por aí a perguntar às novas gerações, O que entendeis por Quaresma?, logo verão os olhos arregalados de espanto que elas exibem. Felizmente, já vivemos num tempo pós-cristão e pós-católico romano. Mas as igrejas paroquiais e diocesanas cristãs e católicas continuam de cabeça enterrada na areia e fazem de conta. Os sacerdotes, párocos, pastores e bispos residenciais vão todos nus, mas não querem saber. Na sua impotência e esterilidade pastorais, entretêm-se com as poucas pessoas de idade e com bastantes crianças que continuam a ser criminosamente obrigadas pelos pais a ter de frequentar as catequeses e suas missas dominicais, se bem que tais coisas não lhes digam nada. São coisas que não andam nos seus tlms e smartphomes, por isso já não existem para elas. E, se um ou outro pároco mais afoito e modernaço se mete a fazer missas via internet, direccionadas para os tlms, de pouco ou nada lhe adianta. As crianças-adolescentes olham para aqueles rituais medievos e para aquelas vestes do tempo das cavernas e, com um simples toque no monitor, tudo desaparece num ápice. Felizmente.

Para terrores e ditaduras milenares, religiosas e cristãs católicas romanas e protestantes já bastam os dois milénios de cristianismo. O terceiro milénio é pós-cristão e pós-católico romano ou não será. As ditaduras das tradições são isso mesmo, ditaduras. E se as gerações passadas aguentaram a existência de clérigos e de pastores nas suas vidas e nas suas consciências, as novas gerações terceiro milénio não estão mais pelos ajustes. Vivem bem sem essas ditaduras, sem essas tradições, sem a presença desses clérigos e pastores. Quase se pode dizer que já nascem vacinadas contra esse tipo de vírus ideológico-teológico. Dois mil anos de cristianismos fizeram inúmeros males, crimes, horrores, numa palavra, pecados estruturais. O ADN das gerações nascidas no terceiro milénio já vem vazio de todas essas perversidades religiosas e a tudo o que ande relacionado com elas.

Ainda suportam as festas do natal e da páscoa, porque integram o calendário civil por que se regem as nossas sociedades ocidentais. E porque frequentam as escolas desde os primeiros anitos de idade e, nessas alturas de cada ano, há férias programadas que têm de acatar e de aproveitar. Mas tudo vivido por elas já na saudável dimensão secular, laica. O religioso deu lugar, está a dar lugar ao outro, à outra distinto de cada uma, cada um de nós. E é cada vez mais imperiosa a religação, não a um mítico deus fora da história, mas a cada uma das outras, cada um dos outros distintos de nós, todos misteriosamente habitados por Deus que nunca ninguém viu e nos faz protagonistas na História, nós a crescer e Ele a diminuir! Só esta religação dignifica quem a vive e nos faz ser e crescer em humano de dentro para fora. A religação a um mítico deus fora da História é alienação, crime, dirá este terceiro milénio, quando a primeira geração nele nascida chegar à idade adulta e estiver à frente dos destinos dos povos das nações e do planeta Terra.

As igrejas, com suas paróquias e dioceses territoriais, têm de morrer e não ressuscitar mais. Morrer em definitivo. A saúde dos povos exige-o. Dois mil anos de domínio absoluto das mentes-consciências dos povos das nações, inclusive das minorias dos privilégios que as dirigiram-domesticaram já foi tempo demais. A revolução tecnológica e informática que marca o início do terceiro milénio não suporta mais semelhante ditadura. Silenciosamente, faz o seu caminho. Tão silenciosamente, que as hierarquias das igrejas nem se dão conta. E, se dão, fazem de conta que não. E quem vier atrás que feche a porta. Até o papa Francisco que, há 4 anos, entrou de rompante, hoje mais parece um pároco de aldeia mais. Mesmo assim, em guerra aberta com alguns cardeais que ainda não deram conta que ele já não é mais o que pareceu ser.

Por mim, sempre disse e escrevi que o papa Francisco era mais do mesmo, com a vantagem para a Cúria romana de que tinha um invulgar jeito para improvisar, representar e discursar. O jesuíta que é, desde jovem, não engana. Em novo, fez voto de obediência como um cadáver ao papa de turno. Já arcebispo emérito de Buenos Aires, é escolhido para bispo de Roma e papa. Ao aceitar, torna-se o voto vivo de absoluta obediência ao papado e sua Cúria. Cego e surdo é quem não vê que tudo o que ele tem dito e feito tem contribuído para esconder, precisamente, quando mais parece revelar, todos os crimes e todas as perversidades da Cúria romana, demasiado expostas aos media e ao mundo nos anos de Bento XVI, agora papa emérito no Vaticano.

No terceiro milénio pós-cristão já não há lugar para papas. Nem deste estilo, nem de nenhum outro. Só o cristianismo-catolicismo romano imperial, teologicamente estruturado por Constantino e seu Credo de Niceia-Constantinopla suporta a existência de papas. Mas este é já um milénio definitivamente pós-cristão. A chamada quaresma eclesiástica, imediatamente a seguir ao Carnaval é a grande prova disso. Neste nosso hoje, nem jejuns, nem abstinências. Nem penitências demencialmente procuradas e realizadas. São hoje cada vez mais intoleráveis as torturas que os poderes e seus prepotentes agentes históricos impõem às populações. Do que verdadeiramente precisamos não é de mais cruzes e de mais sofrimentos. Precisamos de seres-viveres históricos comensalidades, aliás, as verdadeiras Eucaristias de Jesus Nazaré, o filho de Maria. Cruzes, penitências, jejuns, cilícios, missas, confissões auriculares, são coisas do império romano e dos papas que lhe sucederam. E dos bispos e dos párocos-pastores nos quais os papas delegam parte do seu poder.

Comensalidades e longos períodos de silêncio, frequentes mergulhos na natureza, nas montanhas e nas margens dos pequenos rios a caminho dos grandes rios e dos mares, eis do que hoje mais necessitamos. Quando os bispos e os párocos-pastores decidirem despir a máscara de clérigos e tornar-se seres humanos simplesmente entre nós e connosco, ao jeito de Jesus, são bem-vindos. De contrário, que continuem a apodrecer nos templos e nos altares que lhes devoram a própria alma. Será que já não conseguem fugir desses antros sagrados, quando até Deus que nunca ninguém viu e se dá a conhecer em Jesus Nazaré é secular e profano?! Melhor lhes fora então não terem nascido!

2 Comments

  1. Já pensou no “prejuízo” que era para todos nós se o seu pai e a sua mãe nunca se tivessem encontrado? Você é mesmo mau e ressaibiado… Mas DEUS ainda não desistiu de si. Sabe porquê? Claro que sabe. Como eu sei. E não tenho os conhecimentos teológicos que você tem. Mas tenho o Amor do Deus Misericordioso que é Pai de todos nós. Sorte a sua.

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