SINAIS DE FOGO – O PIO “PINGO DOCE” – por Soares Novais

À entrada das lojas “Pingo Doce” há um painel com as fotografias da gerência e da secretária. Regra geral são fotos de mulheres. Sorridentes. Trata-se de um “biombo” que esconde uma realidade cruel: baixos salários e desrespeito total pelos mais elementares direitos dos trabalhadores.

Alexandre Soares dos Santos, o pio SS, pois sempre que fala exibe as suas pretensões paternalistas, entregou a gestão da hiper-mercearia a um dos filhos, mas o “Pingo Doce” continua a ser um dos patrões mais agressivos do país.

Há muito que se sabe que o “Pingo Doce” e outros grupos de “Distribuição” exigem tudo e pouco ou nada dão em troca – 560 euros, subsídio de refeição incluído, é o salário da esmagagadora maioria dos 88 700 trabalhadores dos “hiper”.

Tão grande miséria leva a que  “1500 funcionários do grupo têm os salários penhorados por dívidas e alguns até roubam nas lojas Pingo Doce para matar a fome”, segundo o pio SS já revelou publicamente. (O pai do “Pingo Doce” integra o conselho de patrocinadores da Associação Cristã de Empresários e Gestores www.acege.pt – “cuja missão é mobilizar os empresários para a construção de uma sociedade mais justa.”)

 

Agora, uma reportagem publicada na última edição da “Visão” dá-nos a conhecer os rostos daqueles que se atrevem a afrontar publicamente os todo-poderosos “Pingo Doce”, “Sonae” e “Dia/Minipreço”. Eis os destaques daquilo que disseram:

 

– Luísa Alves trabalha numa loja “Pingo Doce” e denuncia uma das ameaças constantes: “portas-te mal e vais para a peixaria ou para a cozinha, desfiar bacalhau ou pato durante umas horas.”;

– Rui Ferrage, que opera no armazém da Sonae na Azambuja, diz que as “instalações  são conhecidas por “Guantánamo” devido ao alegado ambiente repressivo e às grades na zona dos gadgets”;

– Alice, operadora de caixa do Dia Portugal/Minipreço, revela que “toda gente que pede horário fixo fica marcada. A partir daí, para fechar a caixa ou fazer uma pausa tinha de chamar a chefe imensas vezes”;

– E Paulo Borba, chefe de loja na mesma cadeia de distribuição, denuncia que “estive 20 anos a trabalhar na empresa com a folha limpa. Depois de assumir a função de dirigente sindical, levei quatro processos disciplinares. Quatro!»

 

Sabe-se: as cadeias de distribuição são máquinas de explorar e  não gostam de cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres. O “Pingo Doce” fá-lo já noutros países. Nomeadamente na Polónia, através da rede Biedronka e cujos atropelos às leis de trabalho daquele país já levaram a Fundação de Helsínquia para os Direitos Humanos a definir a Jerónimo Martins como  “o símbolo do abuso dos direitos dos trabalhadores na Polónia”.

 

É este símbolo, interpretado por um grupo fundado por um dos dois bilionários portugueses com assento certo na lista da “Forbs”, que fazem de “Calçada de Carriche”, escrito por António Gedeão em 1958 no seu “Teatro do Mundo”, um poema profunda e revoltantemente actual. E é, também, um retrato a preto e branco de um patrão português. Por mais pio e paternalista que se apresente.

 

 

 

 

 

1 Comment

  1. A chamada do título e o desenvolvimento do post são dedicados ao Pingo Doce, embora no desenvolvimento do texto se refiram outras cadeias de supermercados que não tratam melhor os trabalhadores.

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