FRATERNIZAR – Papa em Fátima com hino e tudo – O CÚMULO DA INDIGNIDADE HUMANA – por MÁRIO DE OLIVEIRA

 

Se ela se concretizar, a anunciada viagem do papa Francisco dias 12 e 13 de Maio a Fátima materializa o cúmulo da indignidade humana. Com ela, o cristianismo católico romano mostra bem o que é e ao que veio-vem. Por sua vez, nunca o jesuitismo de Inácio de Loyola, um dos muitos filhos do cristianismo papal, foi tão rasca, como desde que há quatro anos conseguiu ocupar, na pessoa do jesuíta argentino Mário Bergóglio, o trono imperial que foi dos imperadores de Roma e, não muitos anos depois de Constantino e do seu Credo de Niceia-Constantinopla, passou a ser dos papas, seus sucessores. Com o voto de obediência ao papa de Roma por parte do jesuíta argentino feito papa, há 4 anos, o papado atingiu o seu cume. São dois num só, o papa monarca absoluto dogmaticamente infalível em matérias de fé, e o jesuíta com voto de obediência ao papa. No caso, voto de obediência a si próprio. E a verdade é que, 4 anos depois, o papa é a igreja e a igreja é o papa. Fora do papa Francisco, não há igreja. Para os media, ele é a igreja e a igreja é ele. Tudo o mais é menos ainda do que paisagem. Tudo e todos na igreja e no mundo estão em função dele. Existem para ele. Para que ele brilhe e se afirme sobre as mentes consciências das pessoas e dos povos.

O terrífico de tudo isto é que, com o papa Francisco no trono papal, desapareceu, até, Jesus, o filho de Maria. Só há Jesuscristo, o filho de David, o mesmo do Evangelho de S. Paulo, o único que se agrada de papas, sacerdotes e outros poderes. Não se agrada de seres humanos livres e sororais. Desapareceram também os próprios seres humanos, na originalidade de cada qual. Há apenas multidões compulsivamente atraídas para ele, quais borboletas da noite atraídas pela luz, contra a qual batem uma e outra vez, até caírem estateladas e mortas no chão. As multidões vão ao encontro do papa por milagres, e regressam espoliadas de tudo, dos seus bens, do seu próprio pensar e, mil vezes pior que tudo isso, da sua própria dignidade. Ainda têm voz e vez, mas não para dizerem o que lhes vai na alma, apenas para gritarem até à exaustão, sucessivos Viva o papa! Ao mesmo tempo que batem palmas, muitas palmas, como sempre fazem os figurantes no decurso das gravações de cenas de um filme que inclua multidões a fazer o papel de alucinadas e de histéricas perante o seu ídolo de estimação. Só que aqui, o ídolo de estimação é o papa Francisco. O que perfaz um crime sem perdão, pois não se trata de gravar cenas de um filme, mas de cenas da vida real, como tal, o cúmulo da indignidade humana.

É sabido que os jesuítas foram fundados no século XVI, como um exército doutrinal ao incondicional serviço do papa e da sua ambição de domínio urbi et orbi sobre as mentes-consciências dos povos, contra Lutero e o seu protestantismo, por isso com a missão preferencial de fundar e dirigir colégios, universidades e residências universitárias, a serem frequentados por crianças, adolescentes e jovens, filhos de famílias com estatuto muito acima das famílias-pé-descalço. Com o objectivo de, aí, lhes formatarem as mentes para estarem em total sintonia com o sistema de doutrina de cada papa de turno, nas suas vertentes filosófica, teológica e científica. Um sistema de doutrina que fundamenta e justifica perante as multidões a existência do poder. Cujo, para o ser verdadeiramente, terá de ser monárquico absoluto. Perante o qual a única postura ortodoxa é obedecer como um cadáver. Sem nenhum lugar para a consciência de cada qual, encarada como o que há de mais temerário e insensato. Uma vez que nada garante mais segurança aos indivíduos e povos do que o voto de obediência àquele que lhes é apresentado como o seu legítimo superior. E nada gera mais instabilidade e desconforto pessoal e social numa sociedade de massas do que a liberdade, que exige a fidelidade à própria consciência, um exclusivo dos seres humanos, de todo ausente nas multidões e nos cadáveres.

Graças a esta prática jesuítica e papal, as minorias dos privilégios do mundo inteiro sabem bem, em cada geração que vem ao mundo, quem são os mais aptos e os mais formatados, aos quais podem e devem confiar o ofício de educar-formatar as mentes-consciências das multidões, de modo que estas continuem, suas eternas reféns. Multidões sem voz, sem vez, mergulhadas no Medo de míticas deusas, míticos deuses, carne para canhão. barrigas de aluguer de filhas, filhos que, se tiverem dois dedos de testa, são logo apanhados, à saída das universidades, para postos de chefia e de decisão nas multinacionais do Mercado global e nos lugares de topo dos Estados. De modo que, quaisquer que sejam os nomes por que se designem os sistemas de poder político, as sucessivas minorias dos privilégios têm sempre o seu decisivo papel assegurado na condução da história. É graças a todo este trabalho cientificamente realizado por tudo quanto é jesuitismo religioso e laico que as multidões, neste nosso 2017, não têm como resistir ao histerismo fatimista e avançam completamente alucinadas para o santuário S.A. da nossa vergonha, onde perdem por completo a sua dignidade e de onde, depois de se terem apagado os holofotes, regressam a suas terras espoliadas de tudo.

Os próprios bispos católicos e seus clérigos nas paróquias e nos media eclesiásticos, todos super-formatados por este sistema ortodoxo de doutrina, acabam por realizar o mais macabro dos papéis junto das multidões sem nome e sem consciência, compulsivamente atraídas para o santuário e para o papa jesuíta. Tão pouco o papa Francisco se dá conta do papel que está a protagonizar neste centenário da nossa vergonha. É o chefe máximo, o poder máximo, único e absoluto, por isso, o menos humano entre os menos humanos, o menos filho de mulher entre os menos filhos de mulher. Todos estes exércitos humanos rumarão quais borboletas da noite, compulsivamente para Fátima, a cidade mais idolátrica de Portugal e da Europa. Não têm como não rumar para lá. A atração pelo abismo é tão poderosa, que as multidões não têm como resistir-lhe.

Para cúmulo, o Santuário S.A. criou, entre múltiplos outros ramos de negócio religioso, um hino do centenário, com letra de Tolentino de Mendonça, o padre madeirense que está na berra e é pau para toda a colher, e com música de João Gil. O exemplo acabado do nada e da coisa nenhuma que são todos os ídolos e todos os poderes, também e sobretudo o de Fátima S.A.. Um coro de vozes jovens, elas e eles, alucinados e histéricos fazem o vídeo que já circula no Youtube. O exemplo da pouca vergonha que é o centenário, a senhora de fátima, o céu-azinheira onde ela permanece empoleirada dia e noite, enquanto os seus fãs se confessam “apenas traço cinzento” multiplicado por milhares, milhões. A confirmar que é muito mais fácil viver espoliado da própria consciência, do que assumir a vida nas próprias mãos; obedecer aos chefes do que sermos sujeitos autónomos e senhores dos próprios destinos e dos do planeta. O que mais confrange é ver muitas, muitos habilitados com formação académica laica e religiosa integrarem as multidões alucinadas e histéricas compulsivamente atraídas pelo papa jesuíta, portador de uma teologia que mata. Não se estranhe que, perante um papa assim, o Mercado global agradeça e se junte aos aplausos e aos elogios. É de vómitos!

1 Comment

  1. Na sua sanha destruidora, o João optou por se esquecer (é uma opção) que este papa é o único chefe de estado que atacou o capitalismo selvagem nos seus fundamentos e pediu desculpa ao mundo pelas faltas cometidas pelos membros da sua congregação. Há mais algum que tenha feito algo parecido?
    Quais as razões daquela opção?
    Talvez o João possa esclarecer, se conseguir. Mas não acredito. É uma questão de fé.
    Não esbanjámos……….Não pagamos!!!!!!!!!!

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