CARTA DO RIO – 144 por Rachel Gutiérrez

A denúncia do Procurador-Geral revela a metástase da corrupção que devastou o Brasil. O sistema político implodiu, fez-se um campo de ruínas. Exacerba-se o desespero dos políticos que, desmascarados, não pensam em nada senão em salvar a própria pele, custe o que custar. Da tentativa de aprovação a toque de caixa de uma autoanistia à adoção do voto em lista fechada para assegurar sua reeleição e foro especial, as tramoias urdidas no Congresso provocam uma sensação de náusea.

Essas palavras são da escritora e acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira, em seu artigo deste último sábado para o Jornal O Globo. Traduzem fielmente o que pensa e sente o povo brasileiro.

Ela também escreveu:

A desfaçatez dos políticos à cata de impunidade contém outro imenso risco, o de deixar intactos os múltiplos esquemas de corrupção ainda não alcançados pela Lava-Jato. É provável que o que já veio à tona seja apenas a ponta de um iceberg cuja parte ainda submersa se espraia por todos os níveis da administração pública, estatais fundos de pensão, agências reguladoras, enfim por todo e qualquer espaço em que haja recursos públicos a serem saqueados.

Só o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, ora preso na Penitenciária de Bangu 8, desviou dos cofres públicos mais de 250 milhões de reais!

Por tudo isso, percebe-se que a atmosfera atual do nosso país mostra cansaço, desgaste e desalento.

Com movimento abaixo do esperado, segundo a própria organização, manifestantes se reuniram em várias cidades do Brasil para protestar, neste domingo (26), a favor da Operação Lava Jato e contra a impunidade da classe política.  O povo foi às ruas, como já é habitual, de forma pacífica, sem atropelos nem quebra-quebras como nas manifestações dos movimentos sindicais bancados pelo PT, e num domingo, o que não prejudicou a mobilidade de qualquer trabalhador. A Lava-Jato recebeu apoio em 19 estados. Em Brasília, o enterro simbólico de políticos marcou o ato: Lápides com os nomes de Dilma Rousseff, Aécio Neves, Rodrigo Maia (atual presidente da Câmara dos Deputados) e Eunício de Oliveira,  (presidente do Senado) traziam cruzes e a data – 2018, o que significa que estarão mortos para as próximas eleições. As mais expressivas foram as passeatas de Porto Alegre, Recife, Salvador, Campo Grande, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo e, em todas as de 60 cidades,   “pessoas acima de 50 anos predominaram, e a maior parte dos cartazes trazia palavras de apoio ao Juiz Sérgio Moro, pelo fim do foro privilegiado e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.” Em verde e amarelo e com cartazes contra a corrupção e pelo fim da  impunidade, o povo já um tanto desalentado encheu uma parede de vidro, em São Paulo, com bilhetes em defesa da democracia. Mesmo em manifestações menores como as de ontem, a inventividade popular parece inesgotável.

De acordo com os jornais, líderes do Movimento Vem Pra Rua e do MBL (Movimento Brasil Livre), que organizaram os atos, elegeram o Congresso Nacional como principal foco das manifestações, como já disse. Ali, políticos dos principais foram os alvos dos protestos. Além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), Renan Calheiros (PMDB-AL), Rodrigo Maia (DEM-RJ), Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Aécio Neves (PSDB-MG). O presidente Michel Temer sofreu poucos ataques porque a economia vem apresentando sinais de melhora. E o que sempre nos tranquiliza nesse tipo de manifestações convocadas pelas redes sociais é seu caráter pacífico e a naturalidade com que transcorrem. No mesmo dia, ficamos sabendo que em manifestação de protesto na Rússia de Putin (o amigo de Trump), 500 pessoas foram presas, inclusive o líder da oposição. E um dos alvos do protesto de lá foi o primeiro ministro, acusado de enriquecimento ilícito.

Aqui, em seu artigo das segundas-feiras, Ricardo Noblat diz que Dilma Rousseff afundou o país na maior recessão econômica de sua História, dos anos 30 do século passado para cá. Mas tanto ela quanto Lula se dizem de tudo inocentes, perseguidos e injustiçados.

Noblat termina assim seu artigo:

 O que não se sabia com detalhes se torna conhecido com as delações de executivos da Odebrecht. É de arrepiar. Fora da Lava-Jato não haverá salvação. Ou melhor: só haverá se promovermos em 2018 um expurgo político extraordinário que limpe governos, Congresso e Assembleias Legislativas.

Oxalá possamos realmente fazê-lo. Pois, segundo o analista político Murillo Aragão, repetindo o que teria dito Pedro Malan, (ex- Ministro da Fazenda de Fernando Henrique Cardozo): No Brasil, até o passado é imprevisível, imagine o futuro…

3 Comments

  1. ” *A denúncia do Procurador-Geral revela a metástase da corrupção que devastou o Brasil. O sistema político implodiu, fez-se um campo de ruínas. Exacerba-se o desespero dos políticos que, desmascarados, não pensam em nada senão em salvar a própria pele, custe o que custar”*

    Aqui também temos mulheres deste estofo -Aleluia !

    *Excelente -Maria *

  2. Correção: Ali, ( no Planalto de Brasília) políticos dos maiores partidos foram alvos dos protestos.

    Peço desculpas.
    Rachel

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