CONTOS & CRÓNICAS – CARLOS REIS – OS ARTIGOS IMPUBLICÁVEIS – O JOÃO PAULO II AINDA VENDE MUITO BEM

 

 

 

Eu nem acredito que as pessoas tenham a paciência necessária para ler o curioso texto de jornal que aqui incluí.

Claro que como estudioso apaixonado do fenómeno que sou, não pude deixar de o ler na íntegra, acumulando assim cultura. Assinalei os passos mais importantes, aquilo que me pareceu mais tocante nesta coisa das demonstrações de fé, apenas para os eventuais leitores se situarem. Será realmente fé?

Ou uma fèzada?

Para lá de toda a contemporânea (e pelos vistos permanente) ignorância e obscurantismo das sociedades e perante o descritivo quase sórdido (embora anedótico) de toda a porcaria kitsch, a raiar a loucura e o surealismo, que em Fátima é permanentemente vendida, eu espanto-me, eu interrogo-me.

O que é que isto tem ou terá a ver com fé? Apesar de ateu praticante e convicto que sou, ainda me resta algum – digamos – respeito, ou se quiserem, um espanto, uma contenção secreta e até admirativa por quem tem um desígnio, íntimo ou discreto que seja, por alguém ou alguma coisa.

Poderão argumentar: mas isto, esta coisa de os vendedores (vendilhões do Templo, baratos e a retalho) tirarem partido e lucros de uma multidão de beatos que acredita em milagres e outras injustiças – sim, porque os milagres são uma injustiça, sobretudo para quem fica de fora – nada tem a ver com a fé (ou a fèzada) da mar de gentes de olhos em alvo e mão no peito, que preencherá todos os centímetros quadrados daquela interessante cidade, daqui a umas semanas e perante um Papa’s show, uma coisa que só acontece de cem anos em anos-luz e bissextos.

E eu direi: tem, sim senhor. Tem a ver com tudo. Porque (na minha ateia, descrente opinião e eterna desconfiança de multidões) a haver verdadeira Fé, um sentimento desses, que é (que deveria ser) uma coisa forte, séria e própria de cada um, não se compadeceria com palhaçadas destas, com encenações grotescas. Não iriam a correr comprar santinhos de plástico, senhoras de Fátima made in China nem cuecas com os pastorinhos nelas debruados. Poupem-me!

E mais. Sei de gente religiosa (que não tenho outro remédio senão respeitar – por alguma coisa que me custe) que não embarcam, jamais embarcariam nisto, neste Carnaval absolutamente insólito e escuso, num tempo com tanta coisa má, importante e terrível a erradicar e contra ela lutar. Num tempo com tanta coisa bela e boa e à míngua de usufruir.

Serão essas pessoas (possivelmente tão minoritárias quanto os minoritários e sinistros ateus por aí disseminados) que me darão razão, neste meu desbundar, nesta minha reflexão, neste meu desabafo.

Morra o Dantas, morra Pim!

Carlos

2 Comments

  1. ” Sei de gente religiosa (que não tenho outro remédio senão respeitar – por alguma coisa que me custe) que não embarcam, jamais embarcariam nisto, neste Carnaval absolutamente insólito e escuso, num tempo com tanta coisa má, importante e terrível a erradicar e contra ela lutar. Num tempo com tanta coisa bela e boa e à míngua de usufruir.”-nem mais .

    Maria

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