CONTOS & CRÓNICAS – CARLOS REIS – NOTICIÁRIO

 

(dos jornais)

O Grupo mexicano Los Ángeles lançou OPA sobre o Espírito Santo Saúde e oferece prémio de 9%, valorizando as acções deste para 4,3%, um  negócio que avalia o Espírito Santo Saúde em 410 milhões, mas precisa do aval da Rioforte, que aliás pediu gestão controlada no Luxemburgo.

 

Perceberam? Não?

Então é assim:

O Grupo mexicano coloca condições e só aceita ser accionista maioritário (mínimo 50,01%) com 49% disperso pela Bolsa, sendo o grupo presidido por Isabel Vaz controlado em 51% do capital da Espírito Santo Health Care Investments, que por sua vez é detida em 55% pela Rioforte e em 18% pela Espírito Santo Financial Group. Já os restantes 27% estão nas mãos do Novo Banco, que ficou com os activos bons do ex-BES e é gerido por Vítor Bento.

 

Ainda não perceberam?

Vamos tentar de novo:

O Grupo Los Ángeles poderá, por exemplo, avançar com uma oferta potestativa sobre o resto do capital e tirar então a empresa da Bolsa. Por sua vez a Rioforte, que domina a Espírito Santo Health Care Investments, entregou um pedido de gestão controlada no Tribunal Comercial de Luxemburgo, que foi aceite.

 

Ainda não foi desta? Que diabo não sabem interpretar notícias?

Melhor nem lerem jornais. Ora reparem:

O Grupo Los Ángeles impõe como condição que o Hospital Beatriz Ângelo, de Loures, faça parte do pacote de aquisição “sem condições”. Este Hospital é do Estado mas é gerido no âmbito de uma parceria público-privada e teve um peso de 22%  nas receitas operacionais da Espírito Santo Health Care Investments no ano passado.

 

E agora? Já se percebe melhor?

Há aqui uma vertente política, donde o Ministério da Saúde terá de se pronunciar. E porquê?

Porque há um precedente a favor do negócio, já que a HPP foi vendida pela CGD, em 2013, à Amil e detinha no seu portfólio um hospital em regime de parceria público-privada, o que não impediu a sua alienação (85,6 milhões). Logo a seguir a Amil foi alvo de uma OPA da norte americana United Health.

 

Nota final (da responsabilidade do editor)

É realmente este o tipo de incompreensível noticiário (largamente vinculado também por tvs e rádios) que interessa enormemente a todos nós, os palermas de serviço e coincidentes habitantes deste rectângulo desfocado. Todo o atrás descrito – salvaguardando as provocatórias questões em itálico – é realmente noticiário, foi extraído de jornais, apenas se evidenciando a bold toda aquela quantidade incompreensível de nomes e siglas.

A pequena mas dominante parte da humanidade (eufemismo meu) responsável por todos estes obscuros negócios, vive (e de tal se alimenta, possivelmente) para o dinheiro, holdings, papeis de crédito, joint-ventures e demais merdas do género.

Tal como dizia o meu pai em tempos, seria interessante um dia colocá-los a todos, a esta minoria que nos governa, numa ilha deserta e nua, com todo o seu dinheiro, papeis de crédito e fantásticos contratos e deixá-los por ali, a tempo indefenido, a alimentar-se dos mesmos

Carlos

1 Comment

  1. “….. seria interessante um dia colocá-los a todos, a esta minoria que nos governa, numa ilha deserta e nua, com todo o seu dinheiro, papeis de crédito e fantásticos contratos e deixá-los por ali, a tempo indefenido, a alimentar-se dos mesmos *…”* *​Maria *

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