EDITORIAL: Um mundo diferente, é possível? – por Carlos Loures

 

Imagem2O tema óbvio para hoje, seria recordar o 2 de Maio de 1802 em Madrid. A revolta do povo madrileno contra a ocupação napoleónica que motivou a chacina dos populares, mal armados e sem disciplina, pelas tropas francesas. Desse trágico episódio ficaram-nos os quadros de Goya, de um realismo impressionante. Arturo Pérez-Reverte, um excelente romancista do Estado vizinho, publicou em 2005 o livro Un día de cólera, uma obra que, sendo novelística, coloca como herói, como protagonista o povo, gente comum. Cento e poucos anos depois, pessoas comuns, trabalhadores, estudantes, pequenos comerciantes, lutaria contra a barbárie que Franco e a sua cáfila de assassinos transportava na sua tropa «nacionalista» – mouros, italianos…

Mas hoje queria lembrar um livro cuja publicação fez há dias 97 anos – Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo; autor: Vladimir Ilich Lenine. Na verdade, tal como todos os seres vivos, as ideias, as ideologias, os movimentos políticos, religiosos, culturais, nascem, vivem e morrem. Ao publicar, em Abril de 1920, Lenine não verberava a escumalha branca, czarista, nem os mencheviques. Denunciava o fervor de bolcheviques que, com a sua pressa, de erradicar as injustiças sociais que séculos de tirania tinham infiltrado em todas as camadas sociais da Rússia, E ao querer que a transformação se produzisse de um dia para o outro, cometiam erros, injustiças, crimes…Como de premissas correctas se extraíam conclusões erradas.

Desde que os actos históricos são registados, que deparamos com esta realidade – figuras históricas servindo de ícones a situações em que os protagonistas são gente anónima. Não tivessem os fenícios, gente expedita, com sentido prático das realidades, inventado maneira de registar compras e vendas, dívidas, transacções, acordos .. e teríamos de ler a história nos monumentos erguidos  aos vencedores. Sem Fernão Lopes pouco saberíamos do que foram esses tempos difíceis, de cercos, chacinas, de crimes inauditos, Lenine combateu o esquerdismo (e bem). Mas a  seu lado, como cancro minando um corpo jovem, havia a raiz da senilidade, um Estaline que, ao assumir o poder, o fez com o despotismo de um czar.  Uma cura pior do que a doença. «Um outro mundo é possível» – foi a conclusão a que o Forum Social Mundial, de que temos falado com frequência, chegou na sua reunião de 2005. Perdemos o sentido de orientação que nos trouxe até ao limiar da racionalidade. O dinheiro, a sua acumulação, a exploração, são sintomas de senilidade. As religiões, sintomas de irracionalidade – de explicar o Universo da forma mais fácil. Metemos pelo caminho errado,

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