Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Macron-Le Pen, Presidenciais 2017
David Desgouilles, Macron-Le Pen: indignes! Un débat à la hauteur de la campagne qui l’a précédé
Revista Causeur.fr, 4 de Maio de 2017
Gostaríamos de sermos amáveis. Gostaríamos de dizer que estávamos à espera e pacientemente que um dos dois protagonistas do debate explicasse ao outro o que era a receita utilizada na panela que estava ao lume, tal como no filme La gueule de l’autre
.Mas a verdade é que não temos a disposição que nos leva a brincar. Porque deveria ter-se tratado de um debate entre duas personalidades a disputar a magistratura suprema da quinta maior potência do mundo. Em vez disso, assistimos a um espetáculo indigno. Até mesmo um debate transmitido por um canal de notícias em pleno Verão e no horário das onze da noite e entre editorialistas de 3ª categoria teria sido de melhor qualidade.
Os momentos fortes do debate entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen:
http://lpnt.fr/2pG41MG #Debat2017 #2017LeDebat
Este debate esteve à imagem desta “reconstrução de low-cost”, que aqui descrevemos a implementação. A verdadeira recomposição tinha esperado demasiado tempo. Esta dispunha, na época em que deveria ter acontecido, provavelmente há quinze ou vinte anos atrás, de personalidades à altura, complexas e cultas. Os velhos partidos, agarrados às suas prebendas retardaram-no antes de terem sofrido o enorme fracasso da primeira volta desta eleição presidencial. Nós estamos a colher o resultado: uma feira de invetivas entre dois personagens caricaturais e manifestamente indignos da função presidencial.
A abstenção diz-lhes obrigado!
Mas o que poderíamos nós esperar de diferente, no final da pior campanha presidencial da quinta República, navegando entre o patético e o grotesco? Depois do debate, os jornalistas nos estúdios tinham boas razões para fustigar este espetáculo tão deplorável. A nossa imprensa não esteve nada à altura e contribuiu generosamente para a encenação do naufrágio do debate público. Lembremo-nos aqui a emissão de referência do serviço público de televisão, é ” L’Emission politique “, com os seus convidados-mistérios, os seus confrontos premeditados e o seu cínico e irresponsável Monsieur Loyal e David Pujadas. Este último também tinha água na boca antes do confronto de ontem à noite, utilizando, por empréstimo, a semântica dos comentários desportivos.
Espera-se que a abstenção não seja desencorajada no próximo domingo, depois da repulsa gerada por esta feira de agressões em que cada um defende os seus interesses. Ficamos sem saber qual lado vai ficar mais desmobilizado que o outro. Independentemente de quem que saia vencedor, mesmo se Emmanuel Macron parece ser o mais provável, pode legitimamente perguntar- se então se é razoável enviar-lhe uma maioria para a Assembleia Nacional. Chegámos aqui: ver numa França ingovernável um mal menor. E tudo isso num mundo perigoso. Ontem à noite, eu lembrei-me de Philippe Seguin, pondo há já muito tempo, o diagnóstico sobre a nossa democracia doente e sobre a nossa crise moral. Nós estamos em fase terminal.
Depois de terem aceite fazer a União Europeia /IVºReich o que é que esperavam que não fosse uma “fase terminal”. Todas as multilateralidades políticas conduzem ao descalabro de todos em favor de um.CLV