CARTA DO RIO – 151 por Rachel Gutiérrez

Apesar de tudo que está acontecendo na “pátria minha, tão pobrinha” ou, por isso mesmo, vou continuar o simples relato dos alegres eventos de nossa recente viagem à majestosa Itália.

Próximo de Milão, a mais ou menos 40 quilômetros, fomos visitar Piacenza, onde fomos recebidas por um amabilíssimo casal, os pais de Marco Corbellini, nosso amigo e professor de italiano que mora atualmente no Rio.

No trem, conversamos com um jovem senhor africano, senegalês de Dakar, vendedor de livros, de quem compramos uma plaquete com os principais Provérbios de África Negra, e onde pudemos ler alguns ditados expressivos como este: “A força do braço vem da pança”. E o mais comovente: “Morrer não é uma catástrofe, a catástrofe consiste em ter de dormir com fome.” Lamentei não ter tido tempo de perguntar o nome do simpático livreiro ambulante, que desembarcou antes de nós.

Na estação de Piacenza, aguardava-nos o sorriso de boa acolhida do Senhor Franco Corbellini. A 20 quilômetros dali, percorridos na bella maquina não muito grande de nosso anfitrião, encontramos sua mulher, Maria, que já estava com um magnífico almoço pronto, à nossa espera. Ah! como se come bem numa casa italiana: sopa de raviólis, saladas, vários tipos de presuntos e de paste, as famosas massas que não engordam como as nossas, frutas e doces, e mais queijos a escolher. Tudo isso  com bastante pomodoro ( tomate, o principal produto da comuna ) e bem  regado com um vinho da região. E para finalizar, um tradicional Bolo da Páscoa.  Foi uma verdadeira festa !

Piacenza é uma província da região da Emilia-Romagna que foi, como Cremona, uma das primeiras colônias romanas da Itália Setentrional. Cidade pequena, com pouco mais de 100 mil habitantes, tranquila, silenciosa, na medida do humano, como dizem os franceses.

Depois do almoço, fomos levadas ao Burgo Grazzano Visconti, o feudo medieval da família do cineasta Luchino Visconti, onde a mãe de nosso anfitrião – a avó de nosso amigo Marco – havia sido concierge, ou zeladora, por trinta anos. Passeamos pelas ruelas, pelos jardins, pelas pracinhas mas, infelizmente, não conseguimos visitar o castelo que, por ser um dia feriado, havia fechado suas portas. Mesmo assim, o passeio foi um dos mais lindos da nossa viagem e, certamente, o menos convencional em termos turísticos. E o que foi ainda melhor: adquirimos novos e preciosos amigos.

De volta a Milão, fui à ópera, no dia seguinte, como já contei e, na véspera da partida para Veneza, fizemos um inesquecível passeio de barco pelo Lago di Como, com outro almoço memorável num restaurante à beira de suas águas serenas.

Copio do Google:

“O lago de Como (em italiano Lago di Como) é um lago de origem glacial na Lombardia, Itália. Com uma área de 146 km², é o terceiro maior lago da Itália, depois do lago de Garda e do lago Maggiore. Com uma profundidade máxima de 410 metros é um dos mais profundos lagos da Europa.” Sim, faço questão de registrar porque…  de que adianta viajarmos se não aprendemos um pouco de geografia e história, além da história da Arte que os diferentes povos criaram, seus costumes, sua cultura? 
Mais um pequeno percurso de trem e lá estávamos nós, num dia claro e luminoso, bastante cálido.

Tudo é rico ao redor do lago: a bela paisagem, a vegetação exuberante, pinheiros e ciprestes e as belas mansões, entre as quais, dizem, há uma que pertence ao ator norte-americano George Clooney. Por mais que minhas sobrinhas se esforçassem, não descobriram qual era.

No final do almoço, minha irmã e eu experimentamos uma sobremesa saborosíssima: as “delícias de limão” que, devo confessar, superam as que degustei certa vez em Sintra, Portugal. Seria incapaz de descrevê-la. Sei apenas que um de seus principais componentes é um levíssimo pão-de-ló da cor do limão siciliano. Dizem que dos nossos sentidos, o de mais forte memória é o olfato, mas quem aprecia a boa comida e a boas receitas da patisserie europeia sabe que os sabores de uma sobremesa como aquela permanecerão conosco por muito tempo.

Encantadas, voltamos para Milão para, no dia seguinte começarmos nosso reencontro com Veneza, não mais a sereníssima, mas tumultuada por multidões de turistas, principalmente chineses, pobre Veneza mais invadida do que nunca em pleno período da Páscoa.

A viagem ainda incluiu Bolonha, Florença e Fiesole e, é claro, Roma, a eterna, a magnífica capital do Império e da História.

Penso voltar a tudo isso nas próximas Cartas, pois só assim me esquivo, por algum tempo que seja,  de falar nos tristes acontecimentos do meu país e da minha cidade.

2 Comments

  1. Correção: Piacenza fica a 60 quilômetros de Milão, e não 40.
    A avó de nosso amigo Marco trabalhou como concierge dos Visconti por mais de 50 anos.

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