As redes sociais, salvo raras (raríssimas) excepções são um depósito organizado e compactado da contemporânea imbecilidade ou ignorância colectivas – antes basto difusa e dispersa, mas agora já devidamente acessível e mais facilmente consultável, graças à moderna e disponível tecnologia.
Estou-me a cagar nas redes sociais e nas suas indignações ou elogios da treta, mas realmente, ao ler e ver as imagens dos restos do milagre que tanto peregrino e beato levou a Fátima, não posso deixar de reflectir na coincidência e no paralelismo que une a fèzada com a incivilidade, ambas ancestrais e a fazer parte de um hereditário culto.
Aliás não será só em Fátima. Basta espreitar os restos de um qualquer festival rockístico, por exemplo, para se sentir de como já vem de longe, de uma saudável e fraterna adolescência, este despreendimento, esta vocação para a porcaria e a alarvidade, a demonstrar uma afirmação e uma personalidade fortes, desde muito cedo.
Olha se o Santo Padre ainda por ali estivesse, a acabar de beber umas bjecas e a mastigar uns caracóis! Que vergonha, que coisa horrível para ele, pois não teria outro remédio senão abençoar aquela lixarada toda, os colchões, os papeis, os copos e as garrafas de plástico, os pensos higiénicos, as beatas, as espinhas de carapau, etc., talvez até mesmo algum cristão emborrachado ali esquecido pela família, quem sabe.
Não. Não há milagre que consiga converter ímpios porcalhões em educadas e católicas gentes. Nem mesmo as sujas almas se devem safar, tenho a certeza, por mais esfregadas que fossem.
Felizmente que o negócio dos santinhos, dos pequenos papas, nossas senhoras e pastorinhos de plástico esteve muito bom, foi levantado mais de um milhão (um milhão) de euros nas caixas multibanco e tudo acabou em bem – a demonstrar que a recuperação económica está aí. Oxalá que não se acabem os pobrezinhos.
carlos