CONTOS & CRÓNICAS – CARLOS REIS – OS ARTIGOS IMPUBLICÁVEIS – O DESPUDOR DO PODER

 

Alguns amigos meus, ortodoxos comunistas primários, circunspectos, desimaginativos e absurdamente convictos  –  a viver ainda nos finais do século XIX e no dealbar do século XX  –  acham que eu não sou suficientemente de Esquerda, acham mesmo alguns (de menor, mais ridícula e mais pobre ainda imaginação) que eu não passo de um pobre reaccionário em perspectiva, de um mau agente das forças do bem, da verdade, da revolução popular e da libertação dos povos, eu, mim, sempre a pôr em causa as suas (deles) certezas, a sua Fé, a sua Religião (que de uma fèzada e de uma religião se trata, a sua, ou alguém duvida?) a parecer-se com os dogmas da Igreja, que tanto pomos em causa, eu e eles.

São felizes assim.

Ao meu contrário, que dos Homens não tenho essa confiança  –  confiança nenhuma, com toda a sinceridade.

Não foram os povos que imaginaram, que subverteram, que elevaram, que evoluiram, que contribuiram para alguma sucesso da humanidade, para a emancipação das mulheres, para a revolução industrial, para a diminuição da exploração laboral e horários de trabalho, para a sua própria libertação e democracia.

Sacco e Vanzetti. Alguém se lembra?

Sabem lá do que estou a falar.

Não foram os povos que pintaram a Capela Sistina ou a Monna Lisa, descobriram o átomo, o cinema, a fotografia, a arte, a literatura, a poesia e a indústria. Que levaram a Revolução de Outubro por diante.

Não.

Foram uns gajos. Foram uns tipos. Até ali desconhecidamente nascituros e diferentes. Que escaparam ao gado com que Deus, grande e indiscutível fascista, preconizou a humanidade por Ele inventada e prevista, sem confusões nem chatices de maior. De que a Bíblia é uma edição de autor, reles, pindérica e revisteira  –  redutora mesmo, um bastardo romance de cordel, para consumo das massas.

Tudo coisas que aliás o povo sempre consumiu, como se sabe e se finge não saber.

Portanto. Portanto.

Ao saber dos incêndios, ao reconhecer as absurdas e fraudulentas fragilidades do Estado, ao constatar a chatice e o mal disfarçado enfado com que a ministrealidade e as entidades oficiais tiraram as gravatas, compuseram os fácies e se deslocaram aos locais onde as pessoas perderam tudo  –  vidas, família, casas, identidade e esperança  –  incluindo presidente da república (não vale a pena lustrar ideologias, nem modos de comportamento idológico, não me fodam).

Ao saber que elas, as pessoas, ainda estão à espera de auxílio monetário e outro, que o tempo passa e a amorável e colectiva memória se escoa, que estas coisa levam tempo, que há que estudar os dossiers, que há que ter em conta a propriedade não declarada, que há que ter em conta o automóvel não pago, o tractor sem matrícula e todas as absurdas e clássicas técnicas da burocracia que nos peculalarializam desde sempre, já do querido Salazar.

Ao saber que para ajudar os pobres e infelizes bancos e banqueiros que coitados faliram, apesar da sua boa vontade e entrega ao bem comum, não há problemas nem faltas de dinheiro – ao saber de tudo isso, tenho assaz bastantemente de reconhecer que os nossos políticos no activo (e excluo honestamente o PCP e o Bloco de Esquerda, que nunca por lá e por enquanto passaram, de acordo com o querido voto popular) sempre se estiveram cagando – desde a abrilada, convenhamos – para estas comezinhas cousas.

Apesar de nada perceber de árvores, florestas e horticultura, como camponês citadino e do alcatrão que sou – às vezes penso: se há quarenta e tal anos tivessem plantado carvalhos, cerejeiras e outra espécies que não o eucalipto e o pinheiroComo estaria a nossa floresta, ou lá como se chama?

A verdade é que os nossos políticos – de sempre e desde sempre – nunca pensam à distância. Não passam de uns merdosos imediatos, de uns vendilhões do templo, de uns bardamerdas de ocasião.

De uns negociantes de taberna. Feios, porcos e maus.

Carlos

 

1 Comment

  1. Feios, porcos, maus, mas não só, Destes tem de dizer-se serem dos que têm alguma coisa a ver com as mães; são filhos d……elas!CLV

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