CARTA DO RIO – 161 por Rachel Gutiérrez

 

 

    O novo não é mais a proposta da igualdade plena na renda, que, além de demagógica, é autoritária, ineficiente e não respeita o mérito, o empenho e as opções pessoais. O novo está na tolerância com uma desigualdade na renda e no consumo dentro de limites decentes, entre um piso social que elimine a exclusão e um teto ecológico que proteja o equilíbrio ambiental. Entre estes limites, é preciso a escada social da educação que permita a ascensão das pessoas, conforme o talento e o desejo de cada um.

Cristovam Buarque, Senador da República.

 Esta é uma Carta de Desagravo ao nosso valoroso Quixote, o Senador da República pelo Distrito Federal Cristovam Buarque. E quero logo esclarecer por que o comparo a Dom Quixote.

Numa Carta publicada aqui, em março de 2016, ao comentar o livro A Utilidade do Inútil do filósofo italiano Nuccio Ordine, referi-me ao imortal personagem de Cervantes como (…cito a mim mesma):

 um sonhador contumaz, alguém que luta contra moinhos de vento, que pensa na honra acima de tudo e transforma em grande dama ( Dulcinea del Toboso) uma simples camponesa. Mas o Quixote também encarna o sonho, a dignidade humana, a honradez, a defesa amorosa do ideal, a pureza e a bondade. Dom Quixote não existe, mas talvez exista cada vez que defendemos tudo o que transcende as mesquinharias do mundo do mercado e do consumo, quando olhamos para os nossos semelhantes com respeito e solidariedade, quando somos generosos. E quando nos permitimos sonhar. No mundo atual, tudo isso parece quixotesco e, ao mesmo tempo, sentimos que é cada vez mais necessário.

No país do futebol e do carnaval e, de alguns anos para cá, triste país com 13 milhões de analfabetos e mais de 13 milhões de desempregados, onde a corrupção sistêmica é talvez a mais alarmante do mundo, um senador que luta incansavelmente para convencer seus pares e seu povo de que a Educação precisa ser considerada prioridade sem a qual o Brasil não poderá progredir é, sem dúvida, um admirável Dom Quixote.

Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque, nascido em Recife, Pernambuco, em 20 de fevereiro de 1944, é formado em Engenharia Mecânica e em Economia. É professor universitário, grande educador e autor de mais de 20 livros, principalmente ensaios, tendo recebido nessa categoria o Prêmio Jabuti de Ciências Humanas, em 1995. Foi governador do Distrito Federal (1995-1998), quando criou e implantou pela primeira vez a Bolsa-Escola, mais tarde transformada em Bolsa-Família pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Reitor, de 1985 a 1989, da Universidade de Brasília, Buarque também foi também Ministro da Educação, durante o primeiro mandato de Lula. Eleito Senador pela primeira vez em 2002, quando ainda filiado ao PT, reelegeu-se, pelo PPS (Partido Popular Socialista), em 2010. Seu atual mandato acaba em 2018.

Já tive a oportunidade de divulgar entre nós, aqui, na Viagem dos Argonautas, a entrevista que o Senador concedeu ao jornalista Roberto d’Ávila, em abril de 2016, que obteve excelente repercussão. Hoje, faço questão de reproduzir o Programa Roda Viva, da TV Cultura, levado ao ar em 11 de julho.

 

E faço questão de declarar que me envergonho de alguns de meus compatriotas (fanáticos, do Partido dos Trabalhadores) mal informados e mal-educados, por causa destes fatos noticiados na semana passada:

 

Hostilizado e chamado de ‘golpista’ por participantes do encontro anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) (!) nestas terça-feira (18), no campus da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) cancelou o lançamento de seu livro MEDITERRÂNEOS INVISÍVEIS, que ocorreria no período da tarde de hoje em Belo Horizonte.

 E tendo sofrido outros ataques e desacatos, tanto ao sair de uma conferência, na parte da manhã, quanto à noite,  ao chegar no Teatro da Cidade,  o senador comentou assim os episódios em rede social:

Um grupo de manifestantes me abordou de forma bastante desrespeitosa. Para pessoas que têm opiniões contrárias e agem dessa forma, envio meu recado: viver num país em que se é hostilizado por pensar diferente é mais um incentivo para que eu continue a minha luta pela educação.

Que mais podemos dizer?

3 Comments

  1. Excelente a entrevista com Cristovam Buarque. Esclareceu perfeitamente a sua personalidade, pensamento político e propostas.

  2. É lamentável e vergonhosa a atitude de alguns brasileiros que desrespeitam a opinião e a posição do Senador Cristovam Buarque., homem probo, culto e de pensamento de vanguarda. Pobre daquele cuja mentalidade tacanha não consegue fazer uma reflexão e em nada contribui para melhorar o seu Pais!

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