CONTOS & CRÓNICAS – CARLOS REIS – OS ARTIGOS IMPUBLICÁVEIS – INCÊNDIOS, SEMPRE!

 

Eu passo-me  –  sobretudo comigo mesmo –  com esta história dos incêndios.

Com esta repetida história dos incêndios.

Eu passo-me (e comigo mesmo, insisto) porque no conforto do meu lar, no bem estar e na beatitude do meu lar, na convivência com bem pensantes amigos meus, dou ou lá vou dando vagamente conta, através de uma digestiva televisão ou de um qualquer jantar académico, das terríveis catástrofes diárias – banalizadas, contadas, acrescidas e mediaticamente aproveitadas – com pessoas, com Pessoas, cuja angústia e aflição me comovem e me tocam e em que a minha impotência e longinquidade às tantas me afectam, me apontam ignorâncias, hipocrisias e distanciamentos.

Porque, para além dos miserabilistas desígnios de uma sociedade podre, reaccionária e distanciada, para além das (putas das) preocupações e das metas, dos défices ou do orçamento geral dos Estados, destes sucessivos governos e deste inconsequente playtime – para além de tudo isso, de toda essa inútil impertinência dos media acerca de coisas que em nada nos interessam, de que nada percebemos e sempre nos transcendem –  normalmente vigarices bancárias, compras e vendas de empresas por outras empresas e respectivos despedimentos, etc. –  para lá de tudo isso sempre me ocorre a data de massa que por aí se mexe e circula, pelas mãos de gandas fsdp de banqueiros vários e gestores vários, em inidentificáveis, brumosos e ilícitos negócios, alguns deles indiciados, mas sempre de julgamentos e penas adiadas, suspensas ou esquecidas.

Se calhar o problema dos fogos e respectivas causas, consequências, tristezas, mortes, misérias e ruína nacional não tem a ver com falta de dinheiro.

Se calhar a canalização em que ele, o dinheiro, se movimenta é que não é a adequada. Pois se até o Siresp, que devia olhar por nós, não só é uma empresa privada (!) como parece não ter estado à altura, por falta ou avaria de meios, material, etc. Pudera, são coisas que custam dinheiro e as empresas privadas não estão aqui para o perder, bem pelo contrário.

Enfim – e só ao fim de muita hesitação, pelos vistos – é que o Estado parece reconhecer que com siresps não fomos lá. Que vai ser penalizado, não sei quê, etc. – mas não posta em causa a sua existência, uma existência que deveria ser extinta e quanto mais depressa, melhor. Algo que devia já ter acontecido há canos.

Mas não aconteceu. Nem vai acontecer. Parece que há coisas mais importantes que os incêndios

carlos

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