SER PROFESSOR por Luísa Lobão Moniz

E já começou mais um ano lectivo.

Este ano é que vai ser, assim pensam muitos professores, todos os inícios de anos lectivos, e quando o ano chega ao fim vivem mais um desencanto nas suas vidas profissionais.

Estudaram para dar aulas, para acompanhar as dificuldades ou facilidades de aprendizagem dos seus alunos. Estudaram para saber fazer projectos que despertem a capacidade de colaboração, de troca de informação, para saberem reconhecer e respeitar as diferenças entre eles e para aumentarem o conhecimento – a curiosidade, a pesquisa, a explicação do professor, o pôr em práctica, o comparar, o saber transmitir.

Ser professor é uma das mais bonitas profissões, ver as crianças e os adolescentes a perceberem o valor do Saber, a mostrarem de dia para dia comportamentos revelando o seu sentimento de pertença à comunidade escolar, a reconhecerem que a origem de cada um não faz dele melhor ou pior pessoa, que a diferença de género não implica separação de tarefas nem de brincadeiras.

Quando se vai ao pátio de uma escola do 1º ciclo é fácil e frequente ver rapazes a saltar à corda e raparigas a jogar ao berlinde.

Brincam, conversam, relacionam-se sem barreiras de origem (cor da pele, língua materna), de género. As barreiras que constroem são feitas pela higiene do outro, porque o outro está sempre com medo e por isso não colabora, porque o outro vai contar tudo à auxiliar que está no pátio, por causa das marcas da roupa, ou por problemas familiares e de vizinhança.

Desconstruir preconceitos, enaltecer os valores da Liberdade, da expressão do pensamento, da solidariedade, dos laços familiares, dos laços entre os amigos e vê-los crescer numa atitude optimista e positiva da vida é bonito porque é sinal que se sentem bem consigo mesmos e que querem transmitir estas aprendizagens muitas vezes sem a compreensão da família ou do bairro…

É difícil. É mais fácil exibir que já sabe a tabuada de cor!

A porta abre-se, os alunos correm para as mesas e cadeiras, fazem barulho ao arrastar as mesas e as cadeiras e até com as pesadíssimas mochilas…os telemóveis vão nas mãos para carregarem no silêncio.

Até que os quase trinta alunos se acomodem o professor fica a pensar como modificar esta entrada tão barulhenta na sala de aula. Porque não pensar com os alunos estratégias para eliminar o barulho?

Amanhã a campainha volta a tocar estridentemente. Porque há-de haver campainhas porque não uma música suave, ou simplesmente não haver nada apenas a responsabilidade de chegar a horas?

2 Comments

  1. Porque há-de haver campainhas porque não uma música suave, ou simplesmente não haver nada apenas a responsabilidade de chegar a horas?-excelente

    Maria

  2. Como sempre, a Luísa mostra-se preocupada, apreensiva, com uma situação mas nunca, por nunca, coloca em causa as razões profundas dessa situação. Desta vez consegue falar sobre a situação dos professores sem referir nem contextualizar uma única vez as políticas educativas. É como se fosse apenas um problema estritamente pessoal. Mas olhe que não, cara colega. Olhe que não!
    Na qualidade de seu ex-colega, só posso lamentar que se recuse a encarar de frente os reais problemas da profissão. Posso até interrogar-me sobre as razões por que o faz. Parecem-me evidentes, mas isso já é domínio da minha especulação.
    Não esbanjámos………….Não pagamos!!!!!!!!!!!!

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