FRATERNIZAR – Carta Aberta, com amor e humor teológico De bispo de Bragança, a bispo e papa de Roma? – por MÁRIO DE OLIVEIRA

 

Meu caro D. José Cordeiro

Sei que o teu sonho não é continuar a ser bispo de Bragança e Miranda. És pequeno de estatura, como Zaqueu, o do Evangelho de Lucas, que tem de trepar às árvores para ver Jesus, mas és grande em desejo. Não, como ele, em desejo de conhecer Jesus, porque então terias de te dispor a dar metade dos teus bens aos pobres e a restituir quatro vezes mais a quem roubaste. Ainda que sempre possas dizer que nunca roubaste nada a ninguém, como, de resto, também Zaqueu podia, mas não é o que ele diz a Jesus, porque, quando o acolhe em sua casa, sente-se completamente desnudado perante aquele o olhar dele e não se atreve a continuar a fazer de conta, como insistem em fazer de conta todos os bispos residenciais e párocos clérigos católicos e pastores protestantes. Outros o fazem para ti. Para todos vós. Como, em seu tempo, outros o fazem para Zaqueu, uma vez que ele, tal como tu, todos vós, é chefe de cobradores de impostos ou publicanos. O fausto que vives em permanentes céus forrados a ouro, onde até a fé religiosa que te anima tem o brilho do ouro – as inúmeras fotos que exibes no Fb não enganam! – já tem muito de papa de Roma. Mas não é Roma. É Bragança e Miranda. Coisa pouca para ambição tão grande quanto a tua. É por demais manifesto que só aceitaste Bragança, como primeiro degrau para o Patriarcado de Lisboa, onde serás garantidamente elevado a cardeal. Um dos eleitores do papa e simultaneamente papável. E até já te estás a ver a mudar de bispo de Bragança, para bispo e papa de Roma.

Há várias dioceses do país à espera de bispo titular. Das vacantes, a do Porto é, certamente, a mais cobiçada. A morte repentina do seu titular, D. António Francisco, que deixou às pressas a de Aveiro em troca pela do Porto, de poucos anos lhe valeu. Que a senhora de fátima é assim. Aos seus mais fiéis e generosos devotos, como os irmãos Francisco e Jacinta, de 1917, gosta de os levar para o céu, onde ela não tem nada para fazer, nem sequer bordar toalhas de altar, porque lá já está tudo feito e bordado a ouro, ou o deus do céu, de que falam tanto as igrejas e as religiões, não seja o Senhor todo-poderoso Dinheiro que tudo compra e corrompe, a começar pelas mentes-consciências dos papas, bispos residenciais, clérigos, pastores e demais agentes do Poder político e económico. E não fosse ele, como é, o único senhor do mundo, ao qual todas as igrejas cristãs e religiões servem, assim como os bancos e os governos das nações.

Será que desta vez, o papa e o seu núncio em Lisboa já estão a deparar com falta de vocações para bispo residencial? A falta de clérigos em idade bispável é cada vez maior e os novos clérigos não chegam para as encomendas. De resto, sabem melhor do que ninguém que, nas actuais circunstâncias, ser bispo residencial é ser general sem tropas no terreno, o mesmo é dizer, sem cobradores de impostos e de misseiros que lhes façam chegar todo o dinheiro que uma cúria diocesana necessita para se manter na ostentação, indispensável para continuar a merecer a reverência dos autarcas e dos grandes financeiros, todos organizados em sociedades anónimas e em sociedades secretas.

Estou com curiosidade em ver se o escolhido para o Porto és tu, meu caro D. José Cordeiro. O Porto não te garante o cardinalato, eu sei. Mas é um degrau bem mais perto do patriarcado. E tens o exemplo do actual cardeal de Lisboa que começou por desistir de bispo auxiliar do patriarcado para ser bispo do Porto, e daqui poder saltar novamente para Lisboa, então como seu titular, não mais como seu auxiliar. Porque se há institucional onde nenhum dos membros de topo pode alguma vez passar de cavalo para burro, é o institucional eclesiástico católico. Todos são hierarquia, poder sagrado, celibatários, frequentadores dos lugares sagrados. Os mais desgraçados dos nascidos de mulher!

Macieira da Lixa, 13 Outubro 2017.

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2 Comments

  1. O senhor padre Mário fazia um grande favor às pessoas de Bragança-Miranda se deixasse de falar no bispo. Não é que não tenha razão no que diz porque tem sim senhor mas, se assim vai a saberem-se as manigâncias todas, ninguém o quer em lado nenhum e vamos nós ter que levar com ele até aos 75 anos. Apre! Não somos assim tão pecadores para merecermos o castigo.
    O senhor padre diz que é presbítero da Igreja do Porto e deve é estar com medo de levar com ele e as vaidades dele, por isso é se põe a escrever estas coisas, para que ninguém o nomeie para lá. E nós é que vamos pagar as favas! Não é justo! Há que repartir o mal pelas freguesias.

  2. Gostei muito deste seu Comentário, amigo Luís Miguel. É também de humor e amor. Mas olhe que o melhor não é espalhar o mal pelas freguesias. O melhor é erradicar o Mal. Afinal, as freguesias vivem muito mais saudavelmente sem a presença-intervenção dos clérigos. E quanto mais activos eles forem, pior. O Vaticano II bem escreveu e aprovou que primeiro está o “Povo de Deus”, mas nem os párocos, nem os bispos, nem o papa – a hierarquia – estão pelos ajustes. Terão de ser as populações a deixar de os frequentar. Morrerão por inacção. Dou-lhe o meu abraço.

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