NA MINHA JANELA PRIVADA
Pinto o meu poema
E desenho o meu caminho
Num mar de letras.
Às vezes junto alfazema
Outras jasmim,
Tudo no mesmo cadinho
E às vezes umas fraquezas.
.
Pinto o amor
As cores,
Os cheiros
Sentimentos e sabores,
Procuro desenhar com primor
O meu mar de cativeiros
Onde todos somos actores.
.
Pinto-me do cheiro do pomar
E de suaves cores pastel,
Amo as palavras por si mesmas
Procuro um sentido para me desenhar
E sentado num capitel,
Dissolvo a doçura que o sal tem.
.
E quando um dia eu me acabar
Desprendo-me do meu corpo,
Parto com as aves
E vou para o lugar do nunca,
Um sítio singular
Onde não vive ninguém.
.
De uma ponta, à outra extrema,
Numa enorme enseada,
Deixo as minhas mãos
De uma maneira ágil
Pintarem o meu poema,
E na minha janela privada
Entrego-me ao meu destino frágil
E à imensa linguagem do silêncio
Onde tudo é quase nada.
.
.
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Republicou isto em O LADO ESCURO DA LUA.
Zé, mais uma vez me comovi ao ler um poema teu. Este, “Na minha janela privada”, é tão lindo, tão cheio de poesia…
Obrigado Filomena. Um bj para ti
Muito bonito e muito sonoro. O som e o sentido levando a um também sonoro silêncio.
Obrigado Rachel. Um bj, e Obrigado.