CARTA DE BRAGA – DIZEM-NO DOS AFECTOS! – por ANTÓNIO OLIVEIRA

 

 

Também o dizem de outras coisas mais que não me cabe, aqui e agora, comentar ou referir!

Mas acho piada àquele dito!

Corre na maioria dos blogs e outras coisas ligadas à exploração do social, quase sempre bem recheada de selfies e afins!

Giovanni Sartori afirmou, há vinte anos e em “Homo Videns”, que os media audiovisuais deixaram de ser complemento para passar a ser factor de substituição das relações habituais na sociedade, ao transformarem-se num instrumento antropogenético que gera um outro e novo tipo de ser humano, o dos ecrãs!

Só um tipo mais, indefinido e indeterminado entre os milhares de outros tipos semelhantes que vemos por aí, braço e mão armados de telemóvel, selfiesando-se, facebookiando-se e dando-se testemunho de estarem mas sem nunca serem, por isso os obrigar a entrar nos lugares, muito mais difícil e complicado do que ficar só com a auto-imagem tirada à entrada.

E agem do mesmo modo em todos os acontecimentos – futebóis, centros comerciais, concertos, cinemas (os das pipocas!), museus e todos os outros que chamem multidões, lá ou a telever – seja por que motivo for.

É a avalanche daquela gente em ligação e movimento contínuos, para saberem ou atestarem que tudo aquilo em que pensam e mostram é exactamente igual ao que os outros milhares de criaturas semelhantes também pensam, ouvem, vêem e mostram!

É esse o sítio dos afectos, onde se está ou esteve por saber que também lá estão outros e mais tipos, que até esticam o pescoço para poderem caber na mesma foto e, quando conseguem agarrar a disponibilidade de alguém bonito (*), a fama atinge um nível faustoso, mas sem qualquer deles pensar que não se prolonga para além da mostra, por ser rapidamente substituída pela selfie que se segue! Mas vende por ser grátis e não passar de promoção!

As selfies e essa gente levam-nos a crer que uma das grandes razões de se querer acabar com a história e as humanidades, está no facto de a grande maioria estar a viver num agora enorme, onde a noção do ontem deixou de ser referência e apetência, a não ser para objectivos biográficos pessoais.

Se calhar, as selfies também já o poderão demonstrar (!?) e algumas até serviriam bem melhor do que as desgraçadas fotos das lojas do cidadão!

Mas estas nunca servirão para as selfies dos bonitos, tanto pelo cargo que eventualmente ocupem na sociedade, como pela qualidade da foto!

(*) aquele que adora selfies, principalmente se são sacadas em qualquer ambiente pejado de emoções e de gente devidamente armada para as aproveitar!

António M. Oliveira

 

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

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