UMA CARTA DO PORTO – Por José Fernando Magalhães (211)

2 de DEZEMBRO DE 1947

 

 

 

“…

Volvidos poucos anos, mestre Menezes sofreu novo susto, que lhe provocou a jura de nunca mais ir pescar, embora nunca tivesse deixado de ser armador, grande e conceituado.

No dia 2 de Dezembro de 1947, Menezes estava entre os muitos pescadores que sofreram o terrível temporal que provocou o maior desastre marítimo ocorrido em águas portuguesas. Viu morrerem 152 dos seus amigos e companheiros, no regresso da faina e já perto de casa, Entre a Aguda e Leixões, quatro traineiras viraram e muitos outros pescadores  de outras traineiras caíram ao mar. As ondas, de mais de dez metros, não perdoaram a quem as teve de enfrentar. Mestre Menezes teve a sorte de se conseguir aguentar em cima da traineira onde sempre seguia.

Depois deste acontecimento, começou a ter pesadelos e visões de enormes desastres, acordando amiúde alagado em suores, tremendo de frio, ou julgando-se abandonado num dóri, ou perdido no mar, no meio de ondas alterosas.

…”

(In “Guiomar de Menezes”, conto do livro “Como Se Fora Um Conto” de José Fernando Magalhães – 2017)

 

 

No dia 1 de Dezembro de 1947, apesar de haver vários prenúncios de temporal, fizeram-se ao mar 103 traineiras que rumaram em direcção à Figueira da Foz. Nessa altura, o espectro da fome era maior do que o do medo, levando a que estes ousados lobos-do-mar enfrentassem sempre as ondas sem medo, saindo da barra muitas vezes para não voltarem.

Passadas algumas horas o tempo mudou radicalmente, vendo-se as traineiras envolvidas num imenso temporal. As ondas fortíssimas, chegaram a subir aos 10 metros, enquanto o vento rodava para Noroeste e o ar arrefecia drasticamente. Algumas traineiras resolvem regressar para Leixões, mas a grande maioria, decide continuar. Ao anoitecer a noite ficou negra e sem lua enquanto as nuvens carregadas tapavam completamente o céu e os ventos se transformavam em ciclónicos.

Em terra, pela noite dentro, corriam murmúrios de que algo corria mal, e as pessoas corriam desesperadas em direcção ao areal da Praia Nova, em Matosinhos. Na cabeça do molhe sul do porto de Leixões, as mulheres e os filhos dos marinheiros, apinhavam-se ao vislumbrar as luzes de navegação das traineiras que se aproximavam desesperadamente do porto. Assim que as primeiras traineiras aportaram, relataram as más notícias.

Finalmente chegou a notícia da trágica realidade e ficou-se a saber que nessa negra e sinistra madrugada de 2 de Dezembro de 1947, naufragaram entre a Aguda e Leixões as traineiras “D. Manuel”, “Rosa Faustino”, “Maria Miguel” e “S. Salvador”, tendo perecido um total de 152 marinheiros entre os que se encontravam nas traineiras naufragadas e os que caíram ao mar, deixando 71 viúvas e mais de 100 órfãos.

Em 2005, foi inaugurado na praia de Matosinhos o monumento “Tragédia do Mar”, uma escultura homenagem ao naufrágio de 1947, composto por cinco figuras de órfãos e viúvas cujas faces transparecem a tragédia ocorrida em 1947. Foi esculpido por José João Brito que se baseou, para o efectuar, na tela do mesmo nome criada pelo Mestre Augusto Gomes.

(In Wikipédia)

 

TRAGÉDIA NO MAR

 

No passado Sábado, dia 2 de Dezembro, comemoraram-se os setenta anos deste desastre.

António Cunha e Silva e António Mendes, juntaram-se e publicaram mais um excelente livro sobre este assunto.

 

 

Para quem não teve a oportunidade de estar presente na apresentação do livro, na Casa dos Pescadores, poderá ir  à Quinta de Santiago, Sábado , 9 de Dezembro, assistir a uma segunda apresentação, ou ainda encomendá-lo através do site da Seda Editora.

 

 

 

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