COMO A CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS OBTEVE EM 2017 UM LUCRO DE 52 MILHÕES – por EUGÉNIO ROSA

 

COMO A CGD OBTEVE EM 2017 UM LUCRO DE 52 MILHÕES €: é necessário que a administração mude de estratégia para aumentar o negócio bancário sendo fundamental envolver e mobilizar os trabalhadores o que ainda não aconteceu

Comecemos então pela análise da componente fundamental de qualquer banco que é a sua Margem financeira.

1. O AUMENTO DE 19,5% DA MARGEM FINANCEIRA CONSEGUIDO NÃO ATRAVÉS DO AUMENTO DO CRÉDITO MAS DA REDUÇÃO DOS  JURO PAGOS AOS DEPOSITANTES

2. O PRODUTO BANCÁRIO “CORE” DA CGD AUMENTOU 14,6% EM 2017

3. OS RESULTADOS DAS OPERAÇÕES FINANCEIRAS AUMENTARAM 181,7%

 

4. O PRODUTO BANCÁRIO DA CGD AUMENTOU 38% EM 2017

5. DIMINUIÇÃO DOS CUSTOS OPERACIONAIS E DO COST-TO-INCOME EM 2017

 

6. A REDUÇÃO DAS IMPARIDADES DE CRÉDITO MAS A MANUTENÇÃO DE UM ELEVADA MONTANTE DE PROVISÕES E IMPARIDADES DE OUTROS ATIVOS

7. A ATIVIDADE INTERNACIONAL CONTRIBUIU EM 2017 COM 227,2 MILHÕES € PARA O RESULTADO LÍQUIDO CONSOLIDADO DE 52 MILHÕES € EM 2017

8. A REDUÇÃO CONTINUADA DO CRÉDITO E A PERDA TAMBÉM CONTINUADA DE QUOTAS DE MERCADO PELA CGD

Como o novo crédito concedido pela CGD não foi suficiente para compensar o crédito amortizado + crédito liquidado + crédito vendido + write-offs, registou-se, também em 2017, uma diminuição da carteira de crédito concedido pela CGD em quase  todos os segmentos como revela o quadro seguinte do documento divulgado pela administração:

Crédito concedido pela CGD por segmentos – 2006 e 2017 – Milhões €

 

Variação das quotas de mercado de crédito da CGD – 20016/2017

9. OS DEPÓSITOS NA CGD ESTÃO A CAIR E A SUA BASE DE CLIENTES A REDUZIR-SE

Contrariamente ao que se pretende fazer crer à opinião pública, o montante de depósitos na CGD diminuiu, assim como tem diminuído a sua base de clientes. São os próprios dados divulgados pela administração que mostram isso.

O quadro seguinte, transcrito da “Press realease” em que a administração divulgou os “Resultados consolidados da CGD de 2017” (pág. 8) provam isso.

Crédito concedido pela CGD por segmentos – 2006 e 2017 – Milhões €

Evolução da quota de mercado de depósitos da CGD – 2016/2017

Também a nível de depósitos, embora de uma forma lenta, a CGD está também a perder quota de mercado que reforça as preocupações sobre a capacidade da  gestão, nomeadamente, para tomar medidas adequadas que invertam a situação de declínio que os próprios dados divulgados revelam.

10. A ELEVADA CONCENTRAÇÃO DE APLICAÇÕES EM TÍTULOS PODERÁ CRIAR RISCOS FUTUROS PARA A CGD

 

11. O RÁCIO DE TRANSFORMAÇÃO E O RÁCIO DE LIQUIDEZ (LCR) MOSTRAM QUE A CGD TEM CONDIÇÕES E CAPACIDADE PARA INVERTER A SITUAÇÃO ATUAL E PROMOVER O DESENVOLVIMENTO DO PAÍS

 

12. AUMENTO DOS RÁCIOS DE CAPITAL MAS EM LINHA COM OS DO SETOR

 

13. A NECESSIDADE DE ENVOLVER E MOBILIZAR OS TRABALHADORES PARA AUMENTAR O NEGÓCIO BANCÁRIO E PARA QUE A CGD ENTRE NUM PROCESSO EFETIVO DE RECUPERAÇÃO O QUE AINDA NÃO ACONTECEU

Para utilizar uma linguagem muito cara aos gestores, os trabalhadores são o “ativo” mais importante numa organização e, naturalmente, também na CGD, o que parece ter sido esquecido nesta instituição. É fundamental, para a recuperação efetiva e consistente da CGD, o aumento do negócio bancário, que é o elemento chave em qualquer instituição financeira. E para isso é vital o envolvimento e a mobilização dos trabalhadores. Enquanto não se perceber isso na CGD, e não transformar esse objetivo de gestão numa prática diária a recuperação efetiva da CGD será muito difícil para não de dizer mesmo impossível. É impossível a recuperação sem eles e, pior do que isso, contra eles. E muito mais num contexto onde o negócio bancário continua a ser muito difícil.

E o que se tem se tem assistido ultimamente na CGD é precisamente o contrário do que deveria ser feito para envolver e mobilizar os trabalhadores.

Em primeiro lugar a pressão, em alguns casos mesmo assédio das chefias,  para a saída de um número significativo de trabalhadores e fecho de inúmeras agências, com consequências também na vida deles, o que criou insegurança e mal estar geral.

E em simultâneo com a situação anterior a recusa da administração em negociar com o sindicato dos trabalhadores da CGD (STEC) as remunerações que se mantêm inalteráveis desde 2010, sujeitas ao efeito corrosivo da inflação e do enorme aumento de impostos feito pelo governo anterior em grande parte ainda não revertido.

O “folhetim” das negociações do Acordo de Empresa (AE)  entre a administração da CGD e o STEC mostra bem a falta de consideração que a atual administração tem pelos trabalhadores da CGD que é urgente corrigir. Recordando os factos que provam isso:

  • Tinha sido acordado pela anterior administração (constava de um protocolo assinado) em 2016, que logo que a Lei do Orçamento descongelasse as remunerações (os trabalhadores da CGD, como pertenciam a uma empresa pública foram sujeitos, tal como aconteceu com os trabalhadores da Função Pública, ao congelamento e cortes de remunerações), seriam iniciadas negociações visando a atualização das remunerações;

  • Em 2017, as remunerações dos trabalhadores das instituições de crédito integradas no setor empresarial do Estado foram descongeladas por força do nº2 do artº 19º Lei 42/2016 mas a atual administração recusou-se a cumprir o acordado entre o STEC e a anterior administração;

  • Em 9 de Fev.2017 foi apresentado pelo STEC uma proposta de AE que a administração não respondeu;

  • Face a isso, essa proposta foi reiterada em novo documento enviado à Administração da CGD em 22 de Março de 2017.  Este documento obteve o mesmo o resultado – ausência de resposta.

  • Face a ausência de qualquer resposta, o STEC solicitou em Junho de 2017 a reconciliação no Ministério do Trabalho com base no Código de Trabalho;

  • Em 17 de Julho de 2017, realizou-se a primeira reunião de conciliação no Ministério do Trabalho, à qual a CGD não compareceu.

  • Em 18 de Setembro de 2017, realizou-se uma nova reunião no Ministério do Trabalho, já com a presença da CGD, onde esta informou da sua indisponibilidade em proceder a atualizações salariais em 2017 e da sua intenção em denunciar o AE em Outubro de 2018.

  • Em Nov.2017, realizou-se uma reunião com o presidente do conselho de administração executivo da CGD, em que este manifestou mais uma vez a indisponibilidade da CGD para atualizar as remunerações em 2017 com a justificação de que tinham sido feitas promoções.

  • Em Jan.2018 realizou-se nova reunião de conciliação no Ministério de Trabalho em que o diretor de recursos Humanos da CGD apareceu sem qualquer proposta propondo nova reunião para Março de 2018.

  • Com o objetivo de superar a situação de impasse, o STEC apresentou uma nova proposta de atualização dos trabalhadores da CGD tendo como base já o ano de 2018.

Se juntarmos a tudo a ausência de apresentação aos trabalhadores da CGD de objetivos claros a nível comercial e ajustados à realidade de cada região/local, assim como dos meios para os atingir, e para o seu envolvimento, e da sua substituição por ameaças e pressões para vender, fica assim claro que houve, até a este momento, uma incapacidade da gestão para envolver e motivar os trabalhadores para a recuperação da CGD que é urgente corrigir. Tudo isto revela um comportamento que não se adequa a um banco público cujo acionista único é o Estado, de que ele não se pode desresponsabilizar como está a fazer.

Declarações públicas recentes de Paulo Macedo de que os trabalhadores seriam compensados parece que isso começou a constituir uma preocupação para a atual administração. Esperemos que seja assim, mas só os factos futuros mostrarão se isso efetivamente é verdade e acontecerá.

Eugénio Rosa

17-2-2018

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